A União Europeia anda muito preocupada como o capitalismo e com a economia de mercado e muito pouco preocupada com a democracia. O olhar dos abutres da economia global domina o ponto de vista dos líderes da União Europeia e anula qualquer possibilidade de discussão do capitalismo global à luz dos direitos humanos, da democracia e da dignidade dos povos. A União Europeia anda a fazer exactamente o contrário daquilo que apregoa. A imprensa, políticos de toda a europa, universitários das mais diversas ideologias, e partidos do mais pasteloso centrão, têm-se multiplicado nos últimos anos em elogios ao país dos dois sistemas. O crescimento económico de dois digitos faz esquecer de que forma esse mesmo crescimento é alcançado. Seja o que fôr, isso, de um país, dois sistemas, o que interessa é que a coisa está a dar.
Na China, que agora deveria recordar os vinte anos do massacre na Praça de Tiananmem, não há liberdade de expressão. Não há liberdade de pensamento. Não há liberdade de imprensa. A internet é altamente controlada e vigiada pelo governo. Existe a perseguição e a tortura. No trabalho, predominam condições de escravatura. Os salários são abaixo das necessidades de sobrevivência básica. A dignidade dos trabalhadores à maneira europeia é uma miragem. O partido é de pensamento único e a repressão política está entranhada nos corpos e nas almas.
Mas para a União Europeia parece que nada disto conta. O mercado chinês de biliões de consumidores é uma preciosidade para os capitalistas do ocidente e os salários dos chineses, incorporados nos seus produtos, espalhados agora por todo o globo terrestre, ainda geram a mais valia de obrigar ao abaixamento de salários e de nívelar por baixo os direitos dos trabalhadores em todo o mundo. O capital está unido na luta pela imposição da escravidão global. A União Europeia assobia para o lado e prefere nívelar por baixo, sob a desculpa da perca de competitividade à escala do planeta.
Aos trabalhadores indefesos um pouco por todo o mundo resta-lhes esbracejar e fazer "greves selvagens" à imagem do que se começa a passar no Reino Unido. Depois não se admirem os europeus, dos partidos dos extremos crescerem e aumentarem a sua popularidade para níveis surpreendentes e da própria União Europeia vir um dia a correr o risco de "implosão". O sonho de qualquer capitalista está em vias de concretização. Um exército de reserva escravizado à escala global. Ao contrário do que muito boa gente pensa, a crise não vai trazer nada de bom. Desculpem lá o pessimismo, mas os protagonistas são precisamente os mesmos.
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