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sábado, fevereiro 28, 2009

Mais do Mesmo ou Mudança de Fundo?

O PS apresentou o seu candidato à Câmara Municipal de Loulé, o ex-presidente da Câmara, Joaquim Vairinhos.

A primeira coisa que me oferece dizer é que aparentemente se trata de um regresso ao passado. Não quer isto dizer que não estamos perante uma pessoa competente para a gestão da coisa pública, pois a experiência pode ser sempre um factor importante a ter em conta, mas há que reconhecer que isso é também um sinal claro de falta de vitalidade do PS Loulé. O partido adormeceu e não renovou os seus quadros à altura de ter gente jovem em quantidade e qualidade para fazer face aos desafios que a política e a sociedade atravessam nos dias de hoje.

No contexto da política das Terras de Loulé, Joaquim Vairinhos foi a menos má das escolhas. Talvez ele seja dos candidatos actuais aquele que mais condições reunisse para fazer face ao actual estado de coisas a que chegou a governação de Seruca Emídio. Não que seja o meu candidato preferido, pois esse seria Vitor Aleixo, mas certamente será o que tem algumas hipóteses de conquistar a autarquia Louletana.

Na conferência de imprensa de apresentação de candidatura dada em Loulé, no conhecido restaurante "O Pescador", Vairinhos teceu e bem, duras críticas à gestão do actual edil Seruca Emídio, salientando a falta de "habitos democráticos que parece não haver", de resto uma crítica que pode ser apontada ao PS Nacional, e "medo das pessoas manifestarem a sua opinião", crítica que também se enquadra bem no partido em que se insere Vairinhos à escala nacional. Se isto significar uma ruptura com a governação do engenheiro Sócrates é um bom sinal e sinal de esperança, se isto significar apenas estratégia eleitoral de conquista de poder, é discurso para inglês ver.

Depois Vairinhos foi também dizendo que "primeiro, ouvir as pessoas", opção com a qual estamos completamente de acordo, o que faz falta efectivamente, é ouvir a malta. Mas disse mais, disse das pessoas que já ouviu que "as pessoas necessitam de uma alternativa". Pela parte que me toca, sim. Enquadro-me naqueles que acham que Loulé precisa de uma alternativa. Mas essa alternativa não pode ser mais do mesmo. Porque a ser assim, mais vale ficar com aquilo que já temos.

Vale a pena dizer ainda que aquilo que os partidos devem fazer não deve ser apenas "ouvir" as pessoas, ou, fazer de conta que se as ouve, para legitimar as suas estratégias de conquista de poder. Vale a pena dizer que o que os políticos e os partidos têm que fazer é "escutar" as pessoas e sentir as suas preocupações e necessidades da vida quotidiana. "Ouvir" as pessoas, será mais a função do padre e do psicólogo, aos políticos exige-se mais. Exige-se que se tenha a capacidade de as envolver na resolução dos seus problemas e dos problemas da vida da cidade. Participação, envolvimento e transparência da vida democrática é portanto aquilo que se deseja. Democratizar a democracia.

Depois, Vairinhos foi duro nas críticas, com a dureza que a conquista do poder democrático exige, mas ao fazê-lo foi também de certa forma injusto. Ao dizer que o concelho de Loulé teve nos últimos anos um "retrocesso generalizado" não está com certeza a falar verdade aos Louletanos. Loulé cresceu neste últimos anos, desenvolveu-se, embora de forma pouco sustentável e com certeza que a qualidade de vida dos Louletanos em muitos aspectos melhorou. Alguns destes aspectos, o mérito será do executivo autárquico, a maior parte do que de bom se fez em Loulé deve-se concerteza aos cidadãos louletanos. Felizmente para todos nós que a política não determina todos os aspectos da vida social.

Mas Vairinhos tem toda a razão quanto fala que não houve efectivamente "desenvolvimento sustentado" e que o que tivemos foi "uma gestão de políticas avulsas, políticas de ocasião". Esse foi o maior problema de Loulé nos últimos oito anos. Não ouve estratégia, o desenvolvimento foi confundido com crescimento, a política do "betão" foi claramente a prioridade e ouve certamente muitas situações de "incompetência política" de que a desastrosa intervenção na Avenida José da Costa Mealha, as filas de espera ao longo de dias e noites à porta das creches e infantários ou o facto "menor" da "proibição" da exposição de dois quadros numa exposição de pintura numa galeria Louletana são bem reveladoras. Em resumo, o que faz falta é a elaboração de uma estratégia de desenvolvimento sustentável para todo o concelho, mas sobre isso voltaremos a falar em post futuro.

Depois, Vairinhos falou ainda, das políticas de habitação social que criam "guetos" o que pode significar que está atento a este importante fenómeno (esperemos pelas soluções apresentadas) e falou também das fortes "manchas de pobreza", numa autarquia com um dos maiores orçamentos do país e lembrou também e bem, a ausência de parques de estacionamento onde pouco ou nada se fez nos últimos anos.

No geral esteve bem na sua intervenção. Onde Vairinhos borrou a opa foi no discurso sobre a "insegurança". Ao invocar a "insegurança nas ruas", promove um discurso político que provavelmente lhe trará mais votos (pelo menos assim acreditam os políticos) mas faz inevitavelmente fugir o meu. Já assim foi com Vitor Aleixo candidato que até reunia a minha simpatia há quatro anos atrás.

