A minha Lista de blogues

quinta-feira, junho 30, 2011

Do Fascismo Financeiro Austeritário

Governo corta subsídio de Natal em 50%.

Palavras-Chave

Reduzir. Emagrecer. Cortar. Despedir. Encolher. Privatizar. Empobrecer. Excluir. Sacrificar. Consolidar. Mercadorizar. Fazer mais com menos. Austeritar. Ajustar. Resgatar. Receber. Diminuir. Fundir. Controlar. Comer. Calar.

Trabalho e Reconhecimento

Tenho esta mísera sensação que quanto maior é a exigência e o investimento no trabalho, menor é o seu reconhecimento pelos outros, mais caótica é a conciliação entre a vida familiar e a profissional e mais perto se anda da depressão e da loucura. É claro que estas impressões digitais mereciam ser objecto de estudo aprofundado. Quem precisa de subsídio de Natal? Às vezes tudo se resolvia com mais um pouco de reconhecimento e estima.

É Preciso Mudar Alguma Coisa Para Que O Dominó Se Possa Manter de Pé



George Soros considera "provavelmente inevitável" que a Europa crie um mecanismo para permitir às economias mais fracas a saída da zona euro.

Aqui:
http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=1889640&page=-1

terça-feira, junho 28, 2011

Vai a Democracia Resistir ao Capitalismo?

Greve geral e batalha campal na Grécia



Cidadãos gregos lutam em frente ao Parlamento Grego contra a aparelho repressivo de Estado e contra o fascismo financeiro austeritário. A Europa já estava a ser feita não poucas vezes nas costas dos cidadãos e contra os interesses dos cidadãos. Hoje, a Europa reduzida à defesa da financeirização da economia global faz-se pela imposição autoritária dos interesses do capital financeiro de forma violenta contra os cidadãos europeus. É óbvio que não vai dar certo. É mais que óbvio.

segunda-feira, junho 27, 2011

Da Menorização da Cultura em Época de Bancarrota

Gabriela Canavilhas, ex-ministra da Cultura (para quem não tenha dado por isso) foi ainda há pouco à TVI 24 mostrar a sua indignação pelo facto da cultura ter sido despromovida a uma mera Secretaria de Estado. Gabriela Canavilhas tem toda a razão. Trata-se de uma despromoção da importância política da cultura. O que é novamente rídiculo é ser a ex-ministra que deixou a cultura desfalecer (uma tendência que de resto já vinha de trás) estar agora arreliada com a despromoção ministerial da cultura. Vale a pena invocar Fernando Pessoa, cartas de amor são rídiculas.

Jornalismo de Incubação Neoliberal

Acabo de ouvir no jornal dantes nacional da TVI a droika que habitava a direcção de informação da RTP. José Alberto Carvalho em Portugal e Judite de Sousa em directo de Atenas a dizerem aos portugueses que a culpa da situação da Grécia é exclusivamente dos próprios gregos. A estratégia é conhecida e trata-se de consciente ou inconscientemente transformar a vítima em culpado.

A história da carochinha é deveras maniqueísta. Os Gregos são incapazes, incompetentes, preguiçosos e não se comportam bem como a Troika do FMI, BCE e CE os aconselha. Nada disto é novidade para ninguém vindo do etnocêntrico e poderoso olhar do centro da Europa. Já começa a ser ridículo quando são os próprios PIGS a rotularem-se uns aos outros dessa maneira. O final deste racícinio já sabemos onde vai parar: - Portugal não é a Grécia e os portugueses nada têm que ver com os gregos.

Não deixa de ser engraçado que o jornalismo de incubação neoliberal que ainda há pouco tempo sob o jugo do poder socrático atríbuia a crise a factores "externos", a crise era da "situação internacional", vá agora para a Grécia fazer reportagens onde atríbui a culpa a factores "internos", o mesmo é dizer, aos próprios Gregos. Para esta gente que nos lava o cérebro à hora do jantar, não há capitalismo selvagem, economia de casino, predação neoliberal, desigualdades de condição económica ou outras, agências de rating e políticos passadeira rolante a deixar o "mercado" devastar milhões de vidas humanas e Estados nacionais. Nada disto existe no vocabulário jornalístico convencional. Existe o bom, inevitável e inquestionável plano da troika e pessoas obedientes para o pôr em prática. Para além disto tudo, o resto é desvio e malandragem. Olha se não vivessemos na era da internet.

domingo, junho 26, 2011

Parque Municipal de Loulé



19h30 mn - Estava na hora de vestir uns calções e uma t'shirt, calçar uns ténis, agarrar nas crianças e ir até ao Parque Municipal de Loulé. É o segundo verão em que tal não é possível. A arrogância de quem governa Loulé, trata os cidadãos assim. Fazem-se consultas públicas como manda a lei burocrática da República, para ficar tudo dentro da "legalidade" democrática de que tanto gosta o dr. Emídio e em seguida destrói-se de alto a baixo um parque natural de excelência (para "requalificar") que muda literalmente a qualidade de vida das pessoas, sem lhes passar o mínimo de cartão.

Não passará pela cabeça do dr. Emídio (mais uma vez) que alterar de alto a baixo a qualidade de vida de quem usufria do parque, durante anos, seja um acto político abusivo na gestão da coisa pública. Das duas uma: - Ou não há dinheiro para acabar a obra e então ela não devia ter sequer avançado, ou então, podemos levantar aqui a hipótese, não negligenciável, à luz do que foram os mandatos locais anteriores, de que ela vai estar acabada mais ou menos em vésperas de eleições autárquicas, como é do costume.

