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sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Culturas Grafitti: Entre o desafio da trangressão e a afirmação da masculinidade

Culturas Grafitti: Um mundo de dominação masculina



Estudo mostra que mesmo numa comunidade cujas práticas são de "ruptura em relação ao contexto social envolvente" imperam os estereótipos mais tradicionais.


A "comunidade do graffiti" contesta os valores vigentes, recusa "o conformismo, a regulação e as restrições sociais". Para pintar e para se afirmar, o pintor de graffiti arrisca-se fisicamente, trabalha em locais de acesso quase impossível, em linhas de comboios, túneis do metro, paredes altas... e sujeita-se a ser apanhado pela polícia, porque o que faz é, muitas vezes, ilegal. E, no entanto, este grupo que rompe com "o socialmente aprovado" acaba por reproduzir "os estereótipos de género mais comuns na sociedade". De tal forma que a afirmação da mulher no meio "parece ser uma "missão quase impossível"".

As conclusões são de Dalila Cerejo, investigadora do Gabinete de Investigação em Sociologia Aplicada da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (SociNova). A socióloga entrevistou 16 writers (pintores de graffiti), passou em revista a literatura sobre o tema e estudou uma comunidade cujas "práticas e princípios são socialmente entendidos como marginais".

O seu estudo Risco e identidade de género no universo do graffiti acaba de ser publicado pela SociNova. Dalila Cerejo evita usar a palavra machismo para descrever o que encontrou.

Mas um dos writers com quem falou resume da seguinte forma o que pensa do papel das mulheres: "A rapariga gosta de andar maquilhada e a mão não pode andar suja." Não é que esta comunidade questione a capacidade das mulheres para a pintura. "Acho que o graffiti é mais uma cena de homens, é arriscado de mais para as raparigas e elas não gostam de tanta acção e de correr riscos", explica um dos entrevistados.

Manuel Lisboa, que coordena a equipa de investigação do SociNova e que lançou a Dalila Cerejo o desafio de estudar o tema, entende que o aspecto mais interessante deste trabalho é ele revelar que mesmo em "grupos cuja prática de risco pretende ser de ruptura em relação ao contexto social envolvente os modelos seguidos em relação ao que é próprio para homens e mulheres ainda continuam a reproduzir os estereótipos de género tradicionais".

Isto é "um sinal", diz Manuel Lisboa, que revela que há valores que estão de tal forma enraizados na sociedade - mesmo "num dos segmentos onde poderíamos encontrar comportamentos mais desfasados dessas normas" - que quem quiser combater as desigualdades de género, em geral, tem que entender que não chegam "medidas conjunturais", afirma. "É preciso articularmo-nos com outras medidas que vão ao encontro dessa dimensão estrutural que não é visível, mas que está lá", defende.

Perseguição, fuga e risco

Ao longo do seu estudo, Dalila Cerejo - que admite que chega a conclusões que podem ser polémicas no meio sobre o qual se debruçou - descreve esta comunidade onde os seus jovens membros se avaliam entre si e procuram subir numa "estrutura hierárquica" como se fossem um "qualquer trabalhador numa grande empresa".

"A fama, o status e o reconhecimento são os únicos objectivos dos writers", descreve. Isto passa por cumprir uma série de etapas. A um writer não basta saber pintar. E nenhum obterá reconhecimento na comunidade, "se apenas se dedicar à vertente legal", ou seja, a pintar em paredes autorizadas. Afinal, "as raizes do graffiti são a arte de rua ilegal", explica.

É certo que a "sensibilidade estética" é, à luz do "estereótipo da identidade feminina", mais associada às mulheres do que aos homens. Mas a socióloga nota que no universo do graffiti a "performance estética pouco contribuirá para a valorização do writer, se não for conciliada com as demonstrações de valentia ou coragem" - e esses são atributos que o estereótipo atribui ao "domínio masculino".

Acontece que neste meio em especial a demonstração de "atributos e características masculinas assume uma enorme importância simbólica" - de resto, o jogo da perseguição/fuga, do risco, é altamente valorizado, sobretudo pelos mais jovens; para um writer em início de "carreira" fazer pinturas ilegais e arriscadas é a forma mais eficaz de obter reconhecimento pelos pares. Conta um dos jovens: "Ela queria começar a pintar como muitos outros".

E lembra a história de uma rapariga que pintava bem e que se aproximou do grupo dele. "Os primeiros seis meses dela foram do pior, toda a gente a discriminava. Diziam que era a gente que lhe fazia as cenas, que era eu que lhe fazia os desenhos, tudo. Mas ela tinha muito jeito para hall of fame" - parede onde alguns writers se juntam para pintar em conjunto e que, muitas vezes, é legal, o que lhes permite trabalhar com mais tempo e apurar a sua técnica. "O pessoal dizia: "Não é uma miúda que faz isto.""

A socióloga nota que a aceitação da presença da mulher no universo do graffiti só é possível se ela assimilar "valores e atributos tipicamente masculinos". Não há uma segunda via? "Não parece existir espaço de manobra para a mulher writer construir, dentro do graffiti, um percurso diferente ou mesmo paralelo àquele que o homem writer criou e hoje recria", diz.

Mais: a mulher que queira ser reconhecida deve masculinizar-se. Isto significa vestir de forma diferente, estar disposta a usar o seu corpo "como uma arma", seja para fugir da polícia ou de um vigilante, seja "para saltar muros ou arriscar algum tipo de lesão". O maior sinal "da sua aceitação no meio será, porventura, o ser tratada como "um dos rapazes"". Ainda assim, conclui, "não é certa a sua aceitação e reconhecimento".

In http://site2.caleidoscopio.online.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=476&Itemid=113

Graffiti: Um fenómeno que acompanha a crescente urbanização.

E em Loulé? Valerá a pena reflectir sobre este fenómeno?

Bom fim de semana

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Neoliberalismo e redefinição das significações sociais: Quando justiça social é sinónimo de pobreza

Lapsus linguae

"(...) Cometemos erros de linguagem e de pronúncia no decurso de conversas, aulas, discursos e outras situações de fala. Nas suas investigações sobre a "psicopatologia da vida quotidiana" Freud analisou numerosos exemplos de tais lapsos de língua (Freud, 1975). De acordo com Freud, cometer erros ao falar,incluindo a má pronúncia ou a má colocação de palavras, gaguejar ou tartamudear, nunca é, de facto acidental.
Os erros são sintomas de conflitos interiores, associados às formas como o inconsciente influência o que dizemos e fazemos conscientemente. Os lapsos da língua têm uma motivação inconsciente - por motivos ou sensações reprimidos no nosso consciente, ou que tentamos, conscientemente mas sem sucesso, suprimir.
(...) Como em muitos outros mal entendidos de actos ou palavras, os deslizes de linguagem são muitas vezes engraçados, e podem passar por anedotas. A diferença reside em saber se o orador tinha a intenção consciente de dizer as palavras daquela maneira."

In Anthony Giddens, Sociologia, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, pp.127-128.



Como interpretaria Freud este lapsus linguae?

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Para mais tarde recordar: Uma mentira de centenas de milhares de mortes

A mentira como estrategia política de manipulação das massas



Os Espanhóis pediram e nós fizemos...do ponto de vista português nada a lamentar...eu até fui eleito presidente da Comissão Europeia...o que perdeu Portugal com isso?

E o que diz o Tribunal Internacional de Haia de tamanha barbárie?

Da defesa do operariado à tecnocracia da Europa: As voltas que a vida dá

Contra o ensino burguês e em defesa da classe operária



E o futuro? Passará pelo Nobel?

Para a compreensão da futura toponímia da cidade de Loule. Raúl Pinto: Um acérrimo defensor do regime de Salazar

Numa altura em que foi aprovada por unanimidade, a toponímia futura para algumas das zonas territoriais da cidade de Loulé, pretendemos contribuir para o esclarecimento de algumas das figuras escolhidas pelo poder local para servirem de exemplo às futuras gerações.

Sobre Raúl Pinto deixo-vos algumas passagens encontradas no Arquivo Histórico de Loulé que ajudam a perceber quem era esta personagem histórica.

Peço desculpa, mas fico indignado pela escolha. Embora esta escolha diga muito sobre as concepções de democracia que por cá circulam. E não serve o argumento de que era um homem do seu tempo...não serve.

"PARA A HISTÓRIA DA COMISSÃO PORTUGUESA PARA AS RELAÇÕES CULTURAIS EUROPEIAS José Pacheco Pereira - UM INÉDITO DE CUNHAL

PROPAGANDA ANTICOMUNISTA EM LOULÉ (1947)

Nas minhas pesquisas no Arquivo Histórico de Loulé, nas inúmeras pastas confidenciais que por aqui existem, encontrei um Relatório sobre a situação política « nos meios provincianos e rurais” em 1947, com uma análise sobre as diversas classes sociais e a sua adesão aos princípios nacionalistas do regime, sugestões para atrair os descontentes e alvitres de propaganda anti-comunista.

Este Relatório de 6 páginas, foi elaborado por Raul Pinto, Chefe da Secretaria da Câmara Municipal de Loulé e Vogal da Comissão Concelhia da U.N., homem influente nos meios políticos de então, ao ponto de constar que foi graças às suas diligências e conhecimentos que Salazar veio a Loulé em 1953 (penso que foi a única visita oficial que fez ao Algarve) inaugurar o Monumento a Eng. Duarte Pacheco. Este documento foi enviado na altura para o Secretário Geral da Comissão Central da U.N. , Governo, PIDE, etc."

O documento pode ser lido no site http://estudossobrecomunismo2.wordpress.com/2005/06/22/propaganda-anticomunista-em-loule-1947/

Aconselha-se a leitura na integra para percebermos como o poder político local perdeu a coluna vertical.

