"Enquanto as eslovacas permaneciam sentadas no barracão, todas nuas, à espera que lhes rapassem o cabelo, chegou um oficial das SS ordenando a cinco delas que se apresentassem nas instalações do médico. "Ele queria examinar as mulheres judias", diz Silvia Veselá, "para ver se eram realmente virgens. Também fazia questão de ver se as judias estavam limpas. Depois de terem levado a cabo aquele exame clínico, ficaram surprendidos - mas num sentido negativo. Não queriam acreditar que fôssemos tão limpas. E mais de 90 por cento de nós éramos virgens. Todas mulheres que seguiam a religião judaica. Seria impossível que qualquer delas permitisse que um homem lhe tocasse antes do casamento. No entanto, durante este exame clínico todas ficaram privadas da sua virgindade: os médicos serviram-se dos dedos. Todas foram desfloradas, outra maneira de as humilharem. Uma das minhas amigas, de uma família muito religiosa, disse-me: "Eu queria guardar a minha virgindade para o meu marido e vim a perdê-la desta maneira!" "
Laurence Rees, Auschwitz: Os Nazis e a "Solução Final", Dom Quixote, pág.148.
Li este livro no verão de 2008. Nunca nenhum livro tinha causado um impacto tão grande na minha pessoa. A partir dos relatos de vítimas e culpados, da tragédia de Auschwitz, nunca mais as nossas concepções do mundo e da "natureza" humana ficam na mesma. Cada página consegue surpreender mais do que a anterior no que à capacidade humana de humilhação do outro diz respeito.
Quando se julga ter-se atingido o grau zero daquilo que o ser humano é capaz de negativamente levar a cabo, o mesmo trata sempre de conseguir superar aquilo que julgávamos insuperável! A génese humana se por um lado é demasiado complexa , por outro é demasiado primária.
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