Está a ser muito interessante do ponto de vista da luta político-partidária, nestas eleições legislativas, a luta pela imposição de uma definição do lugar ideológico dos adversários políticos. Até ao dia de hoje, Sócrates rotulava toda a oposição, da esquerda à direita, de "negativista" e "bota-abaixista". A crítica política passou a ser definida de "maledicência" e quem não está do lado de Sócrates só pode estar contra Sócrates.
Esta semana as coisas mudaram. Já não se trata de toda a oposição ser "negativista", mas apenas a oposição de "direita". Sócrates procura desta maneira colocar-se a si próprio à "esquerda". A esquerda do PS e em particular o Bloco de Esquerda passou a ser rotulada de "aventureirista", "radical" e "extremista" e o PS de Sócrates quer ganhar para si os louros de partido "socialista moderado".
Louçã não demorou a reagir e a procurar redefinir a visão do mundo que o PS de Sócrates quer fazer passar por "verdade". O Partido socialista de Sócrates é "fundamentalista". Fundamentalista na forma como promove a precarização do trabalho, na forma como recusa o combate eficaz à corrupção e, presumo, fundamentalista na forma como faz os seus "negócios".
Sócrates quer impôr o rótulo de "extremista" a Louçã e este busca, de imediato, a redefinição do seu lugar ideológico. A ideologia regressou como terreno de luta política. Os línguísticas sabem bem destas coisas. A "realidade" tida como "objectiva" é o resultado das lutas pela imposição da "realidade" tida como mais legítima. Este é o poder da nomeação. E pode fazer toda a diferença, as palavras que nomeiam a realidade, nas coisas por elas nomeadas . Não me parece nem que Sócrates seja "fundamentalista", nem que Louçã seja "extremista". Mas em política, mais importante do que o ser, é o parecer.
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