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quarta-feira, março 04, 2009

Das Amendoeiras em Flor

Loulé, Fevereiro de 2009

Amendoeiras em Flor às portas de Loulé


Nota: Clique em cima da imagem para ampliar.

Cada vez mais raras, as amendoeiras em flor continuam senhoras de uma rara beleza. Um recurso económico, visual, imagético, social e cultural que tem sido objecto de uma miopia económica e cultural de graduação elevada.

Fica a lenda:

"No tempo em que os mouros dominavam a região, um grande senhor árabe recebeu como presente uma escrava que lhe chamou a atenção. Era uma menina loira, de faces brancas e olhos azuis muito claros. Tinha sido presa quando viajava com o pai que acabou por ser morto por guerreiros árabes. Questionada sobre a sua terra, ela afirmou ser originária de terras geladas e cobertas de neve. O seu nome era Gilda.

Passou o tempo e a menina foi crescendo, vivendo sempre triste, embora gostasse do seu senhor. A sua beleza deixava fascinado o senhor Árabe e um dia este decidiu casar com ela e torná-la a primeira mulher entre todas as escravas e concubinas do seu harém.

Preparou uma grande festa, com muitos convidados de países estrangeiros e cheia de divertimentos. Mas nada disto conseguiu alegrar Gilda e esta retirou-se para os seus aposentos, triste por saber que agora não mais podia voltar à sua terra natal. Os dias passaram e Gilda continuava nos seus aposentos, olhando o céu azul e sempre límpido. Os seus olhos iam esmorecendo a cada dia que passava.

Vendo o seu sofrimento, o senhor árabe mandou anunciar pelo mundo que daria riquezas imensas a quem lhe salvasse a mulher, mas ninguém conseguiu curar aquela melancolia.
Um dia apresentou-se no seu palácio um velho homem vindo do norte que dizia poder curar o mal de Gilda. Tinha sido seu aio quando ela era menina e depois de falar com Gilda durante algumas horas, falou com o senhor árabe e disse-lhe:

- Senhor, o mal de vossa esposa é a saudade!

- Saudade !..- respondeu o árabe - ... que é isso?!

- Saudade, meu senhor, é uma coisa que se sente do que se ama e está ausente. É um mal que destrói a alma e corrói o corpo. Sim, meu senhor, ela tem saudades da neve que cobre de branco a nossa terra.

Instado sobre a solução o velho mandou-o plantar por todo o Algarve, amendoeiras, centenas de amendoeiras. Assim, quando elas ficassem em flor, os caminhos e montes pareceriam cobertos de neve. Incrédulo, o árabe acabou por fazer o que lhe tinha sido indicado, pelo que foram plantadas milhares de amendoeiras por todo o Algarve.
Gilda continuava melancólica, definhando e não saindo do seu leito.

Mas um dia as amendoeira floriram e em frente ao palácio só se viam amendoeiras em flor, cobrindo os campos em redor com um imenso manto branco. Maravilhado com a paisagem, o árabe logo acorreu aos aposentos de Gilda conseguindo que ela olhasse pela janela para as amendoeiras em flor. Esta, durante algum tempo ficou a olhar, estática, sem conseguir falar. Depois murmurou:

- É a neve! A neve da minha terra!!

E a partir desse dia Gilda começou a recuperar da melancolia, tendo-se curado totalmente.

Ainda hoje, todos os anos quando vem a Primavera, o Algarve cobre-se de pequenas flores brancas, perpetuando o gesto de amor desesperado de um árabe de há longos séculos."


in http://www.vozalmundo.com/index.php?print=24

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