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domingo, abril 26, 2009

Nós Europeus?

O presidente Silva anda preocupado com a abstenção nas eleições europeias. O "Nós Europeus" parece que pode não passar dos 30% dos eleitores na sociedade portuguesa, o que deixa espaço para 70% de possíveis "Nós, Não Europeus".

Durante anos, os eurocratas, o mesmo é dizer, os tecnocratas e os burocratas que fazem carreira na e da Europa, construiram uma entidade virtual, à margem dos cidadãos. O Zé da Aldeia, o Joaquim da Vila, o António das Ilhas, o Jacinto de Trás-os- Montes e o Manel da Baracinha de Loulé, não contaram para o que quer que fosse nas decisões europeias.


O primeiro ministro prometeu o referendo para ganhar eleições e na hora H brincou de pinóquio e fez um manguito ao Zé Povinho Português. O senhor Silva do Continente dramatizou enfaticamente o "perigo" que seria referendar o Tratado de Lisboa e a discussão sobre a Europa foi vista com maus olhos por políticos e partidos. A memória de Cavaco deve ser curta ou existe nele um pinóquio recalcado que Freud haveria de explicar. O que ele não pode é fazer agora de Virgem Maria e vir dar lições aos portugueses sobre a abstenção que é expectável.

O Presidente da República é responsável, Durão Barroso é responsável, os principais partidos políticos são responsáveis e o primeiro ministro Sócrates é responsável. Se durante anos o povo português foi dispensável e "despedido" do envolvimento das questões europeias, porque raio de carga de água haveria de ir agora jogar um jogo "lá fora", longe da sua aldeia? A legitimidade conquista-se não se decreta.

O Tratado de Lisboa foi entendido como bom, porque é de Lisboa, mesmo não lido, nem discutido, por, aposto, 99% dos Portugueses. A Irlanda, porque disse não ao Tratado, foi ameaçada de sair da Europa e o povo irlandês vivamente "aconselhado" a descobrir o que os tecnocratas europeus acham que é o melhor para os irlandeses. A Europa é entendida como os partidos do centro a entendem e é uma "comunidade imaginada" e "naturalizada" que não admite discussão sobre "aquilo que é". Espera-se depois "infantilmente" que exista um "Nós Europeu".

Acontece que as identidades, sejam elas pessoais, locais, regionais, nacionais, ou outras quaisquer, implicam sempre alteridades, o mesmo é dizer, a relação com muitos outros. Neste caso, poderá existir um sentimento partilhado de "Nós, Políticos Europeus", falta de certeza absoluta, construir um "Nós, Cidadãos Europeus". Por enquanto, a Europa é uma entidade virtual. Sem o envolvimento, a discussão e a participação democrática dos cidadãos dos países europeus nunca chegará a ser uma entidade real. E o quanto precisavamos de uma outra Europa. Uma que fosse mais "real", que fosse mais igualitária e que fosse mais justa. Com esta Europa, sim. Talvez tivessemos um "Nós europeu". Aquilo que nos faz falta, é, ao fim e ao cabo, mais e melhor "imaginação europeia".

1 comentário:

  1. Literalmente de acordo consigo!...
    Nunca fomos nem vistos nem achados.
    Agora, e desculpe lá, João.
    "desemerdem-se"

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