Deixo-vos a leitura de AlGUMAS DAS SUGESTÕES E ALVITRES QUE PARECEM ACONSELHÁVEIS para defender a situação enviado por Raúl Pinto ao Governo de Salazar:

"Propaganda. Precisamos de fazer intensa propaganda anti-comunista, através da rádio, do cinema, da imprensa, do manifesto e da palavra. Os sindicatos e as casas do Povo, devem receber visitas amiudadas dos senhores Delegados de Trabalho e estes devem exercer uma violenta e persistente doutrinação daqueles meios. Propaganda sobretudo para as classes humildes. Atravez dos manifestos, bem redigidos, claros, intuitivos, de leitura fácil a gente rude. O manifesto para o lavrador seria, por exemplo, concebido em termos parecidos com os seguintes: “Certamente tens ouvido falar do comunismo. Sabes o que é? Já te disseram o que eles querem? Pois vamos nós dizer-to. O comunismo é uma doutrina dos que nada têm e querem que tu lhe dês parte do que tens, porque herdaste dos teus pais ou o ganhaste com o suor do rosto. Queixas-te contra o Grémio, porque este te obriga a entregar aquilo que te sobra das tuas necessidades. Mas não te disseram que, se viesse o comunismo, tinhas de entregar tudo o que a tua terra produz. Etc.Etc.”
O manifesto para o operário versaria assunto que ao mesmo ininteressasse e assim, através das autoridades administrativas, dos grémios, das casas do povo e dos pescadores e dos sindicatos, existiria uma propaganda acessível, clara, contundente e persistente, com muito maior mérito e proveito da que se faz através do Jornal do Povo, que o povo não entende e nem por ela se deixa impressionar.

BIBLIOTECAS AMBULANTES, que percorrendo o País com frequência, apresentassem livros de propaganda anti-comunista e de acentuado sabor histórico ou nacionalista.

FESTAS DE CARÁCTER OPERÁRIO OU CAMPONÊS: subsidiar e fomentar a realização nas casas do povo e sindicatos de festas de glorificação do trabalho, com comissões constituidas pelos próprios artistas, orientadas pelos Delegados do Trabalho e com a informação da União Nacional.
Assim teria lugar a festa dos carpinteiros, dos sapateiros, dos caldeireiros, com exposição de obra de artesanato peculiar e prémios aos expositores. Por outro lado, desenvolvimento e protecção de grupos folclóricos e regionais porque tudo isto impressiona o povo e o aproxima dos governantes. Cursos nocturnos nas escolas, para adultos e adolescentes, com regentes indicados pela U. N. local.

ACÇÃO DO CLERO: Promover a criação, junto de cada diocese, de um pequeno grupo de sacerdotes, com cultura social e qualidades oratórias, a quem seria cometido o encargo de pregações alternadas, mas frequentes nas freguesias mais contaminadas. "

Há por aí algum professor de História de Portugal que ajude na interpretação histórica deste documento?

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

E você, em quem mais confia?

Professores são profissão em que portugueses mais confiam e a quem dariam mais poder

25.01.2008
in http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1317684&idCanal=58

"Os professores são os profissionais em quem os portugueses mais confiam e também aqueles a quem confiariam mais poder no país, segundo uma sondagem mundial efectuada pela Gallup para o Fórum Económico Mundial (WEF).

Os professores merecem a confiança de 42 por cento dos portugueses, muito acima dos 24 por cento que confiam nos líderes militares e da polícia, dos 20 por cento que dão a sua confiança aos jornalistas e dos 18 por cento que acreditam nos líderes religiosos.

Os políticos são os que menos têm a confiança dos portugueses, com apenas sete por cento a dizerem que confiam nesta classe.

Relativamente à questão de quais as profissões a que dariam mais poder no seu país, os portugueses privilegiaram os professores (32 por cento), os intelectuais (28 por cento) e os dirigentes militares e policiais (21 por cento), surgindo em último lugar, com seis por cento, as estrelas desportivas ou de cinema.

A confiança dos portugueses por profissões não se afasta dos resultados médios para a Europa Ocidental, onde 44 por cento dos inquiridos confiam nos professores, seguindo-se (tal como em Portugal) os líderes militares e policiais, com 26 por cento.

Os advogados, que em Portugal apenas têm a confiança de 14 por cento dos inquiridos, vêm em terceiro lugar na Europa Ocidental, com um quarto dos europeus a darem-lhes a sua confiança, seguindo-se os jornalistas, que são confiáveis para 20 por cento.

Políticos em último também na Europa

Em ultimo lugar na confiança voltam a estar os políticos, com dez por cento. A nível mundial, os professores são igualmente os que merecem maior confiança, de 34 por cento dos inquiridos, seguindo-se os líderes religiosos (27 por cento) e os dirigentes militares e da polícia (18 por cento).

Uma vez mais, os políticos surgem na cauda, com apenas oito por cento dos 61.600 inquiridos pela Gallup, em 60 países, a darem-lhes a sua confiança. Os professores surgem na maioria das regiões como a profissão em que as pessoas mais confiam.

Os docentes apenas perdem o primeiro lugar para os líderes religiosos em África, que têm a confiança de 70 por cento dos inquiridos, bastante acima dos 48 por cento dos professores, e para os responsáveis militares e policiais no Médio Oriente, que reúnem a preferência de 40 por cento, à frente dos líderes religiosos (19 por cento) e professores (18 por cento).

A Europa Ocidental daria mais poder preferencialmente aos intelectuais (30 por cento) e professores (29 por cento), enquanto a nível mundial voltam a predominar os professores (28 por cento) e os intelectuais (25 por cento), seguidos dos líderes religiosos (21 por cento)."

Presto aqui a minha homenagem a todos os professores que foram fundamentais para o meu desenvolvimento pessoal e social.

domingo, fevereiro 24, 2008

Estudar compensa! O desemprego de licenciados e a ideia falaciosa de que somos um país de doutores

A divulgação das estatísticas de desempregados licenciados, em Portugal, esta semana, vem contribuir para o reforço de uma falsa ideia em circulação entre o comum dos mortais, que defende sermos nós um país de doutores.

Com tanto psicólogo, advogado, professor, gestor, economista e enfermeiro, inscrito nos centros de emprego, dizem as boas almas que o que toda a gente quer é ser doutor e que só se corre atrás dos canudos na busca da distinção social, mas que afinal aquilo que os espera são profissões sem futuro.

O passo seguinte da argumentação lógica é sobejamente conhecido. Com tanta falta de canalizadores, carpinteiros, ladrilheiros ou bons sapateiros, não se percebe o que vai fazer esta boa gente para as universidades portuguesas.

O problema é que estamos perante um efeito de ilusão de óptica e a realidade mais uma vez desmente cabalmente estes discursos de senso comum e muitas vezes eivados de bom senso, a quem a análise científica destas questões arruína o raciocinio.

Vejamos então os factos:

1. Quanto maior a qualificação escolar de um trabalhador, em média, maior são os rendimentos auferidos ao longo da sua vida. A correlação é clara e conhecida.

2. Um trabalhador com o ensino superior ganha mais 80% do rendimento de um trabalhador com o ensino secundário.

3. Quanto maior o nível de escolaridade de um indíviduo, maior o estatuto social e profissional alcançado ao longo da sua trajectória de vida.

4. Ser licenciado protege mais do desemprego, uma vez que a probabilidade de cair no desemprego é maior para os trabalhadores fracamente qualificados e quando em situação de desemprego o tempo de espera é menor para os trabalhadores com maiores qualificações.

5. Para além dos licenciados terem melhores níveis de empregabilidade que o resto da população com menores níveis de qualificação, as oportunidades de acesso a formações profissionais qualificantes, também lhes está mais facilitada, pois quanto mais elevada a qualificação escolar, maiores as oportunidades sociais de acesso a este tipo de formações facilitadoras da mobilidade social e profissional.

6. A falácia da ideia de sermos um país de doutores, esquece também, que em 1960 apenas menos de 2% da população tinha um diploma de ensino superior, o que permitia uma entrada directa em postos de trabalho de elevado estatuto social.

7. Hoje apesar dos enormes progressos na produção de licenciados pelo ensino superior ainda só conseguimos ter metade dos licenciados da média da União Europeia.

8. Temos portanto, licenciados a menos e não a mais como se quer fazer crer.

9.O problema situa-se claramente do lado do mundo económico.
Com a economia a crescer lentamente e com tendências de estagnação, não há criação de lugares qualificados na estrutura ocupacional que absorvam o acréscimo de licenciados dos últimos anos com a rapidez necessária. Com uma estrutura produtiva assente em mão de obra intensiva e pouco qualificada, assente em baixos salários, e com a maioria dos empresários com uma escolaridade modal ao nível do sexto ano de escolaridade, a inserção dos licenciados revela maior dificuldade em se realizar.

10. O "êxito" do controlo do défice público, também tem contribuido para o entrave ao recrutamento de quadros qualificados para a administração pública portuguesa, sendo este factor um claro entrave à mobilidade social dos recém licenciados.

11. Para terminar, fica a denúncia da falácia e a importante mensagem:

Estudar compensa, por favor incentive os seus filhos a continuar os estudos.

Se a licenciatura já não dá acesso directo a cargos de topo como acontecia nos anos de 60, 70, do século passado, hoje é fundamental para construir uma carreira.

Com muito mais dificuldade para todos os indivíduos em geral e com menor dificuldade para os filhos da classes médias e superiores.

O ministro Gago desta vez tem razão e não é pouca! Estudar compensa...aceite este bom conselho!

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

O Ponto G: Porque a Blogosfera anda perigosa...hoje não se fala de política!

Há muitos milénios que andavamos à procura da origem da felicidade.

A evolução tecnológica e científica, se por vezes gera controvérsia sobre o seu contributo para o desenvolvimento da humanidade, desta vez não deixa dúvidas.

A descoberta da origem da felicidade é a maior descoberta da humanidade: O PONTO G

Fonte: Jornal Público de 21/02/2008
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1320326

"Orgasmo vaginal, ejaculação feminina. Lenda ou realidade? Em termos anatómicos, o mistério gira em torno da localização do fugidio "ponto G" das mulheres. Será que foi encontrado?

