A reflexão levada a cabo pela RTP nas minas do sal gema em Loulé, sobre a actividade turística nacional, foi rica em prós e ocultou completamente os contras. Os convidados presentes, todos eles, são agentes altamente interessados na dominação do turismo como sector principal de actividade económica. Empresários hoteleiros, promotores imobiliários, políticos locais e outros que tais, todos, são de alguma forma, os principais interessados na manutenção da monocultura do turismo e nos lucros e dependências de avultados financiamentos estatais.
É inquestionável que o turismo é um sector de actividade de uma importância fulcral para a actividade económica do Algarve e do nosso país. O que causa impressão é o sentido acrítico com que se parte para a discussão, aceitando que desenvolvimento turístico é de per si, condição necessária e suficiente, de desenvolvimento económico e social. O facto da discussão ocorrer no interior subterrâneo de uma mina do sal e de esta ser encarada já não como um sector produtivo que pode gerar alto valor acrescentado, mas como um objecto estético decorativo que deve ser ludificado, é altamente significativo da reflexão levada a cabo.
O Algarve não pode ficar preso da monocultura do turismo. O desenvolvimento económico e social de uma região tem que se fazer a partir da valorização da sua diversidade. O turismo não pode fazer esquecer o investimento nas pescas, na agricultura, na indústria, nas novas tecnologias e nas energias renováveis, no pequeno comércio e nos serviços e na formação profissional dos trabalhadores. O Turismo não pode canibalizar os apoios existentes na região para a economia, sob pena de um dia, um "azar" como um derramamento de petróleo na costa algarvia (o Diabo seja cego, surdo e mudo) arrasar a economia de uma região, de uma assentada.
Um conjunto de lugares comuns foi recorrente na discussão dos prós. É preciso valorizar o património arquitectónico. É preciso divulgar a boa gastronomia. É preciso valorizar o que de bom cá temos. É preciso apostar na valorização de novas experiências e no turismo "sexy". É preciso apostar na cultura e no entretenimento. É preciso apostar no turismo "sustentável". Tudo coisas já bem conhecidas e apregoadas aos sete ventos e nas quais é difícil não estar de acordo.
O problema, é que, quando passamos dos belos discursos, para a constatação das práticas, é que a porca começa a torcer o rabo.
O Algarve continua a ser uma lastimável vergonha em termos de (des) ordenamento do território e continua-se a construir desenvergonhadamente em cima do litoral. Mesmo quando os melhores planos e programas de ordenamento do território adquirem letra de lei. Passa-se no Vale do Garrão e pasma-se com a construção a meia dúzia de metros das dunas ditas douradas. Passa-se pela zona do parque de campismo em Quarteira e pasma-se com a quantidade de construção que ali está a crescer a meia dúzia de metros da praia. Passa-se por Albufeira e constata-se que é o próprio Estado e a Administração Regional que são juridicamente "sancionados" por construir parques de estacionamento em cima da praia. Passa-se no Pontal e é ver as populações numa luta heróica a mobilizarem-se para impedir os monstros PIN, os novos símbolos do novo riquismo parolo, que degradam a qualidade ambiental de toda uma região. Passa-se. Passa-se. Passa-se. Exemplos são como o mexilhão. Abundam e não faltam.
O turismo, que há alguns anos, no Algarve paradisiaco, já foi dito de "qualidade", é agora um turismo massificado de "pé descalço".
O que mais beneficiaria o turismo da região do Algarve, era inverter todo o conjunto de predadoras práticas, que nos conduziram alegremente até aqui. O conluío entre as políticas e uma boa parte dos políticos do Algarve e da administração central, os interesses imobiliários, ligados, ou não, directamente e indirectamente à hotelaria, e por vezes, ligados de mais, aos clubes de futebol e ao "lobbie" da construção civil, têm contribuído para destruir o mais belo património turístico de Portugal.
O ambiente e o turismo sustentável têm, ao nível dos discursos, entrado progressivamente na boca de autarcas e empresários locais. As práticas, essas, é que desmentem todos os dias as maravilhas da verborreia. Assim, não há turismo de qualidade que resista. Haverá nos desejos e nos discursos. A qualidade, essa, voa, paradoxalmente, em " low cost" , para outros lados do mundo. Até porque com a confusão gerada pelos estaleiros eleitorais, em plena época alta, nem podia ser de outra maneira.
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quarta-feira, junho 24, 2009
O Não Dito do Turismo Na Mina Do Sal Gema
Faço da vida um caminho em que a felicidade está nas pequenas grandes coisas que o mundo nos permite desfrutar.
"Carpe Diem"
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Viva João,
ResponderEliminarExcelente post.
Certeiro e perspicaz nos artigos como sempre.
De facto, estive lá no programa Prós e Contras o qual me pareceu mais o Prós e Prós. Fui com um amigo que é Director de um hotel em Albufeira, o qual infelizmente teve de despedir pessoal. Entrei também em contacto com outros directores de hotéis que passaram pelo mesmo problema, mas esses, por qualquer razão, não interessava que fossem ouvidos. Nem sequer tinham lá qualquer delegado sindical para falar nos enormes números do desemprego no sector da hotelaria.
Qualquer pessoa de qualquer outro lado do mundo que visse o programa, de certeza que pensaria que crise era coisa que não nos está a afectar.
O programa desta vez foi encomendado...
em nome do turismo, tem destruido e continuam a destruir o algarve.
ResponderEliminaragora o ultimo ataque é à ria formosa e à costa vicentina.em olhão querem construir em plena zona de protecção especial e na zona ribeirinha construiram edificis de 6 pisos em cima de uma antiga estrumeira.tudo isso e muito mais no blog olhão livre,que já foi amaeçado com o tribunal pelo presidente daCMO