A minha Lista de blogues

domingo, fevereiro 07, 2010

A Fama e o Proveito: A Doce Tirania

Alexis de Tocqueville, um dos mais célebres autores do mundo moderno a reflectir sobre a democracia e as sociedades democráticas ocidentais, demonstrava, em 1840, a sua preocupação com o que designava de "Tirania Doce". Tocqueville inquietava-se à época com a situação política criada nas democracias modernas, em que os cidadãos, entregues à paixão do bem-estar material, entregavam as coisas da política nas mãos do poder político, abandonando os seus deveres políticos e deixando aos políticos o espaço para se desenvolver uma tecnologia de poder tirânico, sem o devido espaço de contra poder. Há algo de tirânia doce nas relações entre o poder de Sócrates e a sociedade Portuguesa. A paixão pelo bem estar material está a dar cabo da paixão pela democracia. O regresso do professor Charrua à escola foi interpretado como um mero "tique" anti-democratico. O bloguer António Balbino Caldeira foi interpretado como um "obcecado", e portanto, um homem fanático e doente, que concerteza mereceria ser processado pelo primeiro ministro. Os nove jornalistas processados de uma assentada, foi interpretado por muitos e pelo principal interessado nesta interpretação, como um "caso" de legítima defesa do Primeiro Ministro, porque afinal este também é um cidadão de carne e osso, e deve-se defender das críticas jornalisticas em tribunal e, ao fim e ao cabo, não foram os jornalistas que foram processados, mas as pessoas que existem nos jornalistas. O "problema" Manuela Moura Guedes, foi interpretado como um "devaneio" de mau jornalismo que teria "legitimamente" que desaparecer de cena. Autorizou-se o primeiro ministro a definir o que é o "bom" e o "mau" jornalismo. Moura Guedes abandonou a cena e está de baixa médica. O Jornal Nacional da TVI nunca poderia fazer "aquele" tipo de jornalismo. Um jornal que dedica tanta atenção às licenciaturas da Independente, às casas da Cova da Beira, à construção do Freeport no estuário do Tejo, às questões da sucata e às tentativas de controlo dos meios de comunicação social não é digno da "democracia" portuguesa. Depois havia ainda que eleger um presidente para o Benfica. Em nome da salvação da pátria. E é claro que José Eduardo Moniz era o homem ideal. Com telefonemas de homem furibundo para José Alberto Carvalho, director de informação da RTP, com telefonemas para Ricardo Costa da SIC a tratá-lo por tu, com o Jornal de Notícias a dar as notícias do Portugal "democrático" de José Sócrates, havia que fazer qualquer coisa com a TVI. Tirar de lá para fora o seu homem forte. Os congressos do PS também servem para isso. Para dar orientações claras e em voz alta do que é o jornalismo que deve existir e o tipo de notícias que se deve produzir. Fora com o casal Moniz. Posteriormente, apareceu um "chato" incomodativo chamado Mário Crespo que não gosta de "palhaçadas" e que acha que a democracia não deve ser apenas o reino de um. Mas o "chato" que incomoda os poderes governativos até é um "louco" a precisar de ser "internado" e sobretudo é um "problema" que urge uma "solução". De caminho até se podia pensar no Medina Carreira, esse maldito desbocado que ousa criticar o poder político com os seus desmoderados comentários. Na santa RTP, o seu director de informação tem andado com insónias desde que o santo Vitorino, que elaborou o programa do PS, disse que se quer ausentar do programa da RTP. Logo, José Alberto Carvalho perdeu o sono. Marcelo não pode continuar. Existia também um director de jornal, que se chama Público, que depois de ser objecto de crítica e rejeição por Sócrates, abandonou a direcção de informação. O director do jornal SOL já fez queixa à Entidade Reguladora da Comunicação Social porque houve uma tentativa, através da intervenção dos bancos e dos financiamentos e créditos concedidos (ou não) ao conhecido semanário, de "arrumar" com o seu jornal. O caso face "oculta", revelou uma monstruosidade conspirativa atentatória do estado democrático. E o "povo" português, essa entidade abstrata, que está em todo o lado e em lugar nenhum, está preocupado legitimamente com o seu bem estar material. Ao contrário do que um certo senso comum político apregoa, não é a segurança a condição primeira das liberdades. Pelo contrário, é a liberdade que concede a democracia, a primeira das condições da segurança dos cidadãos. O caminho para a doce tirânia está em cima da mesa. Evitá-lo, é perceber que não é uma alternativa dicotómica a escolha entre liberdade e bem estar material. São ambos concomitantes. Alimentam-se reciprocamente.

11 comentários:

  1. Desapontando grande parte dos seus eleitores, o Presidente da República foi enfático e claro: a situação portuguesa não é comparável à da Grécia sob nenhum ponto de vista; o statement do comissário Almunia foi «infeliz»; a avaliação das agências de rating é incorrecta. Mais: Eu sou economista e sei do que estou a falar. Ponto. Hoje, ao Expresso, diz outras coisas que vão irritar a direita. E não se exime a elogiar Teixeira dos Santos, o ministro das Finanças.

    Isto registado, todos sabemos que a situação não é famosa. Não é a que os bloggers da direita queriam que fosse, mas está longe do paraíso. Basta ouvir gente séria, não comprometida com o efeito media (estou a pensar em Silva Lopes e Daniel Bessa, por exemplo, omitindo os amigos por razões óbvias), para perceber que corremos a passos largos para o turning point. Nesse particular, as intervenções de José Gomes Ferreira têm-se pautado por uma pedagogia eficaz.

    A todas estas, o que faz a oposição e a opinião anti-Sócrates? A oposição, incluindo a de esquerda, patrocina os desvarios de Alberto João Jardim. E a opinião, a pretexto da transcrição de alguns despachos sobre o caso das escutas, clama por sangue. Não é extraordinário?
    Escrito pelo Eduardo Pitta

    ResponderEliminar
  2. O que é mais triste nestes comentários anónimos é que são acéfalos. Ou seja, nem sequer têm capacidade os seus autores de pensar pela sua própria cabeça. Limitam-se a fazