Loulé Abate Alameda de Tílias no Dia da Árvore
Texto retirado da Associação Árvores de Portugal
É uma especialidade algarvia. Enquanto o país inteiro planta árvores no 21 de Março, Loulé abate-as (ver vídeo).
Dezasseis tílias foram abatidas este fim-de-semana na Praça da República. A intervenção foi anunciada numa nota de imprensa poucos dias antes de começar o abate. Em vários blogues da cidade (...) deu-se conta do que estava anunciado, sem se suspeitar que iria começar logo no Sábado seguinte, prolongando-se os trabalhos para o Domingo, 21 de Março. Como é óbvio, e dada a quase total falta de informação, por parte da Câmara Municipal de Loulé (CML), as opiniões, tanto dos autores como dos leitores destes espaços, onde me incluo, foi de consternação e revolta.
Loulé tem um longo historial no que respeita a abate de árvores com pouca ou nenhuma informação prestada aos cidadãos, quer na sede de concelho, quer em Quarteira, o que constitui um terreno fértil para a desconfiança das pessoas. Para piorar a situação, na notícia do jornal Barlavento On-line pode ler-se:
Após uma análise dos serviços técnicos da autarquia, no projecto foi contemplada também a substituição das árvores, já que a maioria está doente
não se referindo qualquer estudo realizado por especialistas em arboricultura ou patologia vegetal.
Apesar de alvo de algumas críticas, por parte de comentários anónimos, a Árvores de Portugal só hoje manifesta a sua posição, pois apenas no dia de ontem, segunda-feira, 22 de Março, nos foi possível obter as informações e opiniões dos responsáveis da CML, neste caso do Vice-Presidente da autarquia.
Afinal, as dezasseis árvores foram avaliadas por uma empresa de arboricultura, perfeitamente habilitada para realizar este tipo de trabalho, ao contrário do que foi noticiado. Coloca-se imediatamente a principal questão: porque não foram informados os munícipes deste facto? É a primeira vez que o actual executivo municipal recorre a uma empresa especializada em arboricultura, pois nos anteriores casos de abates o aconselhamento técnico ficou a cargo de um engenheiro agrónomo, da Direcção Regional de Agricultura do Algarve. Incrivelmente, nada disto foi veiculado para os canais de informação, locais ou regionais, ou da própria câmara, como é o caso do boletim municipal.
Consultei o relatório de avaliação do estado das árvores, produzido pelos técnicos da empresa e com data de 17 de Novembro de 2009, e as recomendações para cada um dos exemplares nele constantes. Doze das dezasseis tílias teriam que ser abatidas devido a problemas sanitários (podridões de origem micótica, maioritariamente) e biomecânicos, principalmente ao nível da parte aérea (das pernadas e ramos). O sistema radicular não apresentava problemas de maior.
Também é referido, para vários exemplares, que estes problemas se deviam a intervenções desajustadas como, por exemplo, podas mal executadas e rolagens. Esta parte do relatório é particularmente significativa, pois reforça a culpa, ainda que indirecta, da autarquia neste triste episódio, uma vez que foram as intervenções mal conduzidas, no passado, que levaram a este desfecho no presente.
As restantes 4 árvores necessitavam de diferentes graus de intervenção, nomeadamente de podas de redução da copa e de remoção de ramos doentes, no sentido de proteger as pessoas e bens. Assim, os autores do documento afirmam que não lhes repugnaria o abate da totalidade dos indivíduos. A opção final da CML por esta solução, segundo o Vice-Presidente da autarquia, deveu-se ainda ao facto de estas árvores irem ficar fora do alinhamento das outras que vão ser plantadas, aquando da requalificação do Praça. A substituição das árvores abatidas será em número igual e da mesma espécie, mas num alinhamento diferente, ficando mais afastadas das fachadas dos edifícios. A minha opinião pessoal, quanto aos motivos apresentados para o abate destes 4 exemplares em concreto, é que dificilmente são suficientes para justificar tal opção. Teria sido preferível a opção de conservar estas árvores, com as intervenções mínimas necessárias para garantir a sua conservação, pelo menos até ao desenvolvimento das novas árvores que vão ser plantadas. Este facto reforçaria ainda a mensagem que a autarquia apenas teria abatido árvores com graves problemas de sustentação, garantindo a confiança das pessoas nos decisores técnicos e políticos.