Seja como for, não deixa de ser mais um sinal de uma magnífica incompetência na gestão autárquica municipal. Mas também não haverá problema algum, porque depois da inauguração da coisa aparecida, todo o bom povo louletano (à esquerda e à direita) vai bater palmas (a pequena burguesia louletana, resultante de alguma mobilidade social ascendente das últimas décadas, desde que tenha um bilhete de borla, para se passear no Festival MED, está confortada no seu ego), mesmo que aconteça o mesmo que está a acontecer com o Cine-Teatro Louletano, em que este está a ter a função de um museu tipo relíquia. Representados em quem? Mais representação tem a Mãe Soberana, que Deus me perdoe tamanha heresia.

PS: Num próximo post sobre Loulé vou abordar o Jardim dos Amuados, ou melhor, do que ainda resta dele. Outro magnífico exemplo da preservação dos espaços verdes louletanos.

Auditar a Dívida

Auditar a dívida. Verificar o que é dívida odiosa, ilegítima ou mesmo ilegal. Por exemplo, a que resulta das vigarices do BPN que a paguem os que tiveram envolvidos na dita vigarice. Que se prenda quem tiver que ser preso. Que o Estado pague apenas a dívida legal, legítima e moralmente aceite. Sem uma auditoria à dívida que não se peçam legitimidades aos sacríficios pois nestas condições eles não estão legitimados.

sexta-feira, junho 24, 2011

Deptocracy



Excelente documentário sobre a crise da dívida austeritária Grega.

PS: Agradeço ao César a dica da versão espanhola e ao Sérgio a dica sobre a versão portuguesa. Troquei a versão espanhola pela portuguesa. Aqui fica o fascismo financeiro austeritário em português para todos.

quinta-feira, junho 23, 2011

Ajudar Os Bancos Para Que Eles Retribuam Com O Fascismo Financeiro Austeritário Através da Troika

"A UE está tentar evitar uma repetição da crise financeira que se seguiu ao colapso do banco Lehman Brothers, em 2008, e que culminou com os governos europeus a disponibilizarem mais de 5 biliões de dólares (3,4 mil milhões de euros) para ajudar os bancos."

Aqui:
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/ultima-hora/trichet-alerta-para-ameacas-de-contagio-a-banca

quarta-feira, junho 22, 2011

Do Fascismo Financeiro Austeritário

O cão grego - O símbolo da resistência



Na Grécia continua a tragédia grega em torno do fascismo financeiro austeritário. Durão Barroso, líder português (ironias do destino) da Comissão Europeia, um dos representantes máximos da alta finança europeia e o FMI, um dos representantes máximos da alta finança mundial, ameaçaram literalmente os Gregos de que se não puserem em prática o plano do fascismo financeiro austeritário da Troika a represália é a bancarrota.

Os últimos desenvolvimentos do fascismo financeiro austeritário vão no sentido da culpabilização das vitímas em culpados e da transformação dos responsáveis maus, em polícias bons. O governo Grego conseguiu suspirar de alívio face à votação favorável da moção de confiança. O austeritarismo recessivo recebeu ordens para avançar.

Na rua, os gregos continuam os protestos. Há um magnífico símbolo que ficará para a História Universal do início do segundo milénio sobre o fascismo financeiro austeritário. O cão grego é o simbolo da revolta dos gregos e talvez venha a ser, à imagem do homem do tanque, na Praça de Tiananmen, o símbolo da resistência ao ciclo vicioso depressivo da austeridade recessiva.

segunda-feira, junho 20, 2011

Da Democracia Morta à Democracia Viva



Boaventura Sousa Santos na Acampada de Lisboa.

Indignados em Madrid 19 de Junho e Um Pouco Por Toda a Europa...

Do Fascismo Financeiro Austeritário

Grécia, 15 de Junho de 2011



Os gregos sabem que o dinheiro proveniente dos "resgates" não se dirige para a economia "real", a da vida de todos os dias, mas directa ou indirectamente para a banca. A austeridade recessiva obriga a mais baixa de salários, aumento de impostos e privatização da chicha boa do Estado em troca de piores condições de vida para a generalidade da população. Se isto não é um dos mais criminosos roubos da história da humanidade, o que é isto?

domingo, junho 19, 2011

Notas Soltas Dos Tempos Que Correm

1. A Câmara do Dr. Emídio - Parece que a Câmara do dr. Emídio desperdiçou uns largos milhares de euros em relação aos custos de uma creche recentemente construída algures no concelho de Loulé. A imprensa noticiou a coisa e a coisa foi comentada pelo dr. Emídio. Para este santo homem, abençoado certamente pela Mãe Soberana, quando esta lhe para à porta e lhe faz uma vénia à janela, tudo não passa de um problema de legalidade. Não lhe passa pela cabeça que o desperdício de recursos públicos em época de miséria e de fome massiva esteja imbuído de um problema de moralidade. Parece que segundo o dr. Emídio, para os lados da CML, é "normal" não se estudar os solos antes de levar a cabo obras “em zonas que se pensa que são perfeitamente conhecidas, no centro da cidade”, mesmo que isso signifique dar um tiro no escuro com o dinheiro dos contribuintes. É assim como se Hipócrates mandasse operar um doente sem lhe fazer o diagnóstico médico. Tudo a olho nú, portanto.

