Não há povo sem cultura. A cultura é a alma de um povo. Sem verdadeiramente cuidar da sua reprodução cultural, a identidade cultural de um povo acabará em qualquer coisa de muito hibrído e fragmentado. A cultura artística, na sua diversidade de manifestações: música, teatro, pintura, escultura, literatura, poesia e todas as outras formas de arte, seja erudita ou popular, é crucial para que um povo se reproduza e se produza como nação.
Politicamente, a cultura sempre foi tratada com desprezo por quase todos os governos nacionais. Existiu nos últimos anos uma excepção: Manuel Maria Carrilho foi o ministro que demonstrou perceber a importância do investimento cultural no desenvolvimento económico (sim, económico) social e cultural do nosso país.
Com a eleição de José Sócrates a cultura foi decretada um apêndice no orçamento de Estado. O desinvestimento na cultura durante a governação de Sócrates foi uma evidência indesmentível. Isabel Pires de Lima saiu, depois da sua inexistência ministerial, após ter "faltado" às comemorações oficiais dos 100 anos de nascimento de Miguel Torga.
O seu sucessor, Pinto Ribeiro, advogado e docente na área do Direito Comercial, mais não fez do que legitimar a invisibilidade do Ministério da Cultura. Com o olhar da gestão económica, olhou para a cultura como um custo e não como um investimento. A haver investimento, este tem que ser reprodutível. O mesmo é dizer que Mozart morreu. O discurso foi, mais uma vez, predominantemente neoliberal. É possível fazer mais com menos. O dogma da racionalidade gestionária neoliberal aplicado à gestão cultural.
Sócrates, criticado recentemente sobre o esquecimento da Cultura, respondeu com o advérbio talvez: Talvez a cultura, talvez. Esta semana, o Ministro da Cultura, o tal que procura "fazer mais com menos", respondia na Rádio Renascença à "deserção" da melhor pianista portuguesa, nome de reconhecimento internacional, Maria João Pires, a propósito de Belgais e dizia: Sim. Maria João Pires é singular. Mas em Portugal aos olhos do Estado somos todos diferentes, todos iguais. O Zé Cabra ficou feliz.
Restou o Allgarve. Mas o ministro da Economia e da Inovação já não faz férias no Algarve. Ou se as faz, já não é ministro da Economia e da Inovação. Um par de cornos, no Parlamento, não faz parte da tradição cultural portuguesa. Hoje, Sócrates reuniu com 50 personalidades da cultura. As eleições estão à porta.
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