A "essencia" do ser Português tem sido objecto de caracterização desde há centenas de anos atrás por escritores, poetas, homens de literatura, políticos, famosos antropólogos e outros que tais. A atribuição de uma característica "essencial" definidora de um povo mais não é do que utilizar como categoria explicativa do comportamento do conjunto total de pessoas de uma determinada "nação" um atributo que precisaria antes de mais nada de ser explicado. Portugal seria então na boca de muito boa inteligência nacional um povo de "brandos costumes". De Espanha não virá nunca "nem bom vento, nem bom casamento". Os Suecos e os Dinamarqueses seriam "frios" por "natureza" e os latino-americanos são com certeza povos de temperamento "quente".
José Gil, conceituado filósofo português, é o expoente máximo deste tipo de raciocínio "essencialista" no Portugal contemporâneo. Segundo Gil, os portugueses teriam "medo de existir", o que indica que haveria uma "cultura do medo" que faria parte da "essência" do ser português. Ora o que fica por explicar neste tipo de racíocinio lógico (?) é precisamente a categoria de pensamento que é utilizada como causa explicativa.
Teria tido medo D. Afonso Henriques de lutar contra a sua mãe para fundar a nacionalidade? E o Infante Dom Henrique teria medo de navegar quando deu novos mundos ao mundo? Salgueiro Maia teria tido medo em fazer a Revolução de Abril? E o povo lisboeta teve medo em sair à rua? Otelo seria um medricas? Terão os emigrantes portugueses no Luxemburgo medo de existir? E Cristiano Ronaldo terá medo de ter sido o melhor do mundo? Quem são estes "portugueses" com medo de existir?
Alberto Martins, líder da bancada parlamentar do PS, qual cão de guarda do "vitimado" Sócrates (terá Sócrates medo de existir?), encontrou uma "velha" característica do povo português para "explicar" a tragédia do primeiro ministro que um dia se disse engenheiro. A sua pessoa tem sido objecto de um dos piores males da sociedade portuguesa. Alberto Martins dirigiu-se a Sócrates para lhe dizer que este tem sido alvo de um dos grandes "males que têm sido definidos na literatura, na poesia e vida portuguesa pela sua dimensão na calúnia, na intriga, na inveja e no maldizer" . Estes "males" do ser português constituem um dos "cancros portugueses de longa duração".
O que não disse Alberto Martins e fica novamente por explicar é aquilo que é usado como categoria explicativa. Onde estava a "calúnia", a "intriga", a "inveja" e o "maldizer" quando os portugueses deram a maioria absoluta a Sócrates? O que fizeram os portugueses a estes atributos quando elegeram Soares como primeiro ministro e Presidente da República? Para onde foi a "inveja" tão cara aos "portugueses" quando a "raça" lusitana recusou Cavaco em prole de Guterres? Qual é a "essência" deste partido que se diz socialista?
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