2. Os candidatos a futuros juízes - Os candidatos a Juízes foram apanhados a copiar nas provas do CEJ, em massa. Os responsáveis num primeiro momento reagiram e atribuiram nota de dez valores a todos os batoteiros e até aos que não fizeram batota. Acontecesse uma coisa destas no âmbito da Iniciativa Novas Oportunidades e caia em cima de nós o Carmo e a Trindade. Como quem se candidata a juiz são os filhos da burguesia, tudo não passou de uma contigência do momento.

3. O novo governo - Temos novo Governo. Não vou comentar sobre as pessoas que existem nos governantes mas sim sobre a ideologia que habita dentro deles. Está aí o governo mais liberal da história da democracia portuguesa. Temo que neste momento sejo tudo aquilo que Portugal menos precisa. Como sempre, quem chega não percebeu que o voto nas urnas significou sobretudo o despejo de quem partiu. Vamos ver como se dá um governo assim com a conflitualidade social que por aí se adivinha.

sexta-feira, junho 17, 2011

Uma História Alemã

Depois de perder duas guerras e ser sujeita a tratados que, entre outras coisas, transformavam a derrota em dívidas, a então Alemanha Ocidental estava em 1953 na bancarrota. Reunidos em Londres, os credores aceitaram perdoar parte da dívida reduzindo o seu stock em 62%. Acordaram também que os juros a pagar aos credores seriam definidos em função da capacidade da economia alemã para os suportar sem comprometer o seu crescimento. Assim, foi definido um rácio entre o serviço da dívida e o valor anual das exportações nos termos do qual o serviço da dívida não podia exceder 5% daquele valor. Aliás, a definição anual dos juros foi confiada a um banqueiro alemão muito respeitado. Tratou-se, como é evidente, de uma solução política em que não se ouviu falar das "reacções dos mercados". A justificar esta solução estava o interesse dos países capitalistas ocidentais em mostrar, no contexto da Guerra Fria, a capacidade de o capitalismo garantir à Alemanha Ocidental um êxito igual ou superior ao que se temia ser o bloco soviético na Alemanha Oriental, socialista.

Boaventura Sousa Santos, Portugal - Ensaio Contra A Autoflagelação, Coimbra, Almedina, 2011, pág. 94.

quinta-feira, junho 16, 2011

Não Sou Grego Nem Ateniense Sou Cidadão do Mundo



A situação na Grécia está insustentável. O país está à beira do colapso financeiro e os políticos europeus responsáveis pela desgraça especulativa da vida humana e defensores do fascismo financeiro austeritário estão à beira de um ataque de nervos com o mais que provável efeito dominó. Um dado interessante é o braço de ferro que começa a acontecer entre a União Europeia e o BCE, com vozes que apelam à responsabilidade dos credores privados pela assunção de parte dos pagamentos das divídas dita "soberanas"(uma designação absurda digna da novilíngua orwelliana) e o BCE a manter a posição fascista de sempre na defesa dos credores privados. Sarkozy saiu hoje a terreiro a pedir ajuda a si próprio. A metáfora que melhor define a Europa de hoje é a do castelo de cartas em desiquilíbrio constante. As televisões portuguesas começam agora a abrir os telejornais com o descalabro associado ao caminho da bancarrota. A "realidade" real é sempre mais forte do aquilo que nos querem impôr que ela seja. Existisse pluralidade de opinião no espaço dos media nacionais e talvez não tivessemos chegado onde agora nos encontramos. Talvez já seja tarde demais para impedir que aconteça uma desgraça colectiva. Sócrates, entretanto, parece que vai estudar filosofia. No tempos que correm já não é o filósofo que quer ser rei, é o rei que aspira a ser filósofo.

Vai a Democracia Resistir ao Capitalismo?



Em Barcelona, os indignados espanhóis cercaram o parlamento em protesto contra a redução das "despesas" sociais com a saúde, a educação e outros direitos sociais. O Presidente do Governo Regional teve que entrar no parlamento de helicópetro e os deputados foram avisados que se quisessem regressar no dia seguinte que se juntassem ao lado de quem está contra o austeritarismo recessivo. Na Grécia os protestos contra o fascismo financeiro austeritario intensificou-se e quem pensa que a revolução é uma coisa de uns árabes "incivilizados" do lado subdesenvolvido do mundo e que Portugal não é a Espanha nem a Grécia, desengane-se. Os banqueiros via presidente da Caixa Geral de Depósitos já deram ordem de guerra. Eles sabem bem o que está aí a chegar. A guerra chegou e é de classes. Marx afinal não era nada parvo.

Ver por exemplo aqui:

terça-feira, junho 14, 2011

Do Fascismo Financeiro Austeritário

Notícias da semana. Todas elas em torno do fascismo financeiro austeritário (não encontro outro nome para a acção ou inacção política que dizima a vida quotidiana de milhões de pessoas num ápice). A Standard & Poors pôs o rating da Grécia no nível mais baixo do mundo (CCC), abaixo de lixo, portanto. Os juros da dívida portuguesa bateram recordes históricos e são segundo declarações dos responsáveis do FMI há alguns meses atrás impagáveis (recorde-se que para o FMI juros acima dos 7% são insustentáveis). Desfez-se também um mito. A Bélgica não tem governo há 365 dias, tudo sem que a instabilidade política tenha tipo repercussões económico-financeiras (para já) tipo Grécia, Portugal ou Irlanda. Em Portugal, a estabilidade política, aparentemente, não serviu de nada. Os juros atingiram os valores mais altos de sempre. Parece que o problema são mesmo os abutres especuladores do sistema financeiro mundial. Para Portugal e a Grécia a bancarrota é cada vez mais um destino provável. O euro já teve melhores dias e a União Europeia talvez seja uma passagem utópica efémera na história da relações inter-estatais à escala mundial. A rua, só a rua pode trazer melhores dias. Não é sequer um desejo, talvez seja mesmo uma realidade.

domingo, junho 12, 2011

A Câmara do Dr. Emídio

Parece que o dr. Emídio já só tem verbas para fazer as pequeninas obras. Não lhe passou pela cabeça enquanto andou entretido a organizar festanças nas ruas da cidade, a fazer "requalificações" que são um autêntico desperdício de dinheiros públicos, abatendo as árvores do concelho a torto e a direito, que isto ia acabar assim.

