O MEDO
O medo,
Um gato preto emergindo da sombra,
espera
nos aposentos dos homens.
(Não o verás entrar, não ouvirás as suas passadas).
O medo, apenas o medo,
com os seus agudos
intermináveis dentes gelados
roendo nos ossos,
ferindo
as nossas carnes assustadas,
o sangue,
sugando, o putrefacto sangue.
Oh, os aposentos dos homens!
quatro paredes,
o tecto,
a janela e a porta
para o vazio...
E lá dentro - oh tempo mal-amado! -
(não o verás entrar, não ouvirás as suas passadas)
um golpe surdo, um engolir,
silêncio, nada...
FRANCISCO PÉREZ-MARICEVICH
Francisco Pérez-Maricevich nasceu em Assunção, no Paraguai em 1937. É poeta, ensaísta, romacista, jornalista e crítico literário. É licenciado em Filosofia e Letras, professor de Literatura em vários escolas secundárias e universidades em Assunção. Francisco Pérez-Maricevich contribuiu com importantes trabalhos no campo da investigação do bilinguismo (espanhol-guarani) na Bolívia. O seu legado poético inclui os livros de poemas Axil (1960), Paso de hombre (1963), Coplas (1970) e Los muros fugitivos (1983). Não existem livros do autor traduzidos em Portugal.
http://casadospoetas.blogs.sapo.pt/31221.html
O medo é um sentimento que nos gela e nos impede de dar um passo em frente ...!
ResponderEliminarUm Abraço da M&M & Cª!
Olá! boa noite.
ResponderEliminarBem oportuno este poema, o medo é
um sentimento difícil de descrever
e eu sinto que tenho medo!...
No meu local de trabalho, estou constantemente atenta!...
E não me digam que é mentira!..
maria.
Meu caro João Martins,
ResponderEliminarnão resisti em postar este poema de Alexandre O’Neill a propósito do medo!
POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos
Alexandre O’Neill
Nós fazemos parte daqueles que não tem medo.
Um abraço fraterno,
Umbelina
Amiga Umbelina,
ResponderEliminarBons ventos a tragam. Sinto-me na obrigação de passar o seu poema a post.
Um grande abraço!
João Martins