Fica ainda a questão da data escolhida que, qual acto de supremo humor negro, coincidiu com a Dia da Árvore. A justificação que me foi avançada prende-se com questões de trânsito (menor ao fim de semana) e com o facto de a requalificação do espaço ter início na próxima semana. Na minha opinião, a facilidade com que se tomou esta opção não respeita, de forma alguma, a sensibilidade das pessoas e parece indicar total desinteresse por essa questão.
A verdade é que, ainda que todo o apressado processo possa ter sido feito na maior boa fé, a CML será sempre culpada de vários “pecados”, a saber:
1) Não informou, nem preparou, a população da sua cidade (excepto numa reunião com os comerciantes da Praça) para o abate de árvores que marcaram a infância e a vida de milhares de pessoas (em tempos havia, inclusivamente, uma escola primária neste local); basta consultar os blogues referidos no início deste texto, para compreender a fundamentada indignação de várias pessoas que, de um dia para o outro, e sem qualquer explicação, viram desaparecer árvores que fizeram parte das suas vidas durante vários anos.
2) Não publicou os resultados da avaliação realizada a estes exemplares, de forma a facilitar a consulta por qualquer pessoa, o que teria permitido uma discussão mais esclarecida e fundamentada desta intervenção (o que é, inclusivamente, nefasto para a própria imagem destes responsáveis). Discussão da qual, por exemplo, poderia ter resultado a opção de poupar os 4 exemplares referidos que não apresentavam perigo iminente de queda. A autarquia manifestou uma estranha pressa na realização da acção, o que impediu a discussão do processo e o evitar do mal-estar generalizado entre boa parte da opinião pública louletana.
3) No fundo, e para concluir, na minha opinião, os decisores técnicos e políticos desta câmara manifestaram grande sobranceria relativamente às preocupações dos seus próprios munícipes. A pressa e falta de esclarecimentos, o supremo mau gosto na data escolhida, levaram à transmissão de uma péssima mensagem de deseducação ambiental com danos, eventualmente irreparáveis, na capacidade dos munícipes acreditarem, de futura, na boa vontade de qualquer intervenção da CML nos espaços verdes da cidade.
Na entrevista com o Vice-Presidente da autarquia, e como é nosso hábito em várias situações como esta, fiz questão de deixar algumas sugestões, acolhidas com interesse, principalmente no que refere à informação e preparação das populações para situações deste tipo. As câmaras municipais possuem vários suportes de informação, aos quais recorrem com frequência e que seriam de toda a utilidade para veicular estas informações, nomeadamente os boletins municipais, páginas Web e imprensa local, entre outros.
Seria excelente que esta situação pudesse servir como um caso de reflexão para outras localidades do país, onde constantemente as pessoas são confrontadas com abates e podas de todos os tipos, em grande parte injustificadas e não fundamentadas tecnicamente, sem a mais mínima informação por parte de quem decide.
Ver a fonte aqui: http://www.arvoresdeportugal.net/2010/03/loule-abate-alameda-de-tilias-no-dia-da-arvore/#more-2303
Texto retirado da Associação Árvores de Portugal
É uma especialidade algarvia. Enquanto o país inteiro planta árvores no 21 de Março, Loulé abate-as (ver vídeo).
Dezasseis tílias foram abatidas este fim-de-semana na Praça da República. A intervenção foi anunciada numa nota de imprensa poucos dias antes de começar o abate. Em vários blogues da cidade (...) deu-se conta do que estava anunciado, sem se suspeitar que iria começar logo no Sábado seguinte, prolongando-se os trabalhos para o Domingo, 21 de Março. Como é óbvio, e dada a quase total falta de informação, por parte da Câmara Municipal de Loulé (CML), as opiniões, tanto dos autores como dos leitores destes espaços, onde me incluo, foi de consternação e revolta.