Também não lhe terá ainda ocorrido em acabar com os desperdícios dessas misteriosas empresas municipais que tanta falta fazem ao concelho de Loulé, uma delas altamente especializada em gerir parquímetros de estacionamento sem os quais não se atingiria certamente o hiper desenvolvimento económico da cidade e muito menos ainda terá pensado na redução da distribuição de recursos para as clientelas de sempre, ali para os lados de Vilamoura. Não deixa de ser irónico que em época de bancarrota se tenha decidido pôr de lado uns largos milhões de euros para "requalificar" os pavimentos, as estradas e avenidas da marina.

Entretanto, imagino que vou ficar mais um Verão sem poder levar as crianças ao Parque Municipal, porque segundo parece, o dinheiro que não existe, não faz andar para a frente a "requalificação", para usar as palavras de um distinto vereador, do "pulmão da cidade".

Perante um cenário deste tipo, o que tem feito a oposição? Nada. O PS andou encarneirado atrás do engenheiro Sócrates. o PCP e o CDS não sei por onde andaram e o Bloco sozinho pouco pode fazer. Os cidadãos de Loulé agradecem tanto empenhamento dos partidos políticos. O dr. Emídio agradece também.

Vai a Democracia Resistir ao Capitalismo?



Em Madrid, mais um protesto contra a política do austeritarismo recessivo e mais uma carga policial despropositada. Vai a democracia sobreviver ao capitalismo na sua forma mais selvagem?

sábado, junho 11, 2011

O Regresso da Claustrofobia Democrática?

"Tal como Fátima Felgueiras e Isaltino Morais, Cavaco Silva acha que uma vitória eleitoral elimina todas as dúvidas sobre negócios que surgem nas campanhas".

Este foi o excerto que fez com que Cavaco Silva tenha processado criminalmente o jornalista director da revista Sábado. Tem razão Joana Amaral Dias, quando pensávamos que livres de Sócrates a democracia portuguesa aumentava o seu grau de sanidade, pasmamos. A politica censória continua por aí. Primeiro a censura moral dos abstencionistas retirando-lhes legitimidade na crítica política, agora a justiça como forma de mordaça política. Não há democracia que resista a estas concepções de democracia.

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/opiniao/joana-amaral-dias/eu-tenho-um-pesadelo

Comunicação, Poder e Democracia (II)

Manuel Castells na acampada de Barcelona

Aplicar o Plano da Troika e Buscar a Salvação No Reino dos Céus


O que mais me impressiona é esta hegemónica crença que se fizermos tudo certinho tal como está delineado no plano da Troika encontramos a salvação no reino dos céus. Impressiona, a sério que impressiona.

Pode ver o remédio santo aqui:
http://www.esquerda.net/sites/default/files/Medidas_PT_07-06-2011_0.pdf

sexta-feira, junho 10, 2011

É Preciso Continuar a Dizer Não à Introdução de Portagens na Via do Infante

A vitória na eleições legislativas de 2011 por parte do PSD não pode legitimar todos os desvarios dos políticos que representam o Algarve. Dr. Mendes Bota, os algarvios não querem portagens mais baratas do que no resto do País. Os algarvios não querem a introdução de portagens na Via do Infante. Esta é uma luta que não pode ser derrotada por este governo de direita. A introdução de portagens na Via do Infante não é uma questão de esquerda ou de direita, é uma questão de bloqueamento do desenvolvimento económico e social do Algarve. A Comissão de Utentes da Via do Infante não pode desistir desta luta. É o interesse de toda a população do Algarve que está em jogo. A direita conservadora e alguns dos jornais do Algarve que se preparam para redefinir os apoios políticos a quem agora subiu ao poder já deram o mote. Transformar a luta contra as portagens num pagamento de menor valor e legitimando a decisão através da "absurda" ideia de requalificação da EN 125. O Algarve não pode cair na esparrela. A legitimidade eleitoral através do voto não faz valer tudo. Da nossa parte estaremos sempre na linha da frente no apoio à Comissão de Utentes da Via do Infante.

O Bloco de Esquerda: Da Crise de Crescimento à Crise de Encolhimento

1. O aparecimento do Bloco de Esquerda foi uma lufada de ar fresco na vida política portuguesa. Não só porque se propunha introduzir uma nova forma de fazer política distante da lógica partidária e muito próximo da ideia de movimento social, mas também pelas questões inovadoras que introduziu na agenda política. Defesa da interrupção voluntária da gravidez, direitos das minorias, defesa dos valores ambientais, etc, etc. Com um discurso claro e sedutor, centrado nos valores da democracia, da igualdade e da justiça social, o Bloco, impulsionado por alguns intelectuais orgânicos bem posicionados no espaço mediático português conseguiu um crescimento rápido do partido, o que lhe permitiu adquirir uma expressão nacional que no seu expoente máximo lhe assegurou uma representação parlamentar de dezasseis deputados da nação.

