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sexta-feira, maio 09, 2008

Retratos da cidade: Alguém sabe que horas são?

Parque Municipal de Loulé - Maio de 2008


Final de tarde - Hora de Verão


Buraco energético

"Portugal anda em maré de cartões vermelhos. Embora só se fale no do buraco orçamental, há outro mais assustador que não tem sido referido: o buraco energético. É que Portugal conseguiu a proeza de ser o país europeu com menor crescimento do PIB para maior gasto de energia. Ganhámos pois o Óscar do desperdício.

A Agência Europeia do Ambiente revela-o no seu último relatório, onde fica o alerta para as consequências futuras desta situação. E esta situação significa, para já, um aumento exponencial da poluição atmosférica, com consequências visíveis nas emissões de partículas, concentrações de ozono e seus impactos na saúde pública. Mas significa, também, que neste país a irracionalidade energética é tal que equivale à da utilização de uma caixa de fósforos inteira de cada vez que se acende um bico de fogão.

A médio prazo esta insanidade traduzir-se-á em pesadas multas europeias e mundiais. É que a UE, à qual, lembre-se pertencemos, já decidiu fazer cumprir as metas de Quioto. Quer os EUA as subscrevam também, ou não. A ineficiência do sistema energético português vai dar direitinha ao buraço orçamental, via baixa produtividade e via multas.

A energia é uma espécie de argola de união entre economia e ambiente. Se a economia portuguesa sofrer, o ambiente piora e fará, por sua vez, piorar a economia. Se o ambiente em Portugal for protegido, ele fará melhorar a economia portuguesa e esta fará equilibrar as contas públicas. Parece enervante o simplismo desta frase. Mas os factos estão à vista.

Foi o analfabetismo ambiental da cultura dos decisores políticos e dos nossos gestores que fez com que chegássemos à situação dramaticamente caricata de ter ao mesmo tempo uma produtividade do século XIX com uma ineficiência energética recorde no quadro europeu."

in Luísa Schmidt, País (in) sustentável. Ambiente e Qualidade de Vida em Portugal, Lisboa, Esfera do Caos.

Luisa Schmidt é especialista nas questões do ambiente e membro do Observatório do Ambiente.

Diz a autora sobre a obra "As histórias que neste livro se contam são as nossas verdades inconvenientes".

Leitura a não perder, sobretudo para os algarvios. Voltaremos ao tema e ao livro.


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