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quinta-feira, abril 17, 2008

A arte da proibição

Proibido fazer revoluções

25 de Abril de 1974




"O escritor Manuel da Fonseca contava que assistira, pela mão de sua mãe, à chegada a Lisboa dos militares golpistas de 28 de Maio de 1926, e que a senhora, incomodada com o banzé das tropas, desabafou: - Deviam fazer uma lei a proibir revoluções!

Os sucessores de Gomes da Costa ouviram-na, decerto, porque, desse Maio em diante, até um dia de Abril, quarenta e oito anos depois, por decreto, por postura, por regulamento, tudo foi proibido - claro, as revoluções e vários livros do filho, Seara do Vento, Cerro Maior, O Fogo e as Cinzas, por exemplo.

Começava então um tempo, acrescentado em 1933 com a entronização de Salazar e do "Estado Novo", em que o Direito teve muito poucas áreas de indiferença, metendo o nariz em tudo, sem balança, nem venda. Já nos esquecemos de muitas proibições, mas, durante meio século, não se pôde ouvir certas rádios, nem ler certas palavras, nem casar com uma enfermeira, nem beber Coca-Cola, nem andar de bicicleta ou usar um isqueiro sem licença. Não se pôde, não se pôde, não se pôde.

E o clima de proibição sistemática, abarcando tudo, mas tudo, dos mais inofensivos comportamentos aos mais subversivos panfletos, levou a que, com o tempo, nem fosse necessário produzir uma lei para proibir, por exemplo, a entrada de uma senhora de cabeça descoberta numa igreja."

António Costa Santos, Proibido, Lisboa, Editora Guerra e Paz, 2007.

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