Sou daqueles que pensa que uma pandemia é uma pandemia. Ponto final. Não se decreta uma pandemia à escala global por dá cá aquela palha e penso que a coisa é séria e para ser levada a sério. Com raras excepções, nos meus contactos com pessoas amigas, outras mais ou menos conhecidas e inclusivé, no contacto com alguns profissionais de saúde, tenho constactado com estupefação que o anormal sou eu. Recebi inclusivé, na minha caixa de correio, um convite do senhor Presidente da Câmara Municipal de Loulé, para me juntar aos milhares de pessoas que compareceram na magnífica Noite Branca louletana, a que inconscientemente respondi, com a minha presença.
Toda a minha gente me diz que isto é tudo alarmismo e que isto é uma mera gripe como as outras e que o máximo que acontece é irmos uns dias à caminha e que tudo ficará como sempre foi. Numa reunião de pais, num infantário, em que estive presente, uma das mães afirmou que a gripe era uma "moda" e perante uma sugestão minha, de se colocar frascos de desinfectante, para que todos os pais e mães, todos os dias, à entrada e à saída do infantário, lavarem as mãos, senti aquele "gozo" que todos sentimos quando percebemos que os outros acham que nos estamos a armar em chico-espertos.
Aconteceu ontem a primeira vítima mortal, de um candidato do CDS/PP às autárquicas. A relação é directa. Segundo parece não estava debilitado, nem doente de coisa nenhuma. Foi a gripe a causa de morte. A partir de agora os valentes portugueses que comigo contactam vão passar a estar mais preocupados.
Dizia hoje no jornal Público, o ex-director do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, um reputado virulogista, que "está mais preocupado com as pessoas que acham que pandemia não é grave que com excesso de alarmismo". E refere com elevada lucidez "para qualquer pessoa não é indiferente que morram mil portugueses ou dez mil".
Acho admirável que se ache que uma pandemia é uma coisa "normal" como qualquer outra. Acompanhado do movimento de individualização crescente que nos faz estar virados cada vez mais para nós próprios. Acompanhado do crescimento do mito da eterna juventude, que pode durar hoje quase até ao fim das nossas vidas, parece-me estarmos agora em presença, do sentimento sempre pujante, da imortalidade.
Aconteça o que acontecer à nossa volta, isso não é nada connosco. Ou é lá fora, no "estrangeiro", como tantas outras vezes, com outras desgraças que vamos "observando", ou se é cá dentro, isso é uma coisa que só pode acontecer aos outros. Eu, sem andar alarmado e nem querer alarmar ninguém, ando deveras preocupado. Parabéns à ministra Ana Jorge e ao Ministério da Saúde pela forma como têm lidado com a pandemia e sobretudo, pela forma como se têm relacionado com a comunicação social e informado a população que servem. Sem alarmismos e sem optimismos. Com muito realismo. É que uma pandemia está muito para além de uma epidemia. Passem pelos Anais da História e consultem o que foi a Gripe Espanhola. Vão ver como a morte saiu à rua. Em massa.
Bom post e uma boa lição para os que acham que isto foi invenção que partiu sabe-se lá de onde e que não é preciso tomar medidas pois é mais uma gripe igual à sazonal do ano passado e o outro e mais do outro. Já tenho encontrado algumas pessoas que do alto da sua ignorância se riem quando nós, os que têm algum receio porque afinal são as nossas vidas que podem estar em jogo e uma pandemia não pode gerar apenas simples constipações.
ResponderEliminarOu o mundo teria todo enlouquecido e só meia dúzia de espertos como a pessoa que o seu post refere é que teriam razão. E oxalá que o vírus não dê um «trambolhão»transformando assim milhões de vacinas numa inutilidade. Um bom domingo escutando a "Inquietação" do JMB. Devemos ter afinal alguma inquietação quer quanto à gripe quer quanto a tudo o que nos rodeia. É sinal de que estamos álerta. Palma
Olá Palma,
ResponderEliminarUm bom resto de Domingo! Bom casamento lá para os lados da Louletania...
Abraço
João Martins