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terça-feira, janeiro 06, 2015

Ainda Sobre Ulrick Beck, Sociologia e...Política

Ao reler alguns dos textos do sociólogo alemão Ulrich Beck, falecido no dia 1 de Janeiro do novo ano, sou confrontado com o pensamento de um intelectual que representava, na Alemanha e na Europa, a herança de uma social-democracia entretanto extinta pelos programas de direita dos partidos “socialistas” e social-democratas” do velho continente e por figuras como Schroeder, Blair ou, em perfil mais baixo, Hollande. Aquando da sua comunicação ao VIII Congresso Português de Sociologia, em Abril de 2014, em Évora, deplorava o estado atual da Europa, propício aos ódios nacionalistas e xenófobos. Clamava então por medidas elementares como um salário mínimo ou um subsídio de desemprego europeus, criticando o suicidário rumo neoliberal dirigido pela Alemanha, sob o neologismo Merkiavel e que esvaziou os direitos democráticos de codecisão dos parlamentos grego, português, italiano, espanhol e, por último, também alemão. Defensor da reestruturação da dívida dos países periféricos, Beck manifestava-se contra a inevitabilidade do discurso económico hegemónico, argumentando que a modernidade, nas suas metamorfoses, tem vias plurais e alternativas. Batendo-se contra a ideia do fim da política e da “privatização do Estado”, levada a cabo pelo que chamava de “Internacional do Capital”, exigia uma Europa construída a partir de baixo, capaz de expropriar à economia, devolvendo à política, o poder de decisão. Por isso, denunciava a aliança entre empresas, governos nacionais e poderes económicos que driblavam as regras da democracia e da própria decisão parlamentar ao imporem decisões através da União Europeia, do Fundo Monetário internacional ou do Banco Mundial. Dizia, ainda, que “a transnacionalização do Estado significa uma ampla desdemocratização da política”1 , patente no regime internacional da austeridade, imposto sob o lema do medo e da repressão, isto é, “quem não concordar com o pacote de austeridade dos governos é antieuropeu”. Herdeiro de uma tradição iluminista que não hesitava em radicalizar as bases reflexivas e críticas do movimento das Luzes, Beck abominava a dissolução pós-moderna e as terceiras vias. Hoje, ao olharmos para os programas e as posturas dos partidos do clássico espaço social-democrata, incluindo o caseiro PS, percebemos bem como Beck permaneceu fiel a um certo ideário de justiça redistributiva, de regulação do Estado, de primado da política e da soberania dos povos dentro de um cosmopolitismo solidário, e de como esses partidos o abandonaram.

1 Ukrich Beck, Liberdade ou Capitalismo?, São paulo, UNESP, 2003

Texto de João Teixeira Lopes aqui:

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