O mecanismo da procura do culpado, é talvez um mecanismo universal presente em todas as organizações e sociedades. A busca do culpado é uma catarse realizadora, que a todos nos pode deixar confortados e de consciência tranquila com essa justificação legitimadora que nos assegura que nós não temos nada a ver com o "problema". Na educação, este mecanismo da busca do culpado, tem sido fértil nos últimos tempos e tem percorrido todos os participantes disso a que se chama, por vezes com pompa e circunstância, "o problema da educação".
Para o governo de Sócrates não há que enganar: o grande culpado do "problema da educação" são os professores e os sindicatos. Só uma educação sem professores (ou pelo menos com outros professores) e uma organização do sistema educativo sem sindicatos poderia resolver "o problema da educação". Os sindicatos sabem claramente onde está "o problema da educação". É do governo e das políticas educativas a culpa do " estado educativo a que chegámos". Os alunos, dividem-se no processo de atribuição de culpas, entre os professores e as políticas do respectivo Ministério. A Ministra e o Ministério descobriram esta semana que a culpa é dos "media" (fascinante descoberta). E o presidente do conselho executivo do agrupamento de escolas de Darque quer agora legalizar a culpa dos pais.
O absurdo professoral chegou então ao parlamento. Uma petição com 13500 signatários pede a "responsabilização efectiva das famílias nos casos de absentismo, abandono e indisciplina escolar". Ora levando o racíocinio ao absurdo poderiamos sempre questionar: E porque não penalizar os pais dos pais? E os pais dos pais dos pais? E os pais dos pais dos pais dos pais que são responsáveis pelo facto de mais de 70% da população activa portuguesa ter o nono ano ou menos? E que tal responsabilizar os pais dos pais dos pais dos empresários portugueses pelo facto destes terem uma escolaridade no nosso país em média inferior aos seus trabalhadores? Talvez a pena de prisão resolvesse o "problema".
Dizem os estudos científicos, que entre muitas outras causas, o abandono escolar tem causas estruturais que o provocam. É sabido que há uma sobrerepresentação das classes populares no abandono e no insucesso escolar. É sabido que os rapazes abandonam em muito maior número que as raparigas e isso remete-nos para diferenças de género face à escolarização. É sabido que há desigualdades territoriais face ao abandono escolar e que por exemplo este é maior onde o tecido produtivo funciona com base em mão de obra barata e desqualificada. É sabido que os contextos escolares e as práticas pedagógicas dos professores podem gerar mais indisciplina. É sabido que há causas estruturais e portanto, sociais, que podem gerar mais violência e indisciplina e que esta pode inclusivamente ser construída na interacção entre professores e alunos. É sabido. É sabido.
Esteve bem o PS, O Bloco de Esquerda e o PCP. O conservadorismo do PSD e do CDS nesta "matéria" não engana ninguém. Absurdos em educação? Preparem-se para o que aí vem. Este é o "problema".
Post scriptum: E que tal se em vez de lançar disparates educativos na arena pública, se começasse, por uma vez na vida, por ouvir os especialistas?
Ver, por exemplo, aqui: http://tv1.rtp.pt/noticias/index.php?t=Peticao-pela-responsabilizacao-dos-pais-e-hoje-entregue-na-Assembleia-da-Republica.rtp&article=212692&visual=3&layout=10&tm=8&rss=0
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