Loulé tem um longo historial no que respeita a abate de árvores com pouca ou nenhuma informação prestada aos cidadãos, quer na sede de concelho, quer em Quarteira, o que constitui um terreno fértil para a desconfiança das pessoas. Para piorar a situação, na notícia do jornal Barlavento On-line pode ler-se:
Após uma análise dos serviços técnicos da autarquia, no projecto foi contemplada também a substituição das árvores, já que a maioria está doente
não se referindo qualquer estudo realizado por especialistas em arboricultura ou patologia vegetal.
Apesar de alvo de algumas críticas, por parte de comentários anónimos, a Árvores de Portugal só hoje manifesta a sua posição, pois apenas no dia de ontem, segunda-feira, 22 de Março, nos foi possível obter as informações e opiniões dos responsáveis da CML, neste caso do Vice-Presidente da autarquia.
Afinal, as dezasseis árvores foram avaliadas por uma empresa de arboricultura, perfeitamente habilitada para realizar este tipo de trabalho, ao contrário do que foi noticiado. Coloca-se imediatamente a principal questão: porque não foram informados os munícipes deste facto? É a primeira vez que o actual executivo municipal recorre a uma empresa especializada em arboricultura, pois nos anteriores casos de abates o aconselhamento técnico ficou a cargo de um engenheiro agrónomo, da Direcção Regional de Agricultura do Algarve. Incrivelmente, nada disto foi veiculado para os canais de informação, locais ou regionais, ou da própria câmara, como é o caso do boletim municipal.
Consultei o relatório de avaliação do estado das árvores, produzido pelos técnicos da empresa e com data de 17 de Novembro de 2009, e as recomendações para cada um dos exemplares nele constantes. Doze das dezasseis tílias teriam que ser abatidas devido a problemas sanitários (podridões de origem micótica, maioritariamente) e biomecânicos, principalmente ao nível da parte aérea (das pernadas e ramos). O sistema radicular não apresentava problemas de maior.
Também é referido, para vários exemplares, que estes problemas se deviam a intervenções desajustadas como, por exemplo, podas mal executadas e rolagens. Esta parte do relatório é particularmente significativa, pois reforça a culpa, ainda que indirecta, da autarquia neste triste episódio, uma vez que foram as intervenções mal conduzidas, no passado, que levaram a este desfecho no presente.
As restantes 4 árvores necessitavam de diferentes graus de intervenção, nomeadamente de podas de redução da copa e de remoção de ramos doentes, no sentido de proteger as pessoas e bens. Assim, os autores do documento afirmam que não lhes repugnaria o abate da totalidade dos indivíduos. A opção final da CML por esta solução, segundo o Vice-Presidente da autarquia, deveu-se ainda ao facto de estas árvores irem ficar fora do alinhamento das outras que vão ser plantadas, aquando da requalificação do Praça. A substituição das árvores abatidas será em número igual e da mesma espécie, mas num alinhamento diferente, ficando mais afastadas das fachadas dos edifícios. A minha opinião pessoal, quanto aos motivos apresentados para o abate destes 4 exemplares em concreto, é que dificilmente são suficientes para justificar tal opção. Teria sido preferível a opção de conservar estas árvores, com as intervenções mínimas necessárias para garantir a sua conservação, pelo menos até ao desenvolvimento das novas árvores que vão ser plantadas. Este facto reforçaria ainda a mensagem que a autarquia apenas teria abatido árvores com graves problemas de sustentação, garantindo a confiança das pessoas nos decisores técnicos e políticos.
Fica ainda a questão da data escolhida que, qual acto de supremo humor negro, coincidiu com a Dia da Árvore. A justificação que me foi avançada prende-se com questões de trânsito (menor ao fim de semana) e com o facto de a requalificação do espaço ter início na próxima semana. Na minha opinião, a facilidade com que se tomou esta opção não respeita, de forma alguma, a sensibilidade das pessoas e parece indicar total desinteresse por essa questão.
