Leituras...
"Os assalariados dispensados têm um forte sentimento de revolta, mas esta nada tem de revolta colectiva e organizada. Permanece individual. Os desempregados não constituem um conjunto organizado. Aqueles que têm mais possibilidades de reencontrar um emprego procuram em primeiro lugar deixar de ser desempregados. Não se identificam com a condição de desempregado, não têm, portanto razão para militar a este título. As associações de desempregados desempenham um papel social, às vezes capital. Mas não organizam a revolta. Nenhuma quis ou pôde constituir-se em movimento político. As manifestações públicas que alguns dos seus responsáveis procuraram organizar não tiveram o êxito das manifestações dos empregados da função pública, que não correm o risco de perder o emprego. Isso não significa que a condição de desempregado não seja difícil e dolorosa. Pelo contrário, nunca são os mais infelizes que se manifestam. Mas ela não conduz à revolta organizada. Os desempregados estão, na sua maior parte, envergonhados e dispersos, privados de relações sociais, não reinvindicam a sua identidade de desempregados. As associações de desempregados participam na acção social do Estado. Podem ser muito eficazes sob este ponto de vista, recriam elos sociais, organizam actividades úteis, são frequentemente lugares de reflexão activos, têm feito propostas concretas aos poderes públicos para melhorar a vida quotidiana dos desempregados. Não substimo o seu papel, mas elas não têm por ambição organizar a revolta contra a ordem social."
Dominique Schnapper, Contra o Fim do Trabalho, Terramar, 1998, pp.62-63.
Dominique Schnapper, Contra o Fim do Trabalho, Terramar, 1998, pp.62-63.
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