2. Como tudo o que cresce se complexifica, o Bloco de Esquerda deparou-se aqui com um dos seus principais desafios, precisamente o de resistir à tentação de se tornar num aparelho partidário burocrático com todos os tiques inerentes à típica lei de ferro da oligarquia dos partidos. Através de estratégias como a rotação parlamentar o Bloco foi tentando não se tornar, ou aparentar não se ter tornado num partido tradicional como qualquer dos outros com representação já fortemente institucionalizada na Assembleia da República nacional. Não o conseguiu. O Bloco já é um partido com uma lógica directória intrinsecamente partidária. Não vem daí mal ao mundo se tiver a lucidez de controlar alguns dos eventuais efeitos perversos "naturais" à lógica de uma organização cuja finalidade é manter o poder interno e tomar de assalto o poder societal no "exterior".

3. Em Setembro de 2009, Manuel Alegre, "entendeu dar um sinal" em Coimbra de apoio à candidatura de José Sócrates. Começava aqui um dos maiores rombos do Bloco de Esquerda desde o início da sua vida partidária. Alegre, que sempre tivera um discurso socialista à "esquerda" dentro de um partido que apesar de se dizer "socialista" governava claramente à direita e que para alguns dos militantes do PS era mesmo já tido como persona non grata, abraçava neste dia as desastrosas políticas neoliberais do governo de Sócrates. O resto da história é conhecido. Francisco Louçã, na candidatura das Presidenciais seguintes viria a dar o seu apoio ao homem que acabara de legitimar o caminho desastroso que nos levaria à bancarrota, com a agravante de ter que vir a fazer campanha ao lado de Sócrates. Pode sempre a direcção bloquista (e Daniel Oliveira) argumentar que o apoio era ao homem isolado e não às políticas do partido que o apoiava que isso será sempre contar apenas um dos lados da coisa. Estou plenamente convencido que se o Bloco tem seguido o seu caminho e apresentado o seu candidato próprio tinha construído uma história de coerência que evitaria o seu estádio actual de crise de encolhimento.

4. Mas o Bloco também não se conseguiu libertar das armadilhas montadas pelo grupúsculo que girou em torno de Sócrates. De resto um grupúsculo com elevado sentido de tacticismo político só ao alcance dos leitores do tratado de Maquiavel. José Sócrates agarrou a agenda em torno da política dos "valores" do Bloco, esvaziando uma boa parte da sua razão de ser. Não estou convencido que a aparente defesa de Sócrates em torno do casamento dos homosexuais fosse verdadeiramente genuína. Ela aparece num momento em que o PS já ia perdendo o seu vigor e legitimidade. Não tivesse existido Miguel Vale de Almeida e não teria havido tão cedo casamento homossexual em Portugal. Agarrando as causas inovadoras do Bloco de Esquerda, Sócrates arrumou pelo menos temporariamente com uma parte dos eleitores do Bloco. Restava agora a defesa dos direitos dos trabalhadores, o desemprego, a precarização. As causas do Partido Comunista...

5. Uma outra armadilha em que o Bloco se deixou enredar foi o de se deixar rotular como um partido "radical". As palavras que nomeiam o mundo social são fundamentais para a construção desse mundo social. O acto de nomeação não é nunca um acto neutro. É sempre um acto profundamente político. Como sabem bem todos os políticos inteligentes não é a mesma coisa dizer "esquerda moderna", "esquerda da esquerda", "esquerda grande", "extrema-esquerda" ou ainda "centro-esquerda". O acto de nomeação da realidade constrói uma representação social sobre essa mesma realidade e o Bloco caiu na armadilha "radical" inventada pelo grupúsculo de Sócrates e bem reproduzida de forma mais consciente ou menos consciente pela conservadora comunicação social portuguesa, parte dela interessada na divulgação dessa mesma representação. Quem viu o debate que Francisco Louçã perde para Sócrates em 2009 sabe bem como este o "tramou" com a ideia de que o Bloco ia nacionalizar todo o "mercado" nacional.

6. Depois veio a moção de censura e estou convencido que o Bloco fez bem em avançar com a dita cuja. O problema foi a forma e o processo em torno do qual a coisa foi feita. Uns poucos dias antes da apresentação da moção, o Bloco não queria dar o poder à direita e uns dias depois mandou mesmo o governo dar uma curva ao encontro da Troika. Mais uma vez havia aqui desnorte e incoerência. Querendo chegar ao poder e não percebendo bem como o fazer, o Bloco passava aqui pela sua maior indefinição ideológica. Veio depois a ausência de negociação com o FMI/BCE/CE que num país ainda do respeitinho foi encarado como uma afronta. A mesma comunicação social hiperconservadora não deixou de aproveitar para trocidar o Bloco e o PCP. Não legitimar a intervenção da Troika e por consequência o austeritarismo recessivo que a mesma representa não coube no espaço do pensável da elite conservadora nacional. Se a posição de fundo eu não posso deixar de estar com ela, do ponto de vista político foi mais um rombo eleitoral. Talvez não tivesse vindo mal ao mundo, à semelhança do que fez Carvalho da Silva, ir a jogo marcando a posição no lado oposto do jogo.

7. O Bloco de Esquerda é hoje um partido fundamental à democracia portuguesa e é crucial para a evolução da esquerda portuguesa. Se o Bloco não pode prescindir de alianças com um outro PS no futuro, o PS também não terá facilidade em chegar ao poder se não fizer aproximações ao Bloco de Esquerda. O PCP terá que ser também um importante parceiro do jogo. As lutas que se avizinham são gigantescas e não se compadecem com sectarismos e isolacionismos de esquerda. Se a esquerda não encontrar maneira de fazer pontes, os responsáveis pela crise passar-se-ão sorridentes pela devastação da crise. A crise é de uma dimensão brutal e o sorriso da direita já está a acontecer por cima dela.

