Para reflectir...
...do blogue Boa Sociedade
"Regresso à agricultura?...
Numa época de crise e desemprego há quem defenda que a agricultura familiar pode reemergir como actividade complementar capaz de minimizar as dificuldades e a pobreza. Fará isto sentido? Quanto mim faz, e muito.
Não evidentemente para se apelar a qualquer regresso à sociedade rural (embora se possa reagir “e porque não?!”...) do passado, nem porque se creia que isso possa ser a solução dos males que nos afligem. Mas acredito que o contexto actual justifique uma reanimação da pequena agricultura. Seja como complemento económico, seja até como terapia para escapar – pelo menos por alguns dias da semana – a esta massacrante pressão dos media e dos “eventos” quotidianos que nos cercam, e nos alienam, sem que para eles se vislumbre qualquer hipótese de solução à vista.
Em alguns países desenvolvidos existem programas de actividades lúdicas relacionadas com a agricultura. Ou seja, as pessoas, mesmo as que têm bons empregos na cidade, pagam bom preço só para se poderem entreter nos tempos livres, trabalhando em jardins, plantando legumes, cavando, etc., ainda que isso se faça por puro prazer e não para recolher o fruto desse trabalho.
Em Portugal, país de camponeses até há pouco, a agricultura tradicional foi destruída, e a moderna praticamente nunca existiu – foi subtraída à rentabilidade e aos preços mais baixos dos produtos espanhóis. Porém, continuamos rurais. Só que passámos a comer tomates e maçãs calibrados, bonitos e sem sabor. Somos “semi-camponeses” amontoados nas cidades, vivendo à beira mar, mas sem saber nadar e sem, tão-pouco, poderem dedicar-se à pesca (também ela destruída).
Há dias atrás, uma amiga – uma jovem recém regressada a Portugal e que está a realizar um doutoramento – dizia-me que tem tentado saber informações sobre como criar um negócio no sector agrícola, mas que se tem debatido com imensas dificuldades. Não há incentivos, nem sequer há informação disponível...
Este pequeno barco a virar para o lado do Atlântico, que é o nosso país, parece preferir ser tombado e morrer de fome na praia, do que virar-se para aquilo que melhores garantias oferece para assegurar a subsistência familiar – trabalhar a terra!
Vejam o exemplo daquela família de que há uns dias passou uma excelente reportagem na RTP2. Fartaram-se de Lisboa e há 20 anos voltaram à serra. Com a horta, as galinhas, os coelhos, a criação dos porcos, etc., não páram. E aquela lição fantástica nas palavras da filha menor, quando respondeu à pergunta da repórter sobre a crise: “crise? Nós cá não temos crise, porque quando ela aparece o meu pai muda logo de canal” !..."
in http://boasociedade.blogspot.com/ Excelente blogue. Aconselho vivamente...
Gostei do post.Mas ... a crise não se resolve por mudarmos de canal.A uma criança tem graça ouvir tal afirmação.Eu porém noto que o primeiro passo para se resolver uma crise é precisamente tomarmos dela consciência.E tomar consciência é um processo que supõe informação e discussão, livres.Precisamente aquilo que os midia não fazem.Limitam-se,vergonhosamente, quase e só a aterrorizar os cidadãos.É uma opção.E a quem serve?
ResponderEliminarCaro Vitor Aleixo. Concordo plenamente que o primeiro grande passo para a crise é ganhar consciência do drama que (nos está)nos vai afectar na próxima década. E a discussão e a informação livres são fundamentais. O que achei muito interessante no post do Elísio Estanque é a revigoração da pequena agricultura como forma de minorar os problemas que aí vêm. Penso inclusivé que as hortas urbanas poderão vir a ser uma opção de futuro.
ResponderEliminarCumprimentos
João Martins
Mas estou inteiramente de acordo com essa essa ideia que há muitos anos é defendida pelo Arq.Ribeiro Telles.Esta crise vai redesenhar muita coisa.É inevitável.O que não está garantido é que o humanismo a liberdade e o ambiente saiam revigorados.
ResponderEliminarVítor Aleixo