Cientistas afirmam ter localizado o ponto G das mulheres graças à ecografia

Quando, em 1950, o ginecologista alemão Ernst Gräfenberg postulou que as mulheres possuíam uma pequena região erógena particularmente sensível, situada no espaço entre a vagina e a uretra, nunca terá pensado que, no século XXI, os especialistas ainda estariam a debater a veracidade - ou não - da sua hipótese.

O ponto G, assim baptizado nos anos 1980 em sua honra, era uma tentativa de explicar por que razão algumas mulheres diziam ter orgasmos particularmente intensos e profundos, provocados pela estimulação da parede anterior interna da vagina.

Mas é um facto que, até hoje, as provas científicas da sua existência não abundam. Existem, sim, testemunhos de mulheres que garantem ter orgasmos vaginais - por oposição àquelas que têm orgasmos clitoridianos ou que não têm orgasmos - e de mulheres que relatam mesmo uma ejaculação semelhante à do homem durante o orgasmo. Mas os dados são subjectivos e pouco fiáveis.

Essa situação poderá mudar em breve, se se confirmarem os dados preliminares obtidos por uma equipa de investigadores italianos, que adoptaram uma abordagem diferente, através da ecografia ginecológica, para tentar visualizar o ponto G. Pela primeira vez, descobriram sinais anatómicos que, segundo dizem, confirmam a existência do ponto G.

Emmanuele Jannini, da Universidade de L"Aquila, e a sua equipa, que vão publicar os seus resultados na próxima edição (de Março) do Journal of Sexual Medicine, fizeram ecografias com sonda vaginal a 20 mulheres, das quais apenas nove diziam ter orgasmos vaginais.

E descobriram que essas nove mulheres apresentavam uma maior espessura do tecido situado entre a uretra e a vagina do que as outras. "Pela primeira vez", disse Jannini à revista New Scientist, torna-se possível determinar de maneira simples, rápida e barata se uma mulher tem ou não um ponto G."

A próstata das mulheres?

Os mesmos investigadores já tinham feito, em 2002, uma análise bioquímica dos tecidos em causa. E tinham detectado a presença de uma proteína, a PDE5, que nos homens está relacionada com a erecção (o Viagra actua inibindo a acção desta substância).

Nessa altura, Jannini tinha dito à New Scientist que isso poderia significar que os orgasmos vaginais estivessem relacionados com umas pequenas glândulas, igualmente situadas na região do hipotético ponto G: as glândulas de Skene.

Também conhecidas como "próstata feminina", estas pequenas estruturas comunicam com a uretra e poderão ser o sítio onde tem origem a ainda mais hipotética ejaculação feminina, uma descarga de líquido para a uretra que algumas mulheres afirmam ter ao mesmo tempo que o orgasmo vaginal. Para Jannini, os últimos resultados vêm reforçar o elo entre as glândulas de Skene e o ponto G.

"As mulheres sem qualquer indício visível de ponto G não podem ter orgasmos vaginais", salienta o investigador. Para as outras, não há porém razão para desespero: "Ainda podem ter um orgasmo normal através da estimulação do clítoris."

Mas nem todos os especialistas ouvidos pela New Scientist se mostraram assim tão optimistas: há quem pense que todas as mulheres têm um ponto G, mais ou menos activo; há quem pense que o que os cientistas italianos encontraram não é senão uma ramificação do clítoris; há quem pense ainda que o orgasmo vaginal é algo que se adquire com o treino, que faz aumentar a espessura do tecido entre a uretra e a vagina, tal como o culturismo aumenta o volume dos músculos.

Quanto a saber se o ponto G não será apenas uma extensão do clítoris, Jannini, contactado pelo PÚBLICO, dá os seus argumentos: "No fundo", diz o investigador, "temos a certeza de que estamos a medir uma extensão do clítoris!

O ponto G é na realidade uma região que contém vasos (a corpora cavernosa do clítoris), glândulas (de Skene) e nervos (que, como mostrámos em 2002, contêm PDE5, isto é a maquinaria bioquímica da excitação masculina, o alvo do Viagra). Portanto, o ponto G é uma região complexa que contém todas estas estruturas, quando presentes. Digo "quando presentes", porque algumas mulheres não possuem nenhuma destas estruturas."

O que vem a seguir? "Estamos agora a determinar quantas mulheres têm um ponto G", diz-nos Jannini. "Isso é fácil e é apenas uma questão de tempo: queremos ter pelo menos 200 participantes antes de publicar."

Mas, "o que é mais importante", os investigadores estão já a pensar em possíveis fármacos que permitam aumentar o ponto G das mulheres que o têm. "Estamos agora em vias de mostrar que o ponto G (tal como o clítoris) depende dos níveis de testosterona em circulação", salienta Jannini.
"Trabalhamos com mulheres que tiveram uma menopausa precoce e que, como apresentavam níveis patologicamente baixos de testosterona, recorreram a um adesivo de testosterona (à venda na Europa há seis meses). E os nossos resultados preliminares indicam que, durante esse tratamento, o tamanho do ponto G destas jovens mulheres aumentou." Vem aí o "Viagra" feminino?"

A Busca da felicidade

Cumprimentos à Camila

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

O Big Brother chegou à cidade: Donde vêm os medos sociais?

Discute-se por todo o concelho de Loulé o "sentimento" de insegurança dos cidadãos.

Políticos e partidos, da esquerda à direita, jornalistas de todas as ideologias, e cidadãos em geral, mas em particular as classes médias bem instaladas ou em declínio social, agitam os fantasmas da insegurança.

A realidade essa é sempre mais complexa do que as impressões que circulam sobre ela.

E se fossemos um país, uma região e um concelho seguros e o que anda no ar é a mera percepção subjectiva da insegurança?

Deixo-vos com os resultados de um estudo internacional do Economist levado a cabo em 2007. Leiam e tirem as vossas conclusões:


Portugal: O 9º país mais seguro do mundo
31 Maio 2007 .


Só pode ser recebido com muita satisfação o estudo promovido pela “Economist Intelligence Unit” do prestigiado grupo que publica a revista britânica Economist, divulgado no dia 30 de Maio, simultaneamente em Washington, Londres e Sydney.

O estudo (intitulado Global Peace Index) coloca Portugal em nono lugar como país mais seguro do Mundo.O estudo analisou a situação em 121 países e confirmou o juízo que consta do nosso Relatório Anual de Segurança Interna(RASI): no contexto global, o índice da criminalidade em Portugal é baixo.

O RASI, debatido no passado dia 24 de Maio na Assembleia da República, assinala que, no contexto europeu da criminalidade participada, “Portugal continua a integrar o grupo de países europeus com os valores mais favoráveis”.

Recorda-se que no ano de 2006, se registou um total de 391.085 ocorrências criminais participadas às Forças e serviços de Segurança, mais +7.832 que no ano anterior. Cerca de 90% desse acréscimo de 2% deve-se ao maior número de ocorrências participadas por maus tratos entre cônjuges (+30%) e por condução sem habilitação legal (+20%), ambos os fenómenos reveladores dos resultados de uma maior proactividade policial e da eficácia dos incentivos à participação de ofensas que ao longo de muitos anos eram protegidas por espessos véus de silêncio, que estão agora a ser rasgados.

O Global Peace Index abrange um muito amplo universo de países observados e assinala que o total das ocorrências criminais participadas em Portugal , no quadro geral, é realmente bastante inexpressivo, referindo-se mesmo que as participações criminais registadas em território nacional em 2006 são “quase irrisórias”.

Também o Relatório Anual de Segurança Interna, refere que Portugal se situa “no grupo de países que apresenta riscos de crime significativamente abaixo da média europeia, que podem ser definidos como países de baixa criminalidade comum, no contexto da União Europeia, a saber: a Espanha, Hungria, França, Áustria e Grécia. E refere ainda que “no caso concreto de Portugal, a prevalência de vitimização – percentagem de pessoas que revelaram ter sido vítimas de um ou mais crimes – no conjunto dos dez crimes comuns, baixou, no período de 2000 a 2005, de 11,3 para 10,4. A média europeia, para os mesmos anos de referência, foi de 19,3 e de 14,9, respectivamente.

“ Assim – pode ler-se no RASI referente ao ano de 2006 - o nosso País, além de, na primeira metade desta década, apresentar uma tendência de ligeira descida no número de pessoas vitimizadas, continua a situar-se claramente abaixo da média europeia, sendo o terceiro país com o melhor desempenho, logo atrás da Hungria e da Espanha, num conjunto de 18 Estados-membros.

Um aspecto que interessa relevar, num momento em que uma entidade como o The Economist apresenta o nosso País perante a opinião pública internacional como o 9º País mais Seguro do Mundo, é a capacidade e a imagem positiva de que, muito justamente, gozam as nossas Forças e Serviços de Segurança.

No que concerne ao grau de satisfação dos cidadãos relativamente à Polícia, Portugal apresenta um desempenho muito favorável, surgindo numa posição acima da média europeia. O número de inquiridos com opinião positiva praticamente duplicou entre 2000 e 2005, passando de um total de 31% para 58 % de pessoas satisfeitas com a resposta da Polícia na sequência da sua participação criminal.

Por outro lado, e no que concerne à percentagem de pessoas que pensam que a Polícia está a desenvolver um bom trabalho no controlo do crime na sua área de residência, no ano de 2005 e em anos anteriores, em geral, todos os países do Sul da Europa se encontram abaixo da média europeia.

Portugal constitui de novo a excepção pela positiva.Regista-se uma tendência de evolução muito favorável nos últimos cinco anos, que nos permitiu atingir, em 2005, a média europeia. Assim, entre 2000 e 2005, a posição de Portugal melhorou em um terço, passando de 45% para 67% o universo de pessoas que pensam que a Polícia consegue controlar o crime na área onde vivem.

Outros valores analisados neste vasto estudo indicam uma evolução muito positiva do desempenho do nosso país em termos de vitimização, sentimento de insegurança e satisfação com a Polícia. Por exemplo, no que concerne à adopção, pelos particulares, de dispositivos técnicos de prevenção situacional, o nosso país regista uma evolução positiva, no período em análise, revelando uma crescente consciencialização dos cidadãos para a necessidade de adoptarem dispositivos e comportamentos que previnam o crime.

