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sábado, outubro 24, 2009

Ascensão e Queda do PS Loulé

Os três vereadores do PS Loulé, eleitos democraticamente pelo voto popular não se dignaram a comparecer na tomada de posse do novo executivo municipal. O PS Loulé já definhava. Agora bateu no fundo. Mas tudo tem uma História, feita de muitas e múltiplas estórias. É um pouco dessa extensa manta de retalhos que importa reflectir aqui. De 1989 a 1999, o PS dominou a vida político-partidária no concelho de Loulé. Sob a liderança de Joaquim Vairinhos, o PS encontrou e fabricou um líder forte, incontestado e de difícil substituição. Ora dizem-nos os melhores manuais de Ciência Política, que a substituição de um líder forte e carismático, pode ser de uma complexidade tal, que se esta não for bem pensada, se arrisca a criar o vazio à sua volta. De certa forma foi isso que se passou com o partido Socialista Louletano. Vairinhos pôs as suas legitimas ambições à frente dos interesses do partido local e dos interesses dos cidadãos da terra por onde foi eleito, partiu à conquista da Europa e transmitiu dinasticamente o poder ao seu "natural" sucessor Vitor Aleixo. Vitor Aleixo recebeu desta forma um presente envenenado. Não sendo legitimado pelo voto popular, teve que se submeter ao sufrágio popular em 2002, quando o Partido que governava já tinha um desgaste de mais de dez anos de governação. Começou aí a travessia no deserto. Hugo Nunes, viria, tempos depois, a assumir a liderança concelhia. Mas Hugo Nunes tinha a seu cargo uma responsabilidade demasiado pesada, numa altura em que os fiéis progressivamente iam cada um deles e quase todos em conjunto, tratar das suas vidinhas. Já não cheirava a poder. Não sendo jovem na política, pois o seu historial dentro do partido aponta para as carreiras tradicionais dos jotas, a sua relativa inexperiência e o seu fraco poder político, não lhe conferiam ainda (refiro o ainda) o capítal de prestígio e o capital político que permitisse uma efectiva reconstituição do partido como entidade orgânica viva. Depois é preciso dizer que o seu perfil de paninhos quentes também não o ajudou. Não se sabe o que pensa o Presidente do Partido, com excepção de uma ou outra entrevista dada a jornais locais, sobre a economia, sobre a sociedade, sobre a cultura, sobre o ambiente, sobre o concelho e a cidade, não se sabe nada. Um líder que não gosta de aparecer, não pode ser líder. Juntou-se a isto o facto de Hugo Nunes ser "eleito" deputado nacional no governo de Sócrates e não poder, inevitavelmente, pela própria lógica do princípio de Peter, comandar solidamente uma oposição permanente e consistente ao actual poder Louletano, simplesmente, porque não estava cá. Deixou uma imagem do partido frágil, de uma oposição passiva e nunca pareceu querer inverter tal estado de coisas. O interesse pessoal e os interesses gerais, que existem sempre nas tomadas de decisão da vida de cada um de nós parecem-me ter sido pelo Presidente da Concelhia de Loulé, de certa forma, mal geridos. Após oito anos de quase inexistente oposição, chegaram os turistas. A meia dúzia de dias das eleições legislativas, apareceu em Loulé, Joaquim Vairinhos, qual Dom Sebastião, à conquista de Loulé, numa noite de nevoeiro. Vairinhos, tenho a impressão e uma percepção geral que foi efectivamente importante para o desenvolvimento do concelho de Loulé. Mas tudo tem o seu tempo. Foi claramente uma aposta para não perder por muitos. Diga-se de passagem que também não havia grandes alternativas. A alternativa teria sido começar a construir o futuro a longo prazo aproveitando estas eleições para acumular um capital de experiência nos mais jovens uma vez que são esses que terão que, um dia, vir a ser o futuro do partido. Cálculos pessoais não permitiram que se fosse por aqui. Depois chegou Jamila Madeira. Derrotada na Europa, sua clara opção política primeira. Derrotada nas legislativas, onde não conseguiu o lugar de deputada, restava-lhe o último reduto, a conquista das Terras de Loulé. Mas a política já não pode ser feita de turistas. O eleitorado já não é maioritariamente militante. É, pelo contrário, cada vez mais exigente. E sabe fazer as devidas leituras. Assim chegamos ao dia da tomada de posse. É preciso reinventar o partido socialista em Loulé. É preciso reinventar a esquerda. E é preciso começar já ontem. É que no estado em que a coisa caiu, amanhã é demasiado tarde. A democracia louletana agradecia.

4 comentários:

  1. Caro João Martins:

    Sou um socialista convicto mas não militante. Provavelmente, por isso não tenho a legitimidade máxima para o fazer... Mas quero dizer-lhe que admiro a limpidez da sua análise sobre o «estado a que isto (PS/Loulé) chegou».
    Só que não vejo como (com quem) reinventar este Partido Socialista.

    Um abraço

    J.C.S.

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  2. Carlos Martins4:48 da tarde

    O PS bateu no fundo. Nenhum dos vereadores eleitos para a Câmara se dignou estar presente na tomada de posse realizada no dia 23. Os eleitores que votaram PS mereciam mais respeito e os louletanos também, é preciso reinventar uma nova esquerda, unir esforços concertados em torno de projectos concretos para melhoria da qualidade de vida das pessoas e do ambiente. O Bloco está a dar os primeiros passos em matéria de poder local e espera manter-se activo e interveniente durante este mandanto na Assembleia Municipal e não só, como uma voz de todos aqueles que normalmente são poucos ouvidos.
    Gostei imenso do artigo.

    CMartins

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  3. Olá Carlos,

    Obrigado pela visita. Não tenho dívidas de que o Bloco pode a longo prazo vir a ocupar o vazio deixado pelo PS. Com muita paciência, muito tempo e muito trabalho.

    Cumprimentos
    João Martins

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  4. O ps é o maior inimigo do ps em loulé. A JS Loulé é um cancro que tem corroido os novos valores de talento que se aproximam no partido, em prol de uma juventude ignorante, embandeirada e nepotista. Há imensas pessoas que podem levar o ps a preencher esse vazio, mas actualmente depois de terem sido enxovalhadas, ignoradas e maltratadas.... citando clark gable em Tudo o vento levou «Frankly my dear I don't give a damn»

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