Fui apanhado pela maldita gripe. Ja tinha deduzido que com a carga de trabalho neoliberal entranhada no meu corpo, ia à cama, mais dia, menos dia. Estava na esperança de aguentar até às férias e depois renovar energias para ficar de novo ao serviço da escravidão neoliberal. Não foi possível. Às 21h40m de 3 de Abril de 2009 chego ao Centro de Saúde de Loulé. Uma senhora, nem simpática, nem antipática, atende-me e diz-me para aguardar que já sou chamado para a triagem. Dias antes, tinha aqui estado com o meu petiz. Centro de Saúde a abarrotar. Voltei para casa pois ainda agravava o estado de saúde do pequenote. Nada como as unidades de saúde para piorar o nosso estado de saúde. Desta vez dois gatos pingados aguardavam à minha frente. Suspirei de alívio. Desta vez estou safo. Ninguém quer adoecer na véspera de fim de semana. Pago a consulta. Oito euros e quarenta cêntimos. A última vez que lá tinha ido, antes de Março, tinha pago menos de quatro euros. Sentei-me e comecei a pensar no valor pago pela consulta. É mais do dobro da última vez. Levantei-me e fui perguntar à administrativa que me atendeu o porquê daquele preço. "É da taxa moderadora. Começou no início de Março". Pensei com os meus botões "é a saúde socialista", deve ser o "remédio para a crise". Depois radicalizei os meus pensamentos "é um roubo institucionalizado". Entretanto, chamam o meu nome. Sou atendido por um médico de "Leste". Homem alto, robusto e de trato relativamente agreste, diria que digno de um ex-combatente da Bósnia-Herzegovina. Apesar da dificuldade da língua, faz o seu trabalho de forma muito profissional. Viu-me a garganta e logo disse. Gripe! Vá para casa e deite-se homem. Beba liquídos quentes. E receitou-me um três em um. Últimamente tenho tido excelentes experiências com os profissionais de saúde. As duas últimas vezes no centro de Saúde de Loulé, nos serviços de pediatria do Hospital Distrital de Faro, nos serviços de obstetrícia, no Hospital de Santa Maria também em Faro, fui atendido por profissionais de uma qualidade inexcedível. Fazem turnos de 24 horas, coisa inimaginável para uma profissão deste género e conseguem ter a paciência necessária para a cada vez mais praticada humanização dos cuidados de saúde. Melhorámos e muito nas últimas décadas em Portugal os serviços de saúde. As "corporações" que o governo de Sócrates tanto detesta, fazem o seu trabalho com cada vez maior qualidade. Falta o poder político fazer a sua parte. Mas esse coitado aplica o remédio de sempre. Privatizar, aumentar os custos com a saúde, "fazer mais com menos", um slogan adorado pelos idiotas neoliberais e fechar unidades de saúde na periferia e no interior do país. Depois, fui à farmácia em frente ao hospital antigo em Loulé, o que era dos "pobres" e que agora parece que vai ser dos "pobres" e dos "ricos" e não tinham os medicamentos receitados pelo ucraniano. Fui para Quarteira à Maria Paula. Mais cinco euros de gasolina. Por sorte lá tinham o medicamento. Mas a história das farmácias é uma história para outra altura. Ao todo paguei mais de treze euros de consulta com taxa moderadora e gasolina. Mais caro que os medicamentos. Belo remédio para a crise.
Muita saúde para todos!
Comparando esses gastos com o ordenado mínimo Nacional,veja só, quantas horas de trabalho são precisas para curar uma simples constipação, não somando a esse valor, os impostos que o utente paga. Assim vai a saúde em Portugal. As melhoras.
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