A verdade é que, ainda que todo o apressado processo possa ter sido feito na maior boa fé, a CML será sempre culpada de vários “pecados”, a saber:
1) Não informou, nem preparou, a população da sua cidade (excepto numa reunião com os comerciantes da Praça) para o abate de árvores que marcaram a infância e a vida de milhares de pessoas (em tempos havia, inclusivamente, uma escola primária neste local); basta consultar os blogues referidos no início deste texto, para compreender a fundamentada indignação de várias pessoas que, de um dia para o outro, e sem qualquer explicação, viram desaparecer árvores que fizeram parte das suas vidas durante vários anos.
2) Não publicou os resultados da avaliação realizada a estes exemplares, de forma a facilitar a consulta por qualquer pessoa, o que teria permitido uma discussão mais esclarecida e fundamentada desta intervenção (o que é, inclusivamente, nefasto para a própria imagem destes responsáveis). Discussão da qual, por exemplo, poderia ter resultado a opção de poupar os 4 exemplares referidos que não apresentavam perigo iminente de queda. A autarquia manifestou uma estranha pressa na realização da acção, o que impediu a discussão do processo e o evitar do mal-estar generalizado entre boa parte da opinião pública louletana.
3) No fundo, e para concluir, na minha opinião, os decisores técnicos e políticos desta câmara manifestaram grande sobranceria relativamente às preocupações dos seus próprios munícipes. A pressa e falta de esclarecimentos, o supremo mau gosto na data escolhida, levaram à transmissão de uma péssima mensagem de deseducação ambiental com danos, eventualmente irreparáveis, na capacidade dos munícipes acreditarem, de futura, na boa vontade de qualquer intervenção da CML nos espaços verdes da cidade.
Na entrevista com o Vice-Presidente da autarquia, e como é nosso hábito em várias situações como esta, fiz questão de deixar algumas sugestões, acolhidas com interesse, principalmente no que refere à informação e preparação das populações para situações deste tipo. As câmaras municipais possuem vários suportes de informação, aos quais recorrem com frequência e que seriam de toda a utilidade para veicular estas informações, nomeadamente os boletins municipais, páginas Web e imprensa local, entre outros.
Seria excelente que esta situação pudesse servir como um caso de reflexão para outras localidades do país, onde constantemente as pessoas são confrontadas com abates e podas de todos os tipos, em grande parte injustificadas e não fundamentadas tecnicamente, sem a mais mínima informação por parte de quem decide.
Ver a fonte aqui: http://www.arvoresdeportugal.net/2010/03/loule-abate-alameda-de-tilias-no-dia-da-arvore/#more-2303
Uma Câmara sem escrupulos ? Infelizmente ao longo destes anos que Seruca Emídio está a frente dos destinos de Loulé temos constactado que é uma pessoa pouco sensível mas no que se refere a ganhar votos aí a sensibilidade surge à flor da pele.
ResponderEliminarDigamos que nos calhou na rifa desde há 9 anos este rebuçado envenenado. O que se seguirá ? M.B.M.I
A minha solidariedade para com a luta que o macloule tem desenvolvido contra o abate de árvores em Loulé. Confesso que não me sinto totalmente convencido com as justificações do vice-presidente da câmara. E somente dadas após a intervenção da Associação de Árvores de Portugal. Como se os munícipes não existissem. Simplesmente lamentável!!!
ResponderEliminarCaro Jorge
ResponderEliminarRelativamente à justificação para o abate de doze das tílias, eu próprio verifiquei o parecer individualizado patente no relatório, não tendo qualquer motivo para duvidar para seriedade da empresa que o realizou.
No que refere às outras quatro, a nossa opinião está patente no texto.
João
Obrigado pela referência ao texto.
Abraço,
Miguel Rodrigues
João,
ResponderEliminarReforço as palavras de agradecimento do Miguel pela publicidade à nossa tomada de posição.
Abraço.
Miguel Rodrigues: obrigado pelo esclarecimento. Fiquei sem dúvidas!!!
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