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sábado, outubro 31, 2009

Fragmentos de Vida



Sete horas da manhã de Segunda-feira, apanho o Alfa Pendular para Lisboa. Algures na planície Alentejana, o comboio parou. Uma voz anúncia: " Senhores Passageiros, por motivos de avaria de um comboio de mercadorias, vamos ter que aguardar que se resolva o problema. Está previsto a resolução do problema para daqui aproximadamente quarenta e cinco minutos. Se o problema não se resolver poremos autocarros à vossa disposição". Lá fui eu, num velho autocarro da rodoviária, para a Gare do Oriente. Tinha previsto chegar às dez da manhã ao destino. Cheguei quase três horas depois.

O que vale é que desta vez não tinha encontro marcado. Para azar meu, num país em que a pontualidade é qualquer coisa de geometria variável, quem me espera é muito (e bem) British. A "normalidade" da construção social dos atrasos tão tipíca dos portugueses não dá para pôr aqui a funcionar. Eu penso, que o meu parceiro pensa, que eu penso, que ele pensa, que ambos vamos chegar um "pouquinho" atrasados. Não, aqui é mesmo para chegar a horas. A felicidade, que habitualmente resulta, do atraso de ambos, não é aqui aplicável.


Resultado disso, hoje fui para Lisboa no autocarro das duas da manhã. No Vale do Paraíso é onde todo o sofrimento começa. Desta vez cheguei com cinco horas de "avanço". Para surpresa minha, o autocarro chegou quase meia hora antes. Azar dos diabos. Desta vez, queria mesmo, era sofrer, a dormir, ao sabor do movimento do autocarro.

As viagens chamam-nos sempre a atenção para a vitalidade da vida social. Tudo é movimento. Uns chegam. Outros partem. Outros cruzam olhares de curiosidade. Outros evitam-se. Alguns temem-se. Todos circulam. Ficar quieto é perder a possibilidade de observar uma boa parte do movimento.

Há dias, dava comigo a pensar, que seria um inferno, para mim, ser motorista da rodoviária. Sempre em movimento, com a responsabilidade, de nada deixar parar. Tempos depois, espantava-me, com a "profissão" de empregado de bar do comboio. Aqui não é só o estar sempre em movimento. É a responsabilidade pela manutenção do equilíbrio em movimento. Se dúvido que algum dia aguentasse tanto movimento, talvez me fosse mesmo impossível aguentar o equilíbrio.

Desta vez cheguei ao "Oriente" de Lisboa e vi gente (quase uma dezena) que procurava repousar do movimento. Ali mesmo, no local de "paragem" dos autocarros. Perto de dez sem-abrigo, deitados ao frio e ao relento, sem um tecto que os abrigasse da dureza da vida. Sem abrigo, todo o regresso ao movimento, é provável, que seja mais sofrido. A minha deslocação levava-me até ali, até ao testemunho directo dos destroços do capitalismo.
Quem não aguenta o movimento passa a ser lixo, ou a viver no lixo. O lixo é aquilo que não tem lugar na vida social. As impurezas são para varrer para debaixo do tapete da vida de todos os dias. E se incomódas de mais, são mesmo para eliminar. Longe da vista, longe do coração.

Ao mesmo tempo, no "intervalo" da sua viagem, mesmo à minha frente, uma adulta, ainda adolescente, ligava-se ao mundo através da internet; e mesmo ali parada, libertava-se do espaço e do tempo, que habitualmente nos prende ao local de onde sempre se encontra o nosso corpo. Ali sentada à minha frente, mas com a mente noutro "lugar".

Dei comigo a pensar que o caminhante, talvez seja aquele, que melhor pode compreender, o mundo à sua volta. Ao levantar do Sol, fui "apanhar" o metro. Neste momento em que escrevo, teclo do computador do "ninho" doméstico. O "voltar" para casa é o voltar para o "aconchego" protector.

3 comentários:

  1. Que bela e real história esta tua de hoje... já assisti a isso!

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  2. Se não visse não acreditava, em pleno blogue:
    Município de Loulé Autarcas eleitos pelo PS

    Tivémos eleições autárquicas. Seruca Emídio ganhou… por muitos.
    Joaquim Vairinhos perdeu… por muitos. No entanto, atribuiu a todos menos a si a pesada derrota de 11/10. Não lhe fica bem. Quiz ser o candidato do PS. Escolheu a sua equipa. Teve condições. Perdeu… por muitos. Deve saber assumir a derrota. Assumir que os louletanos queriam Seruca Emídio e não Joaquim Vairinhos. Deve assumir a liderança da oposição.

    Vítor Aleixo e a sua equipa nunca deixaram de ser oposição. Mantivémos, por vezes com muita dificuldade, face às grandes dificuldades criadas pelo PSD, o nosso lugar de oposição. Votando de acordo com a consciência de cada um e do colectivo. Apresentando propostas. Oposição consciente, construtiva. Limitada concerteza pelas actividades profissionais de cada um de nós e pelas dificuldades criadas pelo PSD, não nos dando sequer um gabinete de trabalho ou para receber os munícipes.
    Senhor Professor Joaquim Vairinhos: faça para que os que acreditámos em si, o acompanhámos, lutámos e votámos em si não nos arrependamos disso! Faça, ao contrário, para que os outros louletanos, aqueles que votaram em Seruca Emídio, se venham a arrepender de o ter feito…

    in Blogue dos Autarcas eleitos pelo PS no Concelho de Loulé

    Isto assim já parece que temos a oposição a querer atribuir responsabilidades……

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  3. Caro amigo Almeida,

    Bom resto de fim de semana!
    João Martins

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