8. Última nota ainda para o Bloco. É altura de reflexão, crítica, abertura, discussão, correcção de erros e de estratégias. Se o Bloco fizer o que fazem todas as maquinas partidárias solidamente instituídas e empurrar o debate e a reflexão para o directório do partido não se livrará da aproximação ao que de pior existiu no PS de Sócrates. E não haveria necessidade.

quinta-feira, junho 09, 2011

Tempos Difíceis Para a Reinvenção Socialista

1. Miguel Freitas, líder da distrital socialista do Algarve, um seguidor acrítico do governo de Sócrates já tomou posição nas reconfigurações de poder no interior do partido socialista. De seguidor acrítico das políticas de Sócrates passa a fiel depositante do opositor de Sócrates no partido. Quem disse que as concepções político-ideológicas ainda contam para alguma coisa nas estratégias do líderes partidários? Na hora das derrotas mais estrondosas a gente boa pode sempre dizer que a culpa é das portagens na Via do Infante. As imagens televisivas de Freitas atrás de Seguro em noite de expectativa sobre o anúncio de candidatura à liderança do partido dizem mais do que mil palavras.

2. João Soares, acha injusto a votação do PS no Algarve. Eu acho muito injusto que João Soares seja a figura eleita pelo Algarve no Parlamento Nacional. Nada pessoal me move contra Soares, apenas acho que o sentido político de uma candidatura deste tipo é zero. Os resultados eleitorais pelos vistos também andam perto disso.

3. Francisco Assis apresentou a sua candidatura em nome da "continuidade e da mudança". O mesmo é dizer querer ter o bolo e comê-lo. E será que Assis falava de continuidade na mudança ou de mudança na continuidade? Fiquei sem perceber muito bem isso. Seguro apresenta-se em nome, para utilizar as palavras de Miguel Freitas, de uma "esquerda moderna". Mas essa "esquerda moderna" não era a esquerda de Louçã? Ou seria a de Sócrates? A "esquerda moderna" é esse neoliberalismo de rosto humano que Blair e Zapatero puseram em prática? Ou é outra coisa diferente disso?

Jumentos, Conquilhas e Câmaras Corporativas, Tudo Vozes dos Outros

Será que "eles" não percebem que em boa parte na origem do descalabro socialista estiveram coisas blogosféricas como estas? Ataques pessoais, ataques pessoais e mais ataques pessoais. Uma forma indecente de estar na política. Será que não há a mínima capacidade de parar para pensar e olhar ao espelho? Será possível que se pense que em cada cidadão há um jumento incapaz de perceber que sob a capa da voz dos outros se esconde a voz do dono? Vão continuar a fazer o mesmo agora na oposição? Terá a concepção de política como seita vindo para ficar?

http://asvozesdosoutros.blogspot.com/

terça-feira, junho 07, 2011

Comunicação, Poder e Democracia (I)

Manuell Castells na Acampada de Barcelona

segunda-feira, junho 06, 2011

Estado Capturado e Crítica Castrada

João Cravinho está na TVI 24 a dizer que o Estado está capturado pelo poder económico em Portugal, tanto nos governos do socialismo de Sócrates, como nos governos do PSD. Fala, evidentemente, de corrupção no aparelho de Estado. José Miguel Judice, o seu interlocutor, diz que ainda quer crer que é ingénuo e que o governo dos últimos seis anos não esteve capturado pelo poder económico. Cravinho respondeu que não está convicto disso. Cravinho tem razão. Pena é que Cravinho tenha andado desaparecido durante uns bons tempos do espaço da opinião publicada. Estes (auto?) desaparecimentos foram ruinosos para a vitalidade do partido socialista. A minha homenagem a Ana Benavente e Manuel Maria Carrilho. Tal como Galileu Galilei, que foi condenado pela sua convicção heliocentrica que defendia ser a Terra a mover-se em volta do Sol, ficou provado que eram Benavente e Carrilho que tinham razão. Afinal a Terra não está no centro do universo e o pensamento em rebanho pode ser desastroso. Saberá o PS tirar desta experiência a devida lição?

Eduardo Galeano sobre o FMI, o Banco Mundial, a OMC e a Comunicação Incomunicante



Obrigado ao Sérgio Ribeiro pelo envio do link.

domingo, junho 05, 2011

Rescaldo Eleitoral

1. As eleições legislativas de 5 de Junho 2011 foram ganhas novamente pela dona abstenção. A fazer fé nas afirmações do "democrata" Cavaco Silva, mais de 40% dos portugueses não tem legitimidade para criticar o actual governo. A democracia a partir de agora, segundo o senhor Presidente da República, fica reduzida a pouco mais de metade dos eleitores. Em época de pré-bancarrota não deixa de ser um sinal de fragilidade para enfrentar a tempestade que aí vem. Por outro lado, elimina desde logo a legitimidade de uma boa parte da crítica política à política do austeritarismo recessivo implementado pela Troika. Não deixa de ser uma obra de arte produzida pelo Presidente da República de Portugal. Quem disse que de Boliqueime não podiam sair boas ideias está redondamente enganado.

2. O PS perdeu as eleições legislativas de 2011. Oficialmente ganhou o PSD com um número de votos que não chegam à maioria absoluta e teremos portanto um governo de direita PSD/CDS. Realço a derrota do PS e não a vitória do PSD porque o PSD tudo fez para não ganhar as eleições. Segue-se a tendência de várias das eleições anteriores. Não é quem ganha que efectivamente ganha. Quem perde é que leva uma verdadeira vassourada. De qualquer das formas foi o fim do pior governo do pós-25 de Abril de 1974. Teremos oportunidade de voltar a isto.

