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sábado, abril 25, 2009

Há coisas que não têm preço

Tinha quatro anos no dia 25 Abril de 1974. O mundo era para mim um sonho cor de rosa. Não havia política, não havia ricos e pobres, não havia ditaduras, não havia pides, não havia nada, para além da ingenuidade de uma criança. Mas afinal, havia PIDE, eu é que não dava por ela. E havia a ditadura, ainda que na sua forma mitigada. E afinal, havia o ler, o escrever e o contar e o decorar todos os rios e linhas férreas de Portugal, de uma assentada. E havia reguada a torto e a direito. E havia a escola só para alguns. E havia a obediência e havia a autoridade que não se discute. E havia as Mecancas, de onde eu fugi, para nunca mais voltar. E manipulavam-se as consciências. E havia o chefe de família, sem correspondência no feminino. E havia licenças para isqueiro e isqueiros sem licença. E havia censura e profissionais da mesma. E havia a guerra em que o meu pai, os meus tios e vizinhos e sogro penaram porque não encontro outra palavra. E não havia topless na praia, nem naturismo, nem direito a isso. E não havia política, sem ser a do partido inteiro. E havia Deus, a pátria e a família e o Evaristo tens cá disto. E havia o Eusébio e a Amália, o que era bom, mas era pouco. E não havia beijos apaixonados na rua e muito menos homossexuais. E havia religião, muita religião, para a domesticação. E havia muita pobreza e havia analfabetos em massa. E havia o senhor doutor que já lá foi, com sua licença. E havia emigrantes, aos montes, mas quase não havia imigrantes. E havia um preto na província que era uma relíquia e havia um chinês em portugal, uma aventura. E havia muito cinzento e sofrimento. E havia, havia, havia. Que se saiba em voz alta o que não havia e o que havia e sobretudo que se saiba que a ditadura castrou um povo!

ps: Post dedicado ao Pedro e ao Miguel que são o presente mas que são também o futuro.

4 comentários:

  1. Foi a maior festa de todas as festas que vivi e viverei... tinha 19 anos e estive lá, para o provar ficaram marcas no corpo dos disparos da PIDE moribunda.
    Belo e sentido texto em que não são esquecidos os teus "herdeiros", esperança da renovação de Abril... se mais não se conseguir, que seja a Liberdade a definitiva conquista e que seja com coragem vivida.
    25 de Abril sempre!

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  2. Viva João, e VIVA SOBRETUDO A ESPERANÇA QUE UM DIA TORNOU POSSÌVEL estes nossos comentários... a ESPERANÇA que continua, porque a luta continua ... ela aí está a entrar todos os dias em nossa casa ... seja pela comunicação social, ou pelo pão nosso de cada dia, que vai faltando à mesa dos portugueses. Reporto-me ao ano de 1969 ... e ao MDP/CDE ... uma aberturazinha que nos parecia muito já ... lembro que estive aí no cineteatro num comício ao lado do Luis Filipe Madeira ... João ... a luta continua ... pelo seu Pedro e Miguel ... e por todos os pedros e miguéis deste país ... que é o nosso e que é lindo e maravilhoso. Obrigada por exixtir!

    Liliana

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  3. Fizeste uma resenha histórica que mostra as grandes diferenças entre o antes e depois do 25/Abril ...

    Mas o futuro o dirá se não estamos a precisar de um novo 25 de Abril para abanar este Pais ...!

    Bom FDS!
    Um Abraço da M&M & Cª!

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  4. Um pouco atrasado o meu comentário mas achando o texto tão bonito que não quero deixar de comentar. E acho que já disse o essencial: o texto é bonito!!! Para quê mais adjectivos?

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