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quarta-feira, junho 10, 2009

A Curta Memória de Cavaco e Silva

Cavaco e Silva, veio, nas tradicionais comemorações do que no ano passado chamou de "Dia da Raça", falar aos portugueses que não se absteram de o ouvir. Presumo que à hora do discurso, em dia feriado e com o sol a indicar o verdadeiro começo da época balnear, a abstenção dos portugueses ao discurso de Cavaco tenha sido maior do que a abstenção das eleições europeias.

Cavaco e Silva, ou tem a memória curta, ou quer fazer passar os portugueses por tolos. E não me refiro ao desastre dos seus últimos anos de governação, em que o autoritarismo andou próximo do pior autoritarismo de Sócrates. Refiro-me às suas posições sobre a União Europeia e ao Referendo sobre o Tratado de Lisboa.

Cavaco e Silva foi um dos grandes defensores da impossibilidade referendária do Tratado e portanto um dos grandes responsáveis pela impossibilidade de discussão Europeia que a discussão do Tratado de Lisboa implicava. Nessa altura, há poucos meses atrás, Cavaco tratou os portugueses como débeis mentais, como actores passivos e como espectadores consumidores da vida política nacional e europeia.

Em vésperas de eleições europeias, qual não foi o meu espanto, quando oiço o senhor presidente a pedir o "sacrifício", a palavra usada pelo senhor presidente foi mesmo esta, o "sacrifício" dos portugueses, para que estes prescindissem do gozo dos feriados ou das férias e ficassem em casa para ir votar.

No país em que quando se fala em aumento de salários isso é considerado uma "ofensa" pela quase total classe política onde o senhor Presidente da República se situa. No país em que os critérios de convergência europeus e o dogma divino do "défice" abaixo dos 3% espremeu a vida da quase totalidade dos cidadãos e rebentou com as classes "médias". No país em que o ministro Pinho incentiva o investimento externo no estrangeiro aliciando os investidores com a mão de obra barata que carateriza o tecido produtivo português. No país em que o centrão político do partido do Senhor Presidente e do PS de Sócrates fez do neoliberalismo a sua cartilha programática, o senhor presidente Silva vem agora no dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas censurar moralmente os eleitores que se abstiveram nas eleições europeias. Maldito povo este que não se deixa governar.

Disse ainda o Senhor Presidente esta semana que agora o importante é nomear Durão Barroso. Isso no fim de contas é mesmo aquilo que mais lhe interessa. Que Barroso tenha sido um dos grandes responsáveis políticos pelo estado a que chegamos não interessa para nada. O Senhor Presidente quer mais gente a votar, mas quer sobretudo que se renomeie já, rapidamente e em força, o cherne da política neoliberal.

Resta-me boquiaberto deixar no ar a seguinte pergunta: E quem reprova o desincentivo à discussão democrática cujo grande responsável é Cavaco e Silva?

Post Scriptum: Fez bem Cavaco e Silva em vetar a lei do financiamento dos partidos. É que se assim não fosse, tratava-se de compactuar com a falta de vergonha geral institucionalizada.

1 comentário:

  1. Já agora, e pela memória curta do Cavaco: lembram-se de quando era primeiro ministro, recusou uma pensão p Salgueiro Maia?
    Viram-no ontem ir meter uma coroa de flores no seu mausoléu?
    Memória curta ou hipocrisia?

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