3. O CDS desta vez não teve as sondagens contra si mas a seu favor. Desta vez, algumas delas estavam, como de resto sempre suspeitei, sobrestimadas. Não deixa de ter um bom resultado e vai ser um importante parceiro participante do jogo do poder.

4. O Bloco de Esquerda teve um péssimo resultado. Não deixa de ser irónico que em época de ruptura desastrosa do capitalismo a esquerda esteja incapacitada face à realidade dos acontecimentos. Tenho duas hipóteses especulativas que entre outras podem ajudar a interpelar a quebra eleitoral. A primeira, o apoio a Manuel Alegre e ao partido que se dizia socialista ia destruindo liminarmente o partido. Eu próprio, um potencial eleitor votante no Bloco abstive-me nas eleições presidenciais. Alegre, nesta campanha que agora terminou, afirmou mesmo que para passar por cima de Sócrates tinham que passar por cima da sua personagem. Uma parte significativa dos eleitores do Bloco de Esquerda, fortemente escolarizados e urbanos, são altamente politizados e reagem mal a estas esquizofrenias partidárias. A segunda, que tem a ver com o facto do Bloco ter deixado acontecer a colagem do rótulo de ser um partido "radical", um truque produzido pelo governo do licenciado em Engenharia José Sócrates (um perito em novilíngua orwelliana) e bem agarrado por boa parte da comunicação social portuguesa. Talvez o Bloco com a mesma política e com um novo estilo possa atrair novos eleitores. Pode-se efectivamente fazer política sem ter a necessidade de vestir o facto de guerrilheiro. Mas nada me garante que este seja um factor primordial.

5. O PCP continua firme e hirto que nem uma barra de ferro. Presumo que a ditadura do proletariado e os amanhãs que cantam continuam no reino das utopias mas a democracia portuguesa vai ter que continuar a contar com o Partido Comunista. Ainda bem.

6. Os votos em branco e nulos são mais de metade dos votos do Bloco de Esquerda e ganham a todos os partidos sem representação parlamentar. Deveriam ter direito a pelo menos um deputado.

7. No Algarve, o PS obteve de novo uma estrondosa derrota. Foram eleitos João Soares (um turista de Lisboa) e Miguel Freitas (um seguidor acrítico do governo de Sócrates). No Algarve vai ser difícil haver um PS digno desse nome em tempos próximos. De resto, como parece que vai acontecer com o PS nacional. Em Loulé, não comento. O PS Loulé não existe e nem me parece que esteja muito interessado em existir. Vai "aparecer" certamente para aí um mês antes das eleições autárquicas. Para o "combate", é obvio. O que é preciso é ir a "combate".

8. Hoje, dia 6 de Junho de 2011, voltamos à "realidade" e a "realidade" vai girar em torno das tensões entre a aplicação das medidas do governo da Troika (que não se apresentou a eleições) e a contestação popular de rua. E o drama vai ser a escolha entre democracia e bancarrota. O ideal era evitar a segunda e manter a primeira. Não acredito nisso.

Declaração de interesse: Nas eleições legislativas de 2005 votei no PS e em José Sócrates. A minha mulher avisou-me que não era boa ideia. Passado uns poucos dias o então Primeiro Ministro anunciava o aumento de impostos. Dava-se o início da mentira como estratégia política de manipulação de massas. Um desastre.

Dia Mundial do Ambiente


A esperança num mundo melhor vem de movimentos de amigos como este. No Dia Mundial do Ambiente não vos podia dar melhores referências. Lá longe, aqui tão perto, na defesa da casa de todos nós. Obrigado!

Espreite aqui:

sábado, junho 04, 2011

Do Estado Social ao Estado Policial e Autoritário



Em Lisboa, na acampada do Rossio, hoje, dia 4 de Junho de 2011, o Aparelho Repressivo de Estado, através do dispositivo policial, na defesa dos interesses do capital, sob as bastonadas de orientação ainda socialista, prende três manifestantes em luta pela defesa da "democracia real". Para quem ainda não percebeu o que se está a passar, informa-se: - A democracia está a deixar de o ser.

Ver mais aqui:

Da Farsa à Tragédia



Amanhã acaba a farsa e dá-se início à tragédia.

quinta-feira, junho 02, 2011

Para Além das Eleições

A Pensar Nas Eleições

Nos próximos tempos, as elites conservadoras europeias, tanto políticas como culturais, vão ter um choque: os europeus são gente comum e, quando sujeitos às mesmas provações ou às mesmas frustrações por que têm passado outros povos noutras regiões do mundo, em vez de reagir à europeia, reagem como eles. Para essas elites, reagir à europeia é acreditar nas instituições e agir sempre nos limites que elas impõem. Um bom cidadão é um cidadão bem comportado, e este é o que vive entre as comportas das instituições.

Dado o desigual desenvolvimento do mundo, não é de prever que os europeus venham a ser sujeitos, nos tempos mais próximos, às mesmas provações a que têm sido sujeitos os africanos, os latino-americanos ou os asiáticos. Mas tudo indica que possam vir a ser sujeitos às mesmas frustrações. Formulado de modos muito diversos, o desejo de uma sociedade mais democrática e mais justa é hoje um bem comum da humanidade. O papel das instituições é regular as expectativas dos cidadãos de modo a evitar que o abismo entre esse desejo e a sua realização não seja tão grande que a frustração atinja níveis perturbadores.