A classificação do Global Peace Index é construída a partir de uma tabela elaborada com base em 24 factores, entre os quais os níveis de violência, o crime organizado e as verbas que cada nação destina às forças que coloca ao serviço das missões de segurança.



O estudo salienta que os países estáveis de pequena dimensão e integrados em blocos regionais como a União Europeia estão entre os mais tranquilos. Os rendimentos dos cidadãos e o nível de educação são também factores determinantes na posição que cada país ocupa neste “ranking”, cuja elaboração contou com o apoio de personalidades como os prémios Nobel da Paz Dalai Lama, Desmond Tuto e Jimmy Carter.

Segundo esta tabela, a Noruega é o país mais pacífico do mundo. Completam o “top ten” Nova Zelândia, Dinamarca, Irlanda, Japão, Finlândia, Suécia, Canadá, Portugal e Áustria.
No fundo da lista está o Iraque, considerado o mais perigoso, ainda mais do que Sudão, Israel, Rússia, Nigéria, Colômbia, Paquistão, Líbano e Costa do Marfim.

Ranking do Global Peace Index
Rank Country Score

1 Norway 1.357
2 New Zealand 1.363
3 Denmark 1.377
4 Ireland 1.396
5 Japan 1.413
6 Finland 1.447
7 Sweden 1.478
8 Canada 1.481
9 Portugal 1.481
10 Austria 1.483
11 Belgium 1.498
12 Germany 1.523
13 Czech Republic 1.524
14 Switzerland 1.526
15 Slovenia 1.539
16 Chile 1.568
17 Slovakia 1.571
18 Hungary 1.575
19 Bhutan 1.611
20 Netherlands 1.620
21 Spain 1.633
22 Oman 1.641
23 Hong Kong 1.657
24 Uruguay 1.661
25 Australia 1.664
26 Romania 1.682
27 Poland 1.683
28 Estonia 1.684
29 Singapore 1.692
30 Qatar 1.702
31 Costa Rica 1.702
32 South Korea 1.719
33 Italy 1.724
34 France 1.729
35 Vietnam 1.729
36 Taiwan 1.731
37 Malaysia 1.744
38 United Arab Emirates 1.747
39 Tunisia 1.762
40 Ghana 1.765
41 Madagascar 1.766
42 Botswana 1.786
43 Lithuania 1.788
44 Greece 1.791
45 Panama 1.798
46 Kuwait 1.818
47 Latvia 1.848
48 Morocco 1.893
49 United Kingdom 1.898
50 Mozambique 1.909
51 Cyprus 1.915
52 Argentina 1.923
53 Zambia 1.930
54 Bulgaria 1.936
55 Paraguay 1.946
56 Gabon 1.952
57 Tanzania 1.966
58 Libya 1.967
59 Cuba 1.968
60 China 1.980
61 Kazakhstan 1.995
62 Bahrain 1.995
63 Jordan 1.997
64 Namibia 2.003
65 Senegal 2.017
66 Nicaragua 2.020
67 Croatia 2.030
68 Malawi 2.038
69 Bolivia 2.052
70 Peru 2.056
71 Equatorial Guinea 2.059
72 Moldova 2.059
73 Egypt 2.068
74 Dominican Republic 2.071
75 Bosnia and Herzegovina 2.089
76 Cameroon 2.093
77 Syria 2.106
78 Indonesia 2.111
79 Mexico 2.125
80 Ukraine 2.150
81 Jamaica 2.164
82 Macedonia 2.170
83 Brazil 2.173
84 Serbia 2.181
85 Cambodia 2.197
86 Bangladesh 2.219
87 Ecuador 2.219
88 Papua New Guinea 2.223
89 El Salvador 2.244
90 Saudi Arabia 2.246
91 Kenya 2.258
92 Turkey 2.272
93 Guatemala 2.285
94 Trinidad and Tobago 2.286
95 Yemen 2.309
96 United Statesof America 2.317
97 Iran 2.320
98 Honduras 2.390
99 South Africa 2.399
100 Philippines 2.428
101 Azerbaijao 2.448
102 Venezuela 2.453
103 Ethiopia 2.479
104 Uganda 2.489
105 Thailand 2.491
106 Zimbabwe 2.495
107 Algeria 2.503
108 Myanmar 2.524
109 India 2.530
110 Uzbekistan 2.542
111 Sri Lanka 2.575
112 Angola 2.587
113 Cote d’Ivoire 2.638
114 Lebanon 2.662
115 Pakistan 2.697
116 Colombia 2.770
117 Nigeria 2.898
118 Russia 2.903
119 Israel 3.033
120 Sudan 3.182
121 Iraq 3.437

Fonte: http://opiniao.mai-gov.info/2007/05/31/portugalo-9%c2%ba-pais-mais-seguro-do-mundo/

O que significa então a opção pelas Câmaras de Vigilância em discussão pelos políticos locais?

Insegurança, aproveitamento político da insegurança, controlo social das populações ou privação das liberdades?

Para reflectir...

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Gonçalo Ribeiro Telles: Mas porque prega aos peixes este homem há tanto tempo?

Gonçalo Ribeiro Telles é daqueles homens que a história sempre recordará.

Corria o ano de 1967 e perante as inundações destrutivas da cidade de Lisboa, Telles veio à televisão explicar que as causas de tal fenómeno eram humanas e que nada tinham que ver com os deuses estarem zangados.

O desordenamento do território, a construção em leitos de cheia, a destruição dos terrenos agricolas e das plantas e árvores, tão necessárias à retenção das águas, eram afinal os grandes responsáveis, afirmava o senhor arquitecto.

De lá para cá, os erros continuam e este homem, qual Santo António, continua a pregar aos peixes.

O Ministro do Ambiente, que tem estado de férias até às cheias desta semana, saiu apressadamente a culpar os autarcas e a dizer absurdamente que já não temos problemas de ordenamento do território.

Os autarcas que se pronunciaram, apressaram-se a responder ao ministro que pelo que lhes toca estão de consciência tranquila.

Afinal não há responsáveis e nem há problemas de ordenamento do território e de impermibialização dos solos.

Razão tinha o ex-ministro do Ambiente, José Sócrates, quando dizia que as autarquias dependerem das receitas dos licenciamentos da construção não podia ser boa coisa.

As chuvas vão voltar, as inundações vão continuar e para nossa desgraça os deuses é que vão continuar a pagar.

Porque prega Ribeiro Telles há mais de 40 anos aos peixes?

Deixo-vos mais uma intervenção de Telles sobre este problema em Lisboa, pela escrita dos jornalistas do DN online que data de 2007:

"Se hoje chovesse tanto como na noite de 25 de Novembro de 1967, as cheias provocariam ainda mais estragos na região de Lisboa. Gonçalo Ribeiro Telles, o arquitecto paisagista que há 40 anos escapou à censura e foi à televisão explicar porque é que as inundações provocaram danos tão elevados, está convencido de que os poderes local e central têm "repetido e acumulado" os mesmos erros cometidos no passado. "A única diferença é que, entretanto, foram criados planos municipais para salvaguardar a circulação das águas das chuvas."

Mas isso de pouco vale porque boa parte destes projectos ainda "não saiu da gaveta". "Loures, Sintra ou Seixal são alguns dos municípios que ainda não aplicaram os seus planos de arquitectura de paisagem", denuncia o arquitecto, esclarecendo que há outros concelhos como Oeiras que nem sequer criaram os projectos. A autarquia de Lisboa também não escapa às críticas de Ribeiro Telles, uma vez que existe, desde 2005, um projecto para a construção de bacias de retenção de águas ao longo do vale de Alcântara que não foi aplicado.

Tudo isso tem consequências, avisa o especialista e, enquanto não se aplicarem estes planos, será possível continuar a construir nos leitos das cheias, reduzir a reserva agrícola - que graças aos seus solos orgânicos retêm mais água em caso de inundações - ou edificar junto ao litoral onde o terreno seria mais permeável às chuvas. Segundo o arquitecto, o problema não está nas chuvas fortes que serão cada vez mais frequentes e inevitáveis num clima mediterrânico: "A questão central passa por garantir a circulação das águas tanto nos meios rurais como urbanos."
http://dn.sapo.pt/2007/11/25/tema/regiao_lisboa_continua_a_merce_inund.html

Gonçalo Ribeiro Telles tem 82 anos e é considerado o primeiro ecologista português. Monárquico liberal, ex-ministro de Estado e da Qualidade de Vida, fundador do Movimento Partido da Terra, teve ao longo da sua carreira, uma vasta intervenção política e cívica.

Vale a pena ir à procura do que o homem já dizia em 1967.

Boa semana

domingo, fevereiro 17, 2008

Sobre o abate de árvores um pouco por todo o lado: Cidadania ambiental na blogosfera Quarteirense

O último Relatório de Desenvolvimento Humano, de 2007, centra a maior parte da sua atenção nas questões do desenvolvimento sustentável, nas alterações climáticas e nos impactos que estas questões têm nas crescentes desigualdades e assimetrias sociais à escala global.

A Peninsula Ibérica é das zonas da Europa mais afectadas pela seca e pela desertificação, com todos os problemas sociais que isso acarreta.

A consciência ambiental dos cidadãos tem vindo a crescer de intensidade um pouco por todo o globo, sobretudo nos países mais desenvolvidos, os primeiros a serem afectados pelos problemas ambientais. Hoje, o problema põe-se com extrema pertinência em todo o globo pois como sabemos os problemas ambientais locais são problemas globais e os problemas ambientais globais são também eles problemas locais.

Ficou célebre, há uns tempos atrás, a afirmação do presidente da Associação Nacional de Munícipios quando "incitou" a "correr os fiscais do ambiente à paulada".

Felizmente, as jovens gerações e as populações mais escolarizadas não se revêm de todo neste tipo de afirmações e incorporam fortemente os valores ambientais como estruturantes do designado desenvolvimento sustentável.

