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quarta-feira, maio 21, 2008

Serviço Público...Quem é este João Nunes?



Caro leitor do Macloulé leia e delicie-se...

... porque também de prazer se faz a leitura.

Uma Carta de Qualidade

Voz de Loulé de 15 de Maio de 2008
Carta ao Director


...Quem é esse João Nunes? - Em resposta ao artigo do sr. Bruno Inácio do dia 15 de Abril de 2008

"...Quem é esse João Nunes? Deve ter sido a frase mais ouvida nos gabinetes da Câmara de Loulé, logo após a publicação de um artigo que eu escrevi sobre as obras de requalificação de Querença.
Pouco habituados à crítica, logo procuraram encontrar o responsável de tamanha audácia. Imagino que depois de várias reuniões em que participam os melhores investigadores policiais do mundo descobriram finalmente o autor do polémico artigo. Os principais responsáveis pelo projecto não quiseram dar a cara, por isso a resposta coube a um jovem de 25 anos, natural e residente em Querença de nome Bruno Inácio.
O seu artigo está cheio de preconceitos, velhos chavões e recalcamentos, passa ao lado das questões fundamentais e acaba em insultos pessoais. A parte mais emocionante do texto é quando num brilhante acto de dedução científica o sr. Bruno desmascara o Dr. João Nunes, que nas suas palavras se resume a um pseudo intelectual, hipócrita, burguês, citadino, lírico, que gosta de chouriças assadas e que passa duas a três horas por semana deliciado a ver velhinhos agachados a apanhar alfarrobas...brilhante!!!
O meu primeiro impulso foi ignorar esta provocação, (que no fundo só serve para desviar as atenções para aquilo que realmente interessa), mas como presumo que o senhor Bruno tem aspirações a ser o próximo presidente da Junta de Freguesia de Querença e por achar que está a ser mal orientado, deixo aqui algumas recomendações para a sua carreira política.
Devia moderar a sua linguagem. Quem leu o seu artigo percebe facilmente que evitou falar dos edifícios alterados ou do dinheiro que em vez de ser gasto em obras de saneamento ou para melhorar a qualidade de vida das populações é utilizado em obras de fachada. Ao invés de contrapor com argumentos válidos, tenta antes descredibilizar o autor de uma forma insultuosa, fazendo crer que se trata de um burguês citadino que desconhece as dificuldades da vida do campo.
Apontei vários erros que considero que foram cometidos nas obras de requalificação. Ser da cidade ou de Querença tem alguma relevância para o caso?
- O senhor Bruno fala constantemente em nome do povo de Querença e do interior, como se as suas palavras reflectissem o sentimento geral da população, mas existem muitos moradores em Querença (talvez a grande maioria) que não gostaram do resultado final das obras de requalificação, e as suas opiniões são tão válidas quanto a sua. Dizer que só os autarcas têm o direito moral e legitimidade de opinar é não só uma afirmação pouco democrática, como passa um atestado de invalidez mental a todos os que discordam dos senhores.
- A imagem que dá dos turistas da cidade que visitam Querença é ofensiva. Se as obras de requalificação tiveram como única finalidade atrair mais visitantes à povoação, as palavras preconceituosas que o sr. Bruno utiliza para descrever os citadinos que se deslocam a Querença levam qualquer um a recear o tipo de recepção que irá ter. Não está por isso a prestar um bom serviço a Querença.
- Quando se gosta preserva-se! Não faz sentido dizer que se gosta muito de um lugar para depois alterar ou destruir o que gostamos. O património de um povo é aquilo que lhe dá identidade: As pedras, as plantas e os animais que de uma forma tão desdenhosa o sr. Bruno refere no seu artigo são uma herança de todo o povo de Querença e não pertença de um grupo reduzido de pessoas que passam pelo poder de quatro em quatro anos e que depois já ninguém se lembra que existem.
...A cruz de pedra, a igreja, os velhos caminhos de pedra, as árvores centenárias são todos testemunhos do passado de que eu me orgulho, forma mantidos inalterados pelos seus antepassados durante séculos, para que as gerações seguintes pudessem usufruir dos objectos que eles achavam importantes. Ao alterar ou destruir sem um motivo válido esse património, estão a privar os meus filhos e os meus netos da sua herança cultural, e não haja dúvidas de que não existe desenvolvimento sustentado que não tenha como base o respeito pela herança patrimonial e cultural, basta olhar para os países desenvolvidos da Europa que souberam a par do progresso económico preservar os seus monumentos.
- Posso garantir que os "pseudo intelectuais" citadinos não vão comer chouriças no largo da igreja, nem perdem o seu tempo a escrever sobre uma aldeia do interior algarvio que não lhes diz nada. De facto o esquecimento que o poder central tem tido em relação ao interior deste país tem permitido os mais variados atentados paisagísticos e ambientais. Existem autarcas que a coberto desse mesmo esquecimento têm cometido excessos e abusos de todo o tipo. Fizeram das suas autarquias verdadeiras coutadas privadas onde reinam sem oposição. Munidos de uma arma chamada "obra de interesse público" lá vão semeando estradas e rotundas nos terrenos privados dos outros sem terem de prestar contas a ninguém. Para eles não existem impedimentos à construção ou problemas de saneamento básico.
- Por fim tenho de fazer um reparo a algo que deixou transparecer no seu texto, parece que para o senhor Bruno o trabalho no campo é algo pouco digno e que só apanha alfarrobas e amendoas quem não sabe ou não pode fazer outra coisa. Porém o que torna alguém digno é a sua postura perante a vida e não os bens materiais ou o emprego que ocupa.
A visão redutora que revela sobre a vida do campo é compreensível para uma geração que teve que sair do interior para procurar outras condições de vida na cidade, mas hoje o acesso às novas tecnologias e os meios de comunicação permitem a um jovem do campo ter as mesmas oportunidades do que um jovem da cidade.
- Há uns anos atrás a apanha da alfarroba era uma das principais actividades em Querença, mas a sua idade de 25 anos leva-me a suspeitar que nunca na vida se debruçou para apanhar uma alfarroba.
A minha idade permitiu-me assistir ao desenvolvimento do litoral algarvio. Praias de sonho viraram autênticos pesadelos de caos urbanístico, fruto da ganância e da ambição desmedida.
A visão que o sr. Bruno qualifica de catastrófica tem por base a minha experiência de vida. Muitos dos erros cometidos há trinta anos atrás são hoje responsáveis por problemas de saneamento com consequências por vezes graves para a vida das populações do litoral e zonas ribeirinhas. Não gostaria de ver uma repetição do que aconteceu no litoral ocorrer no interior. Infelizmente o critério usado nas obras de requalificação e o discurso dos responsáveis não são um bom prenuncio para o futuro de Querença. A minha única esperança reside na capacidade do ser humano de aprender com os erros cometidos, e esperar que um dia o desenvolvimento local seja respeitador da natureza e do património."

