Em 26 de Dezembro de 2007, um dia depois do dia de Natal, dirigi-me por motivos de saúde ao Centro de Saúde de Loulé e dessa visita resultou uma reclamação e o seguinte post:
"O estado da Saúde no Centro de Saúde de Loulé
Dia 26 de Dezembro de 2007. A gripe anda no ar e deixei-me apanhar por ela. Quinze horas da tarde. Chego ao Centro de Saúde de Loulé. O marcador assinala a senha 28. Pago a consulta. A funcionária dá-me a senha 48. Percebo imediatamente que a tarde vai ser dolorosa. Dezassete horas da tarde, Centro de Saúde a abarrotar, a lentidão do atendimento dá a entender que o rácio médico/utente é profundamente desiquilibrado. Mais de metade das pessoas não têm sequer cadeira para se sentar. Dou o lugar a uma senhora idosa que percebo em maior sofrimento do que o meu. Fico uma hora e um quarto em pé. Como eu, perto de metade das pessoas. O acolhimento não é minimamente condigno. Faz frio lá fora e as ambulâncias vão chegando. É claro que os utentes das ambulâncias têm prioridade. A fila de espera vai engrossando. Para lá do meio da tarde, já arrependido de ter tomado tão má decisão, pensei se não estaria a agravar a minha situação de saúde. Perto das dezassete e quinze, assisto em directo, à arrogância tipíca dos funcionários públicos do passado que ainda estão em acção no presente. Um pobre emigrante de Leste pede uma informação com o filho ao colo. Resposta dura da funcionária. Se quiser espere, se não quiser pode ir embora. Não me contive, pedi o livro de reclamações. A minha primeira reclamação foi a desumanidade de uma tarde de espera para ser atendido. Claramente, trata-se de uma questão de organização dos serviços de saúde. Face à procura acrescida dos serviços de saúde nestas alturas, manter um ou dois médicos de serviço que seja, é altamente disfuncional. A segunda reclamação teve a ver com a desumanidade que é esperar de pé, horas, uma vez que as cadeiras disponíveis não eram suficientes para todos os utentes. Impensável fazer esperar de pé quem está a sofrer de uma enfermidade. Claro que quando a organização do trabalho não é pensada, a tendência é para o caos se instalar. As pessoas mais descontentes vão protestando e a miníma situação é um rastilho que alimenta a confusão. Perante a impaciência legitíma dos utentes, a funcionária ainda teve o "azar" de usar de alguma arbitrariedade na triagem dos doentes. Um senhor de meia idade com um problema num olho direito passou à frente de um jovem rapaz com igual problema num olho esquerdo. A revolta instalou-se e a violação do princípio de igualdade de tratamento alastrou a indignação. Ofensas de parte a parte e nova confusão instalada. A meu lado, uma senhora ex-emigrante em França, escandalizada com a situação do sistema de saúde português, dizia; bem me disseram que era assim, mas só vendo com os meus próprios olhos. Passou a fazer ela própria a triagem da gravidade das doenças. Esta menina tem asma, esta menina tem que entrar. E a menina entrou mesmo. A funcionária perdeu o controlo momentaneamente. Aqui quem faz a triagem sou eu! Dizia a funcionária indignada pela inesperada substituição de funções. À minha frente soprava um senhor de idade já avançada. Dizia ele; em vez de construírem aquele estádio do Algarve tinham feito bem em construir um hospital. Entretando o rapaz do olho preenchia o livro de reclamações. Dezanove horas, discutia-se o caso da senhora que tinha caído do escadote e que tinha tido prioridade na triagem, mas que afinal não estava tão mal quanto isso. A "fingida" tinha enganado os demais utentes e funcionários. Dezanove e vinte, quatro horas e pouco depois de ter chegado, saía do Centro de Saúde. Por pouco não escapava de lá vivo! A minha senha era o 48, à minha frente uma senhora com ar de dona de casa tinha a senha 84. Não queria estar no lugar dela...Felicidades e bom Ano Novo para todos!"
Na sequência da reclamação, recebi um telefonema de uma profissional do Centro de Saúde de Loulé, que numa postura muito assertiva, me informou que a reclamação estava a ser levada em conta e que os serviços iam proceder em conformidade.
Por motivos de necessidade de tratamento médico regressei hoje, dia 18 de Novembro de 2008, a este local e fiquei muito bem impressionado pela positiva. O espaço de entrada permite maior conforto aos utentes. Há um serviço de triagem que organiza e racionaliza o trabalho dos profissionais, existe uma televisão (agora virada para os utentes na sala de espera), os serviços de triagem estão informatizados e pasme-se a receita médica é imprimida informaticamente, o que nos permite perceber o que os médicos escrevem.
Se penso que devemos reclamar quando o serviço público não serve os cidadãos, também é justo agradecer quando se vê interesse e preocupação em fazer bom serviço público. Parabéns a quem reorganizou os serviços.
Quando será que os utentes lutam pelos seus direitos???... Não têm só o direito de pagar impostos!!!... Aqui está um exemplo de que se deve denunciar o que está mal para bem de todos.
ResponderEliminarO exemplo do João Martins devia de ser seguido por todos. Há que reclamar quando tal se justifica. Só assim conseguiremos um serviço melhor e um atendimento mais humano e eficiente.
ResponderEliminarOlá Jorge. Um grande abraço.
ResponderEliminarObrigado pela visita.
João Martins