Deixo-vos com um excelente exemplo de cidadania ambiental, demonstrativo de como as populações andam à frente dos poderes públicos no entendimento do que é a boa qualidade de vida dos seus territórios.

Retirado do blogue Calçadão de Quarteira:

Aqui há cerca de um mês ou mês e meio, foi muito comentada, glosada (e gozada) em Quarteira, a afirmação de Seruca Emídio, em reunião pública realizada cá na cidadezinha enteada de Loulé, de que “ninguém gosta mais de Quarteira” que ele, edil louletano.

Quando se gosta assim tanto de alguém ou de alguma coisa, nada pode dar mais satisfação ao “amante” do que ver feliz e bonito o seu objecto de paixão. Por isso, é costume, em dia de namorados, demonstrar amor, paixão ou simples paixoneta, com uma prenda que contribua para essa felicidade e para essa beleza.

Pois bem, há dias, alguém recordou ao ‘Calçadão’ uma demonstração “do amor” de Seruca Emídio por esta cidade.

E, como amanhã, é «Dia de Namorados», nada mais apropriado que exibir essa prova de amor do nosso presidente de câmara pela nossa cidade, quando mandou abater centenas de árvores na avenida.


ANTES DA PROVA DE AMOR DE SERUCA EMÍDIO



... E DEPOIS DESSA DEMONSTRAÇÃO...



Há imagens que valem mais que mil palavras...

Ps: Pode ver este post na sua totalidade no Blogue Calçadão de Quarteira. A selecção de partes do texto é de nossa inteira responsabilidade.

Continuo apreensivo com a "requalificação" do Parque Municipal de Loulé...

sábado, fevereiro 16, 2008

Semana da música, do amor e da felicidade: Para o ano há mais

A cultura é a alma de um povo. Ela não se adquire por decreto, nem pode ser conquistada por um acto de magia, através do Euromilhões.

A cultura adquiri-se no médio, longo prazo, e depende da vontade dos cidadãos em adquiri-la e da promoção cultural levada a cabo pelos povos e pelos poderes públicos e políticos.

A política nacional para a cultura tem estado pelas ruas da amargura. O combate ao défice, esse monstro dos tempos modernos, e a ausência de sensibilidade cultural dos nossos governantes, legitimam a fraca aposta cultural da nação, num país em que as coisas da educação e da cultura deveriam estar na ordem das prioridades.

A nível local, no Algarve e, em particular, em Loulé, apesar do crescimento da oferta cultural nas duas últimas décadas; esta está a anos luz das necessidades de educação cultural das populações locais e é notório a ausência de estratégia cultural para o concelho.

Existem, quando muito, eventos e iniciativas desconectadas muito dependentes da frágil e meritória iniciativa de grupos, escolas e associações culturais, mas que se revelam insuficientes ao desenvolvimento cultural das populações do nosso território.

A internet e os blogues têm hoje um papel importante na vida cultural das populações. Ao toque de um clique do rato, temos vídeos de Maria Callas, Edith Piaf, Carlos Paredes, Zeca Afonso, Charles Aznavour, Vivaldi, Mozart e tantos outros. É uma autêntica torre de babel cultural.

Mas os gostos culturais não se compram na farmácia. Não basta existir todo um mundo de cultura ao dispor da sociedade de massas para elevar os gostos culturais.

Sem uma verdadeira educação para a cultura, nunca haverá uma procura cultural digna desse nome.

Para quando uma estratégia cultural consistente para o concelho de Loulé?

Até para o ano

Semana da música, do amor e da felicidade

Wollfgang Amadeus Mozart - Um génio antes do tempo dos génios



Norbert Elias publica, em 1991, uma obra sociológica admirável intitulada Mozart - Sociologia de um Génio.

Elias define Mozart como um génio que viveu antes da idade dos génios.

Nasce numa sociedade que não conhecia ainda o conceito romântico de génio e cujo cânone social não oferecia ainda um lugar legítimo ao artista genial com uma existência social independente.

É a partir do entendimento da estrutura social da época que podemos compreender o agudo conflito que se estabelece a certa altura da sua vida com o seu inflexível patrono, o arcebispo de Salzburg, que empregava igualmente seu pai, também ele músico da corte de Salzburg.

Mozart, artista burguês na sociedade da corte, tinha na época o mesmo estatuto social que o cozinheiro ou qualquer outro mestre de servir da corte austriaca.

O arcebispo considera Mozart como um mero executante que deve seguir o gosto estético convencionado pela aristocracia da corte assim como as suas sugestões músicais. Mozart recusa claramente as intromissões no seu modo de compor.

Menino prodígio das cortes europeias desde mais tenra idade, recusa os cânones convencionais da sua época e decide nos últimos anos da sua vida tornar-se "artista livre".

O seu pai vê nesta decisão o início do declínio de uma carreira brilhante. Infelizmente o seu pai viria a ter razão.

Como nos ensina Elias (1991:12):
"Até à geração de Mozart, um músico que quisessse ser reconhecido socialmente como artísta com dignidade própria, e que, ao mesmo tempo, quisesse manter-se na posição de prover às suas necessidades e da sua família, tinha que encontrar uma colocação no interior do complexo das instituições aristocráticas (...). O destino individual de Mozart, o seu destino como homem singular e como músico singular, foi influênciado de maneira determinante pela sua situação social, pela dependência, como músico do seu tempo, da aristocracia da corte".

A decisão de levar a cabo concertos fora da alçada da aristocracia do seu tempo teve como consequência o voltar de costas da boa sociedade Vienense. Se corresse a voz que o imperador não apreciava um determinado músico, a boa sociedade, simplemente abandonava-o.

Segundo Norbert Elias, Mozart que depositara todas as suas esperanças no público de Viena, sofreu imenso com as humilhações infligidas pela nobreza. Na interpretação de Elias, Mozart irá sofrer de desgosto até morrer pelo não reconhecimento da sua genialidade músical.

* Recomenda-se a obra admirável de Norbert Elias, Mozart - Sociologia de um Génio, 1991.

Aproxima-se do final a semana da música, do amor e da felicidade.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Semana da música, do amor e da felicidade

U2 - Live 8 - One



Urbi et Orbi

Semana da música, do amor e da felicidade

Dire Straits - Romeo and Juliet Live



Enamoramento e amor

Semana da música, do amor e da felicidade

Dire Straits - Brothers In Arms - Wembley



Grupos intemporais

Semana da música, do amor e da felicidade

Eagles - Hotel California - Live



Músicas que marcam uma geração

Semana da música, do amor e da felicidade

Simon and Garfunkel - Sound of Silence - in Central Park



Deus quer, o homem sonha, a obra nasce...

Semana da música, do amor e da felicidade

Elton John - Princess Diana




Músicas que ficam na história da realeza, do povo e das princesas

Semana da música, do amor e da felicidade

Queen - We are the champions



CARISMA - Palavra de origem religiosa - khárisma -, que significa, crisma ou crismado, ou aquele que recebeu uma graça ou dom divino. Este termo é um dos fundamentos usados no Catolicismo para indicar um dos diversos dons dado pelo Espírito Santo, àqueles que engajados e desejosos de servir a Deus lhe pedem. Segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, os carismas "são dons especiais do Espírito concedidos a alguém para o bem dos homens, para as necessidades do mundo e em particular para a edificação da Igreja" (n. 160).
Fonte: Wikipédia

Semana da música, do amor e da felicidade

Freddie Mercury e Monserrat Caballet - Barcelona



Porque há homens que nunca morrem...

Semana da música, do amor e da felicidade

I Want to Break Free



...e prestam um tributo à humanidade...

Semana da música, do amor e da felicidade

Queen - Bohemian Rhapsody




...porque há grupos que são eternos...

Semana da música, do amor e da felicidade

Queen - The Show Must Go On



No reino dos vivos...o show tem de continuar...

Semana da música, do amor e da felicidade

Queen - Under Pressure - Live At Wembley Stadium 1986



A melhor banda rock do século XX...

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Semana da música, do amor e da felicidade

Queen - Somebody to Love



Para aqueles que no final do dia dos amores ainda não encontraram a sua cara metade...

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Semana da música, do amor e da felicidade

CARLOS PAIÃO - VERSOS DE AMOR



Para todos os enamorados do mundo desejo-vos um dia de São Valentim vivido com muito amor e paixão.

A minha homenagem a Carlos Paião, que considero um ícone da canção portuguesa.

Semana da música, do amor e da felicidade

António Variacões - Canção Do Engate



Para todos os que ainda procuram cara metade até à meia noite de hoje

Semana da música, do amor e da felicidade

Canção de embalar - Zeca Afonso

Semana da música, do amor e da felicidade

Henri Salvador - Le lion est mort ce soir




Uma interessante sugestão da amiga Umbelina

Semana da música, do amor e da felicidade

Carlos Paredes- Verdes anos

Semana da música, do amor e da felicidade

Vitorino - Menina Que Estas À Janela

Semana da música, do amor e da felicidade

Traz Outro Amigo Também - José Afonso

Semana da música, do amor e da felicidade

Portugal 1974 - Paulo de Carvalho - E depois do adeus

Semana da música, do amor e da felicidade

Pedra Filosofal - Manuel Freire canta António Gedeão

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Semana da música, do amor e da felicidade

Toto Cutugno "L'Italiano" 1983


Semana da música, do amor e da felicidade

Bocelli e Sarah Brightman - Time to Say Goodbye

Semana da música, do amor e da felicidade

Arrivederci, Roma - Mario Lanza & Luisa Di Meo

Semana da música, do amor e da felicidade

Pavarotti "Caruso"


Semana da música, do amor e da felicidade

CATS Memory - Elaine Paige

Semana da música, do amor e da felicidade

Vivaldi - As Quatro Estações - Inverno

Semana da música, do amor e da felicidade

Vivaldi - As Quatro Estações - Outono

Semana da música, do amor e da felicidade

Vivaldi - As Quatro Estações - Verão

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Semana da música, do amor e da felicidade

Vivaldi - Quatro Estações - Primavera


Semana da música, do amor e da felicidade

Casta Diva -- Maria Callas

Semana da música, do amor e da felicidade

Edith Piaf "la vie en rose"

Semana da música, do amor e da felicidade

Edith Piaf -L' hymne A L'amour

Semana da música, do amor e da felicidade

Claude François: "Comme d'habitude" (original of "My Way")

Semana da música, do amor e da felicidade

Edith Piaf - Non, Je ne regrette rien

Semana da música, do amor e da felicidade

Jacques Brel : Les Bourgeois

Semana da música, do amor e da felicidade

Bolero - Maurice Ravel

Semana da música, do amor e da felicidade

Carl Orff - Carmina Burana - Fortuna Imperatrix Mundi

Semana da música, do amor e da felicidade

Carreras - Domingo - Pavarotti "o sole mio"

Semana da música, do amor e da felicidade

Jacques Brel - Ne Me Quitte Pas

Semana da música, do amor e da felicidade

CHARLES AZNAVOUR - La boheme

domingo, fevereiro 10, 2008

Decreto para o blogue MacLoulé à revelia do Príncipe, do Governo da República e da ASAE, a semana da música, do amor e da felicidade

Farto de cumprir ordens emanadas do Estado central, através de leis, regulamentos, despachos, circulares, regras de trânsito, regras da moral e dos bons costumes e outras que tais, o blogue macloulé, num acto de recusa pelo cumprimento das leis da república, decreta esta semana, a semana da música, da felicidade e do amor!