Carta publicada no Jornal A Voz de Loulé de 15 de Maio de 2008.

Digno dos escritos de Eça de Queiroz e com a sabedoria de um Gonçalo Ribeiro Teles.

Caro João Nunes, é para mim um orgulho, um prazer e uma honra saber que temos pessoas com a sua valia no Concelho de Loulé...o meu muito obrigado, a minha reverência e minha sincera homenagem à sua clareza e consistência de pensamento sobre as necessidades dos locais da aldeia de Querença.

O Macblogue agradece

4 comentários:

  1. Só por isso mas mesmo por isso vale a pena dar o Euro à Voz de Loulé. E viva o autor da cartinha inteligente que a Voz teve de publicar. Bartolo

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  2. Olá; Belo assunto que prova que na "Voz de Loulé" ainda há entrada à opinião não tutelada... Quero deixar a minha vénia ao João Nunes cuja opinião li em diferido for cortesia do João Martins. Do incómodo que causou no "Palácio" sei e até do desconforto da resposta de Bruno Inácio, também! Este último conheço e o primeiro de modo algum (apenas tenho um colega com esse nome e diversíssimos alunos), não posso esclarecer a questão que ajudaria o Bruno: "-Quem será João Nunes?"

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  3. Olá.

    Excelente "escovadela" sem dúvida.

    Tenho pena de não conhecer o texto do "Doutor" Bruno Inácio, moço que cursou na universidade alojada na Cerca do Convento Espírito Santo e ao que julgo saber, faz parte do Gabinete de Propaganda & Relações Exteriores da CêéMéLe.

    Conta-se que entrou no funcionalismo público pela mãozinha do Sr. Hélder Martins, seu conterrâneo e naturalmente companheiro partidário.

    Está portanto justificada a sua participação no assunto em questão.

    Entretanto e porque se trata de moço de boa figura, poderão visualizá-lo no sitio da associação de estudantes do INUAF, bastando para tal clikar na opção "traje acedémico".

    É o que está ao lado da moçoila, não esqueçam.

    Aqui fica o link:

    http://www.aeinuaf.pt.to/

    ...de nada.

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  4. A Camila ecreveu:

    "moço que cursou na universidade alojada na Cerca do Convento Espírito Santo"

    visualizada a foto, contata-se que o títere usa capa/batina de cor bispar em conformidade com a infraestrutura que frequentou.

    Os traços fisionómicos, escondidos pelas luneta de dois vidros munida de hastes que a fixam aos pavilhões das orelhas que lhe concedem um ar mafioso, bem de acordo com a actividade que exerce: - Gabinete de Propaganda -
    Os Goebbels ... sempre existiram o chefe do Gab. de Inf. e propag. do ppd/psd e quiçá o formador do "doutor" foi ou ainda é um revolucionário de denominado Eduíno Vilar que foi companheiro de Durão Barroso e Saldanha Sanches.

    Com mentores desta linhagem, que resultado se pode obter.

    Nota: O meu Manel diz que a moçoila tem um ar engraçado. Que é uma pena estar mal acompanhada.

    Um abraço a todos e beij. para a Camaila.

    Ummbelina

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