Ora é observável um pouco por toda a parte que as instituições existentes estão a desempenhar pior o seu papel, sendo-lhes cada vez mais difícil conter a frustração dos cidadãos. Se as instituições existentes não servem, é necessário reformá-las ou criar outras. Enquanto tal não ocorre, é legítimo e democrático atuar à margem delas, pacificamente, nas ruas e nas praças. Estamos a entrar num período pós-institucional.

Os jovens acampados no Rossio e nas praças de Espanha são os primeiros sinais da emergência de um novo espaço público – a rua e a praça – onde se discute o sequestro das atuais democracias pelos interesses de minorias poderosas e se apontam os caminhos da construção de democracias mais robustas, mais capazes de salvaguardar os interesses das maiorias. A importância da sua luta mede-se pela ira com que investem contra eles as forças conservadoras. Os acampados não têm de ser impecáveis nas suas análises, exaustivos nas suas denúncias ou rigorosos nas suas propostas. Basta-lhes ser clarividentes na urgência em ampliar a agenda política e o horizonte de possibilidades democráticas, e genuínos na aspiração a uma vida digna e social e ecologicamente mais justa.

Para contextualizar a luta das acampadas e dos acampados, são oportunas duas observações. A primeira é que, ao contrário dos jovens (anarquistas e outros) das ruas de Londres, Paris e Moscou no início do século XX, os acampados não lançam bombas nem atentam contra a vida dos dirigentes políticos. Manifestam-se pacificamente e a favor de mais democracia. É um avanço histórico notável que só a miopia das ideologias e a estreiteza dos interesses não permite ver. Apesar de todas as armadilhas do liberalismo, a democracia entrou no imaginário das grandes maiorias como um ideal libertador, o ideal da democracia verdadeira ou real. É um ideal que, se levado a sério, constitui uma ameaça fatal para aqueles cujo dinheiro ou posição social lhes tem permitido manipular impunemente o jogo democrático.

A segunda observação é que os momentos mais criativos da democracia raramente ocorreram nas salas dos parlamentos. Ocorreram nas ruas, onde os cidadãos revoltados forçaram as mudanças de regime ou a ampliação das agendas políticas. Entre muitas outras demandas, os acampados exigem a resistência às imposições da troika para que a vida dos cidadãos tenha prioridade sobre os lucros dos banqueiros e especuladores; a recusa ou a renegociação da dívida; um modelo de desenvolvimento social e ecologicamente justo; o fim da discriminação sexual e racial e da xenofobia contra os imigrantes; a não privatização de bens comuns da humanidade, como a água, ou de bens públicos, como os correios; a reforma do sistema político para o tornar mais participativo, mais transparente e imune à corrupção.

A pensar nas eleições acabei por não falar das eleições. Não falei?

Por Boaventura Sousa Santos

http://www.vermelhos.net/index.php?option=com_content&view=article&id=796:opiniao--a-pensar-nas-eleicoes&catid=61:sites-e-blogues&Itemid=59

Volta Salazar, Estás Perdoado!



Primeiro Trichet e depois Constâncio avançam com a ideia de um Ministério das Finanças da União Europeia. A lógica que defendem é a de que se já há um espaço económico europeu e uma moeda europeia então faria sentido um ministério das finanças europeu. Esquecem-se que existe uma coisa que se chama democracia e outra que costumávamos chamar de política. Salazar concentrou em si o ministério das finanças e a partir do dito cujo controlou todos os outros ministérios sob sua dependência. Mas Salazar governando em ditadura não deixou de ser legitimado pelo voto. Esta gente decide estas coisas legitimado em quê?

Ver mais no link em baixo:

Fazer as Vezes da Comunicação Social



Manifestantes em Atenas cercam o parlamento Grego. Os mercados reagem. As pessoas também.

quarta-feira, junho 01, 2011

É A Realidade Real?



O cenário da Praça do Geraldo em Évora é real. Isso eu garanto que por lá andei uns bons anos e isso permite-me um reconhecimento até mesmo afectivo com a realidade desse espaço físico. O resto faz parte do simulacro da democracia que se transformou em mediacracia. O que espanta nestas imagens da campanha do PS é o ponto a que chegou o exagero da realidade do simulacro. Indianos que não sabem o que estão ali a fazer. Gente com bandeiras na mão que grita Sócrates sem saber por quem está a gritar. Imigrantes ilegais sem papéis, sem o domínio da língua, analfabetos e sem qualquer noção de onde está o Norte e o Sul do país. Visita a Évora a troco de passeio com direito a uma bucha para enganar o estomâgo.

A máquina de propaganda montou o palco, as bancadas e o hino. O grande líder fala não se sabe bem para quem. Tudo é preparado ao infimo pormenor para que a mensagem do grande líder possa seduzir a audiência televisiva. Não se fala para quem está. Fala-se para quem não está. Um olhar mais atento não pode deixar de ficar estupefacto com a surrealidade da realidade do simulacro real. Nada bate certo nesta fita cinematográfica de mau gosto. O vestir da personagem central vai ao arrepio dos figurantes. Os figurantes estão deslocados do contexto da encenação. A mensagem não se destina aos "reais" destinatários.

Não sei se é possível na era dos spin doctors vender políticos como se vendem sabonetes, o que sei é que há um deslocamento da democracia em direcção à mediacracia. E é um deslocamento perigoso para a democracia. É a realidade real? Quantos votos valem uma encenação deste tipo? Valerão a pena?