Vamos então ter música todos os dias...acreditamos que desta forma, os leitores deste blogue, por poucos que sejam, vão contribuir para resolver algumas angústias do Exmo. Senhor Presidente da República, sobre o facto de não se fazerem crianças em Portugal.




Porque a vida é bela

São Valentim já anda no ar

Porque se aproxima o dia dos namorados e o amor já anda no ar

L'amour est un oiseau rebelle

sábado, fevereiro 09, 2008

A morte saiu à rua: A politização da morte na blogosfera louletana

Interessantíssima a discussão sobre a morte e o ritual funerário promovida pelo blogue Sebastião a propósito do culto dos mortos na freguesia de São Sebastião.

Defende o autor do blogue, a propósito da Capela Mortuária da Igreja de Sant'Ana, que se melhor o conforto prestado aos utilizadores de tais serviços, aperfeiçoando as condições de estadia do espaço de culto e simultaneamente, propõe novos trajectos dos cortejos funerários em direcção ao cemitério, para evitar a exposição do ritual funebre junto das crianças que frequentam as escolas, por onde o mesmo passa e para evitar eventuais incómodos causados pelos engarrafamentos de trânsito junto dos edifícios escolares.

Nobre a preocupação com as condições do conforto na hora do luto, mais discutível, a preocupação de "esconder" a morte para evitar os traumas das nossas criancinhas e muito pertinente, a preocupação com os engarrafamentos junto das escolas.

Muito interessante, também, um comentário de um leitor, que presumo ser do interior rural do concelho de Loulé, sobre a desigualdade de condições face ao direito a um ritual funebre digno na hora da morte dos entes queridos.

Diz-nos este leitor:
"Em relação a este assunto gostaria de saber porque é que dentro da própria Freguesia de S. Sebastião existe um tratamento diferenciado nos cortejos e velórios funerários?
Para os habitantes do Monte Seco continua tudo na mesma, pois realizam os seus velórios na Capela do Monte Seco e depois vêm para a Igreja de S. Francisco; para os habitantes de Vale Judeu é mesma situação.
Com isto eu concordo! Penso que deveria ser igual para toda a zona rural da freguesia, uma vez que a alteração agora verificada causa o maior transtorno às populações do Parragil, Picota, Boa Hora, Soalheira, Palmeiral, Varjota, etc…
Que têm que velar os seus ente queridos numa capela distante, desprovida das condições mais elementares, no cimo de uma escadaria, sem espaço! Mais evidente por vezes, quando se realizam vários funerais em simultâneo, com a Freguesia de S. Clemente.
Questiono-me: Porque é que as populações dos sítios que referi atrás não podem realizar os seus velórios da mesma forma como fazem os habitantes do Monte Seco e Vale Judeu? Até porque também estaria disponível a Igreja da Boa Hora para os velórios, mesmo que seja numa situação provisória, ou a própria Igreja de S. Francisco!"

A morte é também ela feita de desigualdades e hierarquias sociais. Também aqui a política deve intervir para repôr a igualdade de condições.

Muito interessante ainda é o facto da discussão ilustrar o fenómeno da privatização da morte nas sociedades ocidentais capitalistas.

Foi o crescente movimento de secularização, de racionalização e de individualização que acompanhou o desenvolvimento do capitalismo industrial que fez com que a morte se torna-se assunto tabu a varrer para debaixo do tapete social.

Como demostrou o conceituado historiador Philipe Ariès, tempos houve em que a morte não era escondida.

Segundo Ariès (2003, p. 84), "Com o fortalecimento da doutrina capitalista, há uma nova atitude diante da morte e dos mortos. Se até o século XVIII não havia separação radical entre a vida e a morte, a partir do século XIX essa separação se acentua, pois há o desenvolvimento acelerado do individualismo, do pensamento racional, da secularização da vida quotidiana.

Os enterros que até então eram realizados nas igrejas vão paulatinamente sendo objecto de inúmeras discussões, pois aos poucos o sepultamento nos templos religiosos vai perdendo seu carácter sagrado, assumindo um estigma cada vez mais profano. Seria o desenvolvimento da “morte selvagem”, e o fim da “morte domada” ou “familiar” que teria vigorado até então.

A “morte familiar” vigorou no Ocidente Católico por toda a Idade Média até o século XVIII, quando se buscava uma total aproximação da morte e dos mortos.

Uma boa morte era representada pela previsibilidade dos findos dias, para que o moribundo assim pudesse preparar nos mínimos detalhes os ritos fúnebres necessários para uma passagem tranqüila para a companhia de anjos e santos. Os últimos dias de vida tinham que ser vividos na colectividade com a companhia de parentes, amigos, irmãos de confraria. O sepultar na igreja onde o indivíduo havia freqüentado durante toda sua vida era de fundamental importância, numa relação estreita com o mundo dos vivos.

Já a “morte selvagem” desenvolvera-se principalmente a partir de meados do século XIX, caracterizando-se pela idéia de repulsa e afastamento do morto da convivência com os vivos. Era preciso o desligamento do falecido da convivência humana para que pudesse sair do plano palpável dos vivos e entrar em contacto com a sociedade de seus ancestrais. Era o penoso processo de preparar e enviar o “de cujus” para um suposto “reino dos céus”.

A morte era cada vez mais individual, ficando os rituais fúnebres reservados somente aos parentes mais próximos. Dentro dessa perspectiva, uma das principais provas desse afastamento entre vivos e mortos era a difusão da ideia de transferir os enterros das igrejas para cemitérios longe do espaço urbano, separando, assim, a sociedade dos vivos da sociedade dos mortos."

Deve a morte ser escondida ou devemos desde crianças aprender a encarar a morte com naturalidade?

Pela minha parte gostava de ver discutida a questão para desmistificar este grande tabu. Até porque a morte estando desde a nascença biologicamente predestinada é um assunto profundamente cultural.

Ela constitui aquilo que o célebre antropólogo Marcel Mauss designou como facto social total, pela sua dimensão social, cultural, económica, demográfica, jurídica, política...em todo o tempo e em todo o lugar...ninguém lhe pode escapar.

Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos...

Bom fim de semana

O Público, a Sonae e o Projectista Licenciado em Engenharia

Reproduzo este post a pedido de JPP, que por sua vez lhe foi encomendado pelo JMF, a quem tinha sido pedido por BA, a quem preciso de agradar para um dia me arranjar um cargo bem remunerado e porque todos temos ódio ao Projectista Licenciado em Engenharia.

"Escrevo estas linhas [sobre as aventuras de Sócrates projectista] porque Belmiro de Azevedo me pediu, ou, Belmiro de Azevedo pediu a José Manuel Fernandes que me pediu para escrever estas linhas.

Como a SONAE perdeu a OPA sobre a PT, o desejo de vingança do “grupo” é enorme e é para isso que existe o Público e o Cerejo, o “novo pide”, para vilipendiar o pobre do proto-engenheiro Sócrates que, há vinte anos, fazia uns projectos para uns amigos que, por coincidência, não os podiam assinar, graciosamente é claro, sem qualquer da burocracia que faria as Finanças hoje grelhar um cidadão nas sinistras suspeitas de fugir ao fisco.

Ou pior, como escrevo no Público, escrevo estas linhas para agradar a Belmiro de Azevedo ou a José Manuel Fernandes que não as pediram, mas vão ficar agradados por eu as ter escrito e alguma recompensa me hão-de dar.

Ou pior ainda, escrevo estas linhas para que o senhor Primeiro-ministro e o seu gabinete saibam que a “a mim ninguém me cala” e por isso, como fizeram com Manuel Alegre, me dêem a cabeça de um ministro numa bandeja para me amansar.

Eu digo já qual é o ministro... Ou pior do pior, mãe de todos os piores, escrevo estas linhas para tramar a tríade Menezes – Lopes – Ribau que a última coisa que querem é que Cerejo olhe para eles com o mesmo olhar com que olha para as casas elegantes que enxameiam a Guarda com assinatura de José Sócrates.

Ou pior ainda, o absoluto pior, o pior que encerra o puro mal, porque no meu ignoto canto, mergulhado na raiva pura, no monstro verde, na bílis do mais total ressentimento, invejo o sucesso brilhante do engenheiro Sócrates como desenhador e projectista, um homem que faz, que tem obra feita no distrito da Guarda, enquanto eu não durmo à noite porque apenas pertenço àquela confraria inútil que só escreve livros e artigos, mergulhada na sua própria peçonha.

Deve haver coisas ainda muito piores, mas a minha imaginação não chega lá".
Copiado do Blogue Abrupto.

Este bom homem que o Jornal Público odeia por causa da falhada OPA sobre a PT.

