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segunda-feira, abril 14, 2008

Devem os Jornalistas homenagear os Políticos e os Políticos distinguir os Jornalistas?

Há muito tempo que não me lembrava de sonhar enquanto dormia. Esta noite tive daqueles sonhos em que acordamos a meditar sobre as maravilhas do inconsciente e sobre o que ocorre enquanto recarregamos baterias da dureza da vida.

Sonhei que o Washington Post, o Los Angeles Times e o USA Today tinham atribuído, em homenagem a George W. Bush, a distinção de político do ano, nos EUA, pela sua justa dedicação ao povo americano e pelo seu amor ao desenvolvimento da Humanidade.

Sonhei ainda, que o The Times e o The Independent, atribuíram o prémio de homem político da década a Tony Blair, pela sua nobre causa em defesa da democracia à escala mundial e pelo apoio dado nesse sentido ao governo dos EUA na guerra do Iraque.

Sonhei também, que os jornais, Le Monde, Le Figaro e o Liberation, distinguiram Nicolas Sarkozy, como figura política do milénio, pela sua excelente intervenção musculadíssima nos bairros ditos "difíceis" dos suburbios de Paris e que tanto contribuiu para a qualidade da democracia na sociedade Francesa.

Sonhei depois que, em Portugal, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social tinha, em conjunto com o Jornal Público, o Correio da Manhã e o Diário de Notícias, por unanimidade, decidido atribuir ao Primeiro Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, a distinção de governante do século XXI, pelas suas qualidades como negociador, como promotor de consensos alargados e como homem digno e de honra no cumprimento da palavra, assim como das suas promessas eleitorais.

O sonho terminou, ou, pelo menos, de mais nada me recordo e passei a ter que me relacionar com a realidade.

Essa, dramaticamente, ultrapassa o pior dos sonhos sobre as relações de interdependência entre políticos e jornalistas. Se a interdependência sempre existiu, o que para mim é motivo de pasmo é a visibilidade da ultradependência. Aquilo que se "normalizou" e que ninguém já questiona chegou ao ponto dos jornalistas premiarem os políticos e os políticos premiarem os jornalistas, nas barbas indiferentes dos eleitores consumidores.

Sim, estou a falar do facto de a Associação dos Órgãos de Comunicação Social do Algarve (ASORGAL) ter considerado Seruca Emídio autarca algarvio do ano.

Poderia até ser outro o distinguido e até podia o autarca ser do PCP (coisa que sinceramente dúvido que pudesse acontecer), o que se lamenta é que os jornalistas nem se questionem sobre isto.

Conseguir-se-á fazer oposição assim? E ganhar eleições não será mais fácil para os distinguidos?

Não estaremos perante uma das perversões das regras básicas da democracia que é a necessidade de relativa independência dos órgãos de comunicação social face ao poder político?

Pelo menos todos percebemos porque não ouve qualquer pedido de esclarecimento da imprensa local sobre o massivo abate de árvores na cidade de Loulé.

Não se trata só de ausência de cultura ambiental...não é só disso que se trata...

Ps: Inicialmente o título do post não começava por Devem os Jornalistas mas sim por Podem os Jornalistas...achou-se por bem alterar pois pelos vistos poder podem...aquilo que não sei é se devem.

2 comentários:

  1. Caro João:

    O problema está, não apenas, na questão da deontologia.
    Está na própria atribuição da «condição» de jornalista em Portugal...

    De qualquer modo, vá-nos contando os seus sonhos. Ficamos todos a ganhar.

    Um abraço.

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  2. Pois... a condição de jornalista deriva de existirem jornais e revistas. Escrever e comunicar ideias, emoções e sonhos e mister designado de formas diversas. Escrita paga, em jornal, revista ou em gabinete de comunicação tem um objectivo próprio: prestação de serviço! Não deviam, numa sociedade justa e regulada, pagadores e pagos elogiar-se reciprocamente, mas isso é fruto da, ainda, reduzida fiscalização das finanças autárquicas e também, embora menos, do Estado!
    A Cidadania deve nesta matéria fazer o trabalho de informação e de desmontagem da "informação do sistema" e criar massa crítica suficiente para expôr o ridículo de tais negócios, isso tentam os Blogs, que os há, também, de jornalistas, de médicos, de advogados, de escritores, de sociólogo, de professores, de cientistas, de artistas, de poetas, de Pessoas Livres... por isso cada vez mais quem quer achar a Verdade, é neles que a procura!

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