É certo que numa cidade que vai crescendo todos os anos e complexificando o seu tecido social a "segurança" das populações é com certeza uma preocupação fundamental. Mas Loulé é uma cidade segura, não vivemos felizmente no Rio de Janeiro e todos os dados estatísticos nacionais e internacionais confirmam que vivemos num país relativamente seguro. Sempre me causou um profundo incómodo a exploração da "insegurança das populações" e do clamar por mais "ordem" e "segurança" sobretudo vindo este discurso dos partidos ditos de esquerda. É claro que a segurança deve ser assegurada, é claro que nada melhor que o policiamento de proximidade para tranquilizar as populações, mas agitar os fantasmas da "insegurança" em época eleitoral é um erro político brutal.

Um verdadeiro partido de esquerda tem que ter incorporado ideologicamente (sim, ideologicamente) o combate às desigualdades sociais, à "exclusão" social e à pobreza. Deve apostar verdadeiramente na educação, na saúde (sim, na saúde), no apoio à terceira idade, na cultura e no ambiente. Deve orientar-se pelo aprofundamento da democracia e pelo aprofundar da participação democrática. Deve caminhar para um desenvolvimento sustentável que respeite efectivamente o trinómio ambiente, sociedade e economia, de forma equilibrada, entre estas três dimensões fundamentais da sustentabilidade (como devem ter reparado inverti a ordem).

Ao orientar-se por estes princípios ideológicos e ao preocupar-se em levá-los à prática o PS Loulé já não fazia pouca coisa. Não precisamos de mais do mesmo. Precisamos de mudanças de fundo. Obama continua a ser um exemplo a seguir.

5 comentários:

  1. João; Ponto 1- quero que saibas que concordo com a análise que fazes da vida do ps local;
    Ponto 2- comungo genericamente com a avaliação que fazes da governação de Socrates.
    Mas, olhando para a nossa realidade, não consigo aceitar mais quatro anos de folia, adiamentos e atrasos.
    Que mal encontras em dar-se a volta por cima com um candidato com créditos reconhecidos e, ainda em bom estado para se dedicar ao Concelho?
    Não me vais dizer que se evita a humilhação merecida, pois isso seria cruel radicalização, até porque tal, a ninguém serviria e mais barbaramente se abateria sobre todos a arrogância laranja.
    Desculpa mas não tenho, nem quero ter, qualquer promessa de lugar. Apenas eu deva ter aguentado mais "sapo" que tu nesta nossa "estranha" democracia.

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  2. Ora boas noites amigo Almeida,

    Cá estou a ver e a observar atentamente o que o novo candidato tem para nos dar. Como digo até agora apenas me incomóda e muito o discurso sobre a "insegurança" (e garanto-lhe que não são complexos de esquerda.

    Certezas só tenho estas:

    1. Votarei Bloco de Esquerda nas Europeias.

    2. Votarei Bloco de Esquerda nas Legislativas.

    3. Votaria no Professor Almeida na Junta de Freguesia de São Sebastião.

    4. Se Vairinhos demonstrar ser mais um fiel seguidista do PS de Sócrates à imagem da liderança PS local votarei provavelmente Bloco de Esquerda nas autárquicas.

    5. A certeza de que este espaço vai continuar um espaço de livre opinião, mesmo com o medo que por aí perdura e tanto já se fala e com custos para a minha vida pessoal. Mas é a vida e ela não passa de um mísero ponto no universo.

    Agradeço a sua visita habitual, que que aliás interpreto como a visita de um verdadeiro democrata.

    Abraço
    João Martins

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  3. Calma João; sinto azedume nas palavras e ainda os protagonistas estão na sala de caracterização!
    Verdade que partilhodas exaltações do amigo, mas continuo a entender que devemos separar o contexto local do nacional e admito poder ter eu também posicionamentos diversos.
    Faz bem em dizer: Votaria Almeida para a Freguesia, pois o próprio ainda não decidiu se se candidatará de novo(tal não dependedeacordos ou convites que, de todo, não foram feitos); sinto que existe confiança entre nós e isso agrada muito sentir.
    O meu aplauso à candidatura de JV baseia-se na observação das possibilidades e na esperança de que este constitua uma equipa jovem de modo a que possamos dispôr de quadros autárquicos experiente que assegurem continuidade de gestão sustentada do Concelho, apesar de livrar o PS da justa punição pelo trabalho pouco visível destes, quase, 4 anos. Embora fosse muito injusto e irresponsável penalizar os cidadãos com novo mandato desta equipa que partirá sem créditos nem obra de relevo!

    Abraço
    Almeida

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  4. De acordo,

    Não tenho azedume nenhum nas palavras nem há aqui radicalizações. Se não existir uma ruptura clara com o PS Nacional então o caminho é o da cepa torta. E desse estamos todos fartos.

    De resto, concordo totalmente consigo.

    Cumprimentos
    João Martins

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  5. O PS de Joaquim Vairinhos, não tem RIGOROSAMENTE NADA a ver com o PS do Sócrates. Esteja descansado amigo João.

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