Bom fim de semana

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Sobre o abate de árvores um pouco por todo o lado

"Só é conhecido um processo de absorção do dióxido de carbono em larga escala: a fotosíntese das plantas (...) as plantas desenvolvem-se extraindo carbono deste gás. A maior parte do peso de uma árvore, de uma planta ou da mais pequena folha de relva é constituída por carbono obtido desta maneira e, quanto maior é a planta, mais carbono ela tem incorporado.

Isto quer dizer que o efeito de estufa pode ser directamente combatido com vastos programas de florestação. Infelizmente, como de resto é bem conhecido, é exactamente o contrário que tem vindo a acontecer na última década.

As mais prolíferas florestas do globo, as florestas humidas dos trópicos, vêm sendo arrasadas sem qualquer esforço de reflorestação e, pior ainda nem sempre são abatidas para aproveitamento em madeira, utilização que permitiria, ao menos, conservar o carbono armazenado no material lenhoso (...)

Deste modo, a destruição das florestas tropicais está a contribuir para o aquecimento global (...) "
In Steven Yearley, A Causa Verde, 1992, pág. 21.

E nós por cá? Como está o nosso relacionamento com o verde da cidade?

Já li em qualquer lado que Loulé vai recuperar o Parque Municipal. Como se recupera uma coisa que está de boa saúde? Só quem não é utilizador regular do Parque pode falar em recuperação do mesmo. O Parque está bem de saúde obrigado.

O Parque Municipal de Loulé para além de património ambiental da cidade é um autêntico pulmão para quem quer respirar ainda algum ar com o mínimo de qualidade de vida.

Não conheço o projecto e tenho por princípio não críticar aquilo que desconheço. O que não me impede de ficar verdadeiramente apreensivo...

Bom final de semana

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Confundir a lógica das coisas com as coisas da lógica: O problema da má explicação das boas políticas

Há uma moda no ar, que é sobretudo defendida pelos mais acérrimos defensores do partido do poder.

Face ao insucesso da implementação de algumas políticas e da incapacidade de levar a cabo as reformas apregoadas, dizem os fiéis, que o problema não são as políticas, mas sim a má explicação dessas mesmas boas políticas.

Assim sendo, o problema não seria o do fecho das maternidades, urgências e outras que tais, um pouco por todo o país, sobretudo em zonas pobres do interior rural, mas a incapacidade do ministro em explicar os benifícios para essas mesmas populações de lhes serem retirados esses serviços sociais que tão prejudiciais seriam ao seu desenvolvimento e bem estar.

Tristes populações que não sabem o que é bom para si, mesmo que tão insistentemente lhes expliquem que isso só lhes traria melhor qualidade de vida e aumento de saúde e bem estar.

Não entende este mau povo, que nascer em ambulâncias em alguma terra de ninguém é sempre melhor do que nascer em local próprio para o efeito.

Não entende este mau povo, que quando lhes perguntarem onde nasceram os seus filhos, poderão sempre dizer que, tal como os pais, que nasceram debaixo de alfarrobeiras ou num quarto escuro de uma velha casa, agora os seus filhos nascem a meio caminho de lugar nenhum, ou mesmo num qualquer ajuntamento de Espanha, que isto de nascer em Portugal não é nada distintivo na Europa.

O ministro foi demitido, mas a nova ministra já disse que a política era para continuar, porque o problema provavelmente não são as políticas mas a má explicação das boas políticas.

Na cultura, a ministra também foi posta a andar, mas aí, não podemos dizer, que o problema foi da má explicação das boas políticas para a cultura, simplesmente porque não havia política cultural neste governo.

Nunca poderá haver uma má explicação de uma boa política que não existe. Quem vier por bem vai continuar as inexistentes políticas para a cultura do governo socialista no poder. A obcessão do défice não deixa espaço para a cultura e esta não pode crescer em nome da salvação do país.

O problema portanto é a má explicação das boas políticas.

Mesmo que se façam reformas que contrariem todos os princípios da implementação de um processo de mudança social.

Reformar contra os actores...principais dessas mesmas reformas...contra os professores, contra os juízes, contra os jornalistas, contra médicos e enfermeiros, contra os trabalhadores, contra as populações afectadas por essas mesmas reformas. Alguém pode reformar a educação sem o contributo dos professores, por exemplo?

Reformar de cima para baixo...impondo as boas reformas presentes na mente de alguns iluminados que crêm saber o que é melhor para as populações que governam do que as próprias populações.

Reformar sem envolver... os participantes dessas mesmas reformas e aumentando o centralismo e a concentração de poder.

Reformar... com base em princípios meramente economicistas...

Depois sabemos o que nos vão dizer os fiéis...este mau povo que não se deixa reformar!

Mude-se o povo.

Bom final de entrudo

sábado, fevereiro 02, 2008

Resistir aos eucaliptos: A esquerda da minha alma

Os eucaliptos são uma espécie arborigena que se caracteriza pela destrução massiva de toda a espécie de vida animal e vegetal que circunda à sua volta.

Consumindo enormes quantidades de àgua para sua sobrevivência, secam todo a habitat em seu redor, impedindo qualquer forma de vida de florescer.

Há um eucalipto no Partido Socialista Português que quase tudo seca à sua volta.

Felizmente, o homo sapiens funciona de forma diferente da vida vegetal e a probabilidade da existência de uma completa extinção da diversidade das espécies é apenas um mito que a história dos homens sempre destruiu.

Deixo-vos com um texto magnífico da voz mais forte da resistência aos eucaliptos.

ROMPER O CERCO

Intervenção de Manuel Alegre

Clube dos Pensadores - Gaia, 28 de Janeiro de 2008

Felicito o meu amigo Joaquim Jorge e o Clube dos Pensadores por terem criado, contra a corrente, um espaço de debate de ideias que é já uma referência. A nossa democracia precisa de menos regulamentos sobre os comportamentos individuais e de mais respiração, mais debate, mais espaço para confrontar ideias, projectos, causas.

Nos últimos tempos, têm aparecido notícias e gente a anunciar o que eu vou ou devo fazer. Sei bem que a agenda mediática tende a sobrepor-se à agenda política. Mas eu não sou pessoa para se deixar pressionar ou condicionar por agendas alheias. E tal como nunca pedi a ninguém para lutar por mim, também não vou deixar que sejam outros a pensar ou decidir em meu nome. Não sou santo milagreiro nem acredito em homens providenciais.

Bato-me por ideias e convicções. Mas tenho uma aguda consciência de que, como dizia um clássico, “há limites para a intervenção consciente num processo histórico inconsciente”. O facto de ter obtido, nas condições conhecidas, mais de um milhão de votos nas últimas eleições presidenciais, não me conferiu o dom de estar sempre a conseguir o impossível, nem me constituiu na obrigação de fazer o que outros não querem ou não sabem fazer.
Venho aqui para expor alguns pontos de vista e para reflectir e conversar convosco.

1. Há trinta e tal anos Portugal era um país cercado: pela ditadura, pela guerra colonial, pelo isolamento internacional, pelas muitas formas de cadeia e censura que as pessoas traziam dentro de si. Havia quem se acomodasse e havia quem não se conformasse. Eu não me conformei.
Em 25 de Abril de 1974, a História deu uma volta em Portugal. Com altos e baixos é imenso o caminho percorrido. Completaram-se os vários ciclos anunciados pelos três D do programa do MFA.

O da democratização, iniciado com as eleições de 75 e concluído em 82, com a criação de um Tribunal Constitucional civil; o do desenvolvimento, cumprindo a transição do subdesenvolvimento até à integração europeia. E o da descolonização, que só se encerrou em 1999, com a devolução de Macau à China e com a lição de democracia dada por Timor.
Se há trinta anos nos dissessem o que iria acontecer ninguém acreditava.

Também o mundo estava cercado e bloqueado pela lógica da guerra fria e do equilíbrio do terror. As tentativas de vias originais acabaram esmagadas ora pelos tanques do Pacto de Varsóvia, como em 1968, em Praga, ora pelas bombas de Pinochet inspiradas pelos americanos, como em 1971, no Chile.

Ninguém então podia imaginar que, num país como Portugal, onde o próprio CDS advogava, no seu programa, a “sociedade sem classes”, essa expressão viesse a estar completamente fora de moda e hoje seja quase uma heresia falar de esquerda e socialismo.

2. Com a queda do muro de Berlim, houve quem esperasse que tivesse chegado a hora do socialismo democrático. Mas o que chegou foi a globalização. E com ela, o capitalismo mudou de natureza, como disse recentemente o antigo ministro de Bill Clinton, Bob Reich. Eis as suas palavras: “Nós respeitávamos outrora o modelo capitalista americano pela sua capacidade para garantir um crescimento forte, alicerçado num sistema de valores.

Hoje rejeitamo-lo porque ele agrava as desigualdades e aumenta a nossa precariedade. Liquida impiedosamente o cidadão que há em cada um de nós. E põe em causa a coesão e justiça social, o respeito pela empresa, a moralidade, os valores, os serviços públicos.”

3. A grande questão nas sociedades modernas foi sempre a tensão entre a garantia da igualdade de direitos e de autonomia individual, por um lado, e as inevitáveis desigualdades geradas pela dinâmica do mercado, por outro. O mercado cria riqueza, mas, por si só, não é capaz de realizar a justiça social.

Havia mecanismos para temperar a lógica irracional do mercado: regulação pelo Estado, redistribuição pelo imposto, educação pública, serviços públicos de saúde e segurança social, sindicatos, contratação colectiva. O problema é que o capitalismo globalizado tende a esvaziar o papel destes mecanismos.

A receita do pensamento único é por toda a parte a mesma: diminuição do papel regulador do Estado, esvaziamento dos serviços públicos, precariedade, guerra aos sindicatos. Há, por assim dizer, um cerco neo-conservador que procura evitar ou bloquear alternativas. Há quem se acomode e quem não se conforme. Eu não me conformo.

4. Na Europa, Maastricht propôs, aparentemente em pé de igualdade, a moeda única e a cidadania europeia, mas só previu prazos e sanções no que respeita à moeda. O Pacto de Estabilidade e Crescimento manteve este desequilíbrio entre uma política monetária restritiva e políticas sociais vagas.

E foi neste ponto que a esquerda europeia começou a capitular. Quando devia ter defendido e revalorizado o modelo social europeu, cedeu à tentação gestionária. O cerco ideológico neo-conservador atingiu a esquerda socialista precisamente quando ela governava na maioria dos países europeus.

5. No caso português, o cerco agravou-se devido às fragilidades estruturais do país. Baixos níveis de formação, elevadas taxas de insucesso escolar, fraca cultura de inovação, pouca tecnologia incorporada, custos de energia altos. A isto acresce a deficiente competitividade do país cercado pela concorrência internacional. E também, internamente, pelos grandes interesses económicos e mediáticos.

Com honrosas excepções, o capitalismo português foi sempre, e continua a ser, como se viu recentemente no caso do BCP, um capitalismo de favor e de favores. Passa a vida a exigir menos Estado, mas vive e sobrevive à sombra e à custa do Estado, ao contrário das pequenas e médias empresas que constituem a força do tecido económico português.

A tudo isto soma-se uma espécie de neo-rotativismo entre os dois partidos do chamado bloco central, cujas diferenças ideológicas, pelo menos no plano das políticas económicas e sociais, têm vindo a esbater-se. Há quem se acomode e quem não se conforme. Eu não me conformo.

6. É certo que na questão dos costumes a actual maioria socialista tem a seu favor alguns passos essenciais: intervenção voluntária da gravidez, lei da paridade, procriação medicamente assistida. A seu favor ainda o modo como foi exercida a presidência portuguesa da União Europeia, sobretudo a realização das cimeiras com o Brasil e com África, que vieram confirmar o que tenho dito: pela sua história e pela língua portuguesa, Portugal, sendo um pequeno país, pode ser um actor global.

Poder-se-á dizer que o executivo tem a seu favor, também, a redução do défice das contas públicas. É um facto, ainda que a redução do défice não possa ser vista como um fim em si mesmo, antes deva ser encarada como um meio para promover o crescimento económico e resolver os outros grandes défices nacionais: o défice social, o défice da educação, o défice cultural e ambiental, o défice do emprego e, sobretudo, o terrível défice das desigualdades.

7. O desemprego não pára de aumentar. Somos já o quinto país da União Europeia com maior taxa de desemprego. De que serve termos um défice de 3 por cento se continuamos a ser um dos países mais pobres da Europa e o mais desigual a distribuir a sua riqueza? Cerca de dois milhões de portugueses, praticamente um em cada cinco, têm rendimentos abaixo do limiar de pobreza.
Uma constatação se impõe: apesar do desenvolvimento registado nos últimos anos, apesar do défice controlado, apesar das ajudas comunitárias, apesar dos milhões de euros dos lucros dos bancos, a pobreza persiste.

Segundo o INE, cerca de 40 por cento da população portuguesa vive numa situação de risco de pobreza antes das transferências sociais. Houve algumas medidas positivas, como o complemento social para idosos. Houve igualmente uma proposta de diminuição de 5 por cento do IRC para as empresas do interior.

Mas houve também o encerramento de serviços públicos nas áreas da educação e da saúde que deixaram nas populações um sentimento de abandono e desprotecção. Apesar de alguns passos, o problema estrutural da pobreza está por resolver. Há quem se conforme e quem não se conforme. Eu não me conformo.

8. Criou-se a ideia de que era preciso sacrificar interesses egoístas e corporativos em benefício do bem comum e que o objectivo das reformas é o de garantir a sustentabilidade do Estado social. Criou-se também a ideia de um excessivo peso de Estado, esquecendo-se o facto de o sector público ser um dos mais magros da União Europeia quanto ao volume de assalariados.

O que é que aconteceu na prática? O nivelamento por baixo do funcionalismo público, a contenção salarial, a perda continuada do poder de compra, o bloqueio das carreiras, a drenagem de recursos, o desmembramento de serviços e a sua crescente privatização, como se a gestão privada fosse necessariamente sinónimo de boa gestão.

O caso mais grave, para mim e muitos portugueses, é o da política de saúde. Em nome da sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde, além das taxas moderadoras para cirurgias e internamentos, têm vindo a ser aplicadas medidas incompreensíveis que de facto se traduzem pelo esvaziamento desta importantíssima conquista social da democracia portuguesa, que é também uma bandeira do Partido Socialista. As pessoas sentem-se aflitas, desprotegidas e abandonadas.

Defender o Estado social não é enfraquecer os serviços públicos nem fazer com que as reformas os tornem mais caros para quem tem menos. Não é fazer recuar o público e avançar o privado. Assim como defender a escola pública não é admitir que possam concorrer ao cargo de director professores do ensino privado, num primeiro e grave sinal, na educação, de promiscuidade entre o público e o privado.

9. Sei que a globalização, com as sua mutações económicas, sociais e tecnológicas, torna cada vez mais difícil aplicar receitas tradicionais aos novos problemas. A demografia alterou-se, criando uma nova proporção entre idosos e jovens. Estes novos dados desafiam o modelo social europeu. A redistribuição de recursos através da reforma fiscal não é fácil, porque o capitalismo financeiro tem muitas formas de promover a evasão fiscal.

Enfrentar os novos poderes transnacionais, globais e, às vezes, mafiosos, é complicado. Entregues a si próprios, os mercados financeiros não tendem para o equilíbrio, como acreditam os fundamentalistas de mercado, mas sim para extremos de euforia e depressão, como escreveu George Soros. As próprias autoridades reguladoras, que deviam limitar estes excessos, perante produtos financeiros cada vez mais sofisticados foram abdicando das suas responsabilidades e afrouxaram a regulação.

Pela primeira vez nos últimos sessenta anos, a Reserva Federal americana pode não estar em condições de evitar a recessão, com reflexos mundiais.
Por outro lado, a difusão do pensamento neo-liberal, com a sua permanente campanha contra o Estado e os serviços públicos, faz com que o cerco seja, não apenas económico e financeiro, mas também ideológico e político. Há quem se conforme e quem não se conforme. Eu não me conformo.

10. É neste quadro que se insere a crise do sistema político e da democracia representativa. Crise que se manifesta em três planos distintos:
- na representação política, porque há alternância mas não há alternativa ( é aquilo a que Pascal Bruckner chamou a “melancolia democrática” );
- na atitude dos eleitores, que se traduz tanto no abstencionismo como em novas formas de intervenção, através de movimentos de cidadãos, como nas últimas eleições presidenciais e nas eleições intercalares de Lisboa;
- no vínculo social e político, com o endeusamento do individualismo e a fractura social provocada por novas e velhas exclusões.

11. O meu camarada Elísio Estanque sublinhou recentemente que “a promessa de «socialismo moderno» está a virar uma espécie de «a-socialismo pré-moderno». Não é este o papel da esquerda moderna. Será que não há alternativas e que aqui, como no resto da Europa, estamos condenados às mesmas políticas de sentido único?

Eu penso que há sempre alternativas. E que o papel dos socialistas, desde o princípio, em todas as circunstâncias históricas, foi sempre o de criar e inventar alternativas. Como disse o prémio Nobel de Literatura Octávio Paz – “Faliram as respostas históricas à pergunta formulada pelos primeiros socialistas sobre a injustiça inerente ao capitalismo. Mas a pergunta permanece.”
Há quem tenha deixado de formular a pergunta. Eu penso que o dever dos socialistas é o de continuar a perguntar e a procurar novas respostas.

12. A diluição ideológica faz com que os partidos políticos tendam a deixar de ser reconhecidos com uma identidade própria e a converter-se em simples gestores do poder possível. A melhor qualidade da democracia implica reformas no sistema político, com vista à sua transparência e à aproximação entre eleitores e eleitos. Essa reforma passa por dentro dos partidos, que têm de ser devolvidos à sua autonomia própria. Nem governamentalização dos partidos pelo poder, nem partidarização do Estado pelos partidos.

A reforma passa também pela compreensão do actual papel dos media. Não há espaço público nos dias de hoje sem os media. É essencial preservar a sua autonomia e independência face aos poderes económicos e políticos, bem como o respeito pela deontologia profissional. Só sairemos da “melancolia democrática” se formos capazes de pensar e lançar as bases de respostas alternativas às políticas do pensamento único.

A democracia tem de romper o cerco. A começar pelo cerco que está dentro das pessoas. O neo-liberalismo globalizado e as formas de poder económico e mediático que ele sustenta não são o fim da história.
Há tempos disse que havia um buraco negro na esquerda. Creio que começa a haver bloqueios na própria democracia, porque esta não supõe apenas alternância, precisa também de alternativas.

É preciso mais esquerda na esquerda.

É preciso mais socialismo no partido que dele se reclama.

É preciso mais democracia na democracia.

Nota biográfica: O Poeta e político Manuel Alegre nasceu em Águeda, em 12 de Maio de 1936. Esteve exilado na Argélia durante o período Estado Novo. É membro destacado do Partido Socialista português, partido do qual foi fundador e Vice-Presidente e pelo qual é deputado na Assembleia da República. Concorreu em 2004 às eleições internas para Secretário-Geral do PS, tendo perdido para José Sócrates. Recebeu numerosos prémios literários e o Prémio Pessoa em 1999. Em 2005 é académico correspondente da Academia das Ciências de Lisboa. Em Setembro de 2005 anunciou a sua candidatura às eleições para a Presidência da República realizadas em 22 de Janeiro de 2006, conseguindo um resultado superior ao de Mário Soares, candidato oficial do Partido Socialista. Após as eleições, formou um movimento cívico, denominado Movimento para Intervenção e Cidadania. (fonte: http://pt.wikipedia.org/)
Fonte: Blogue Boa Sociedade da autoria de Elísio Estanque.

Mais palavras para quê? Resistir aos eucaliptos é preciso.

ps: Os sublinhados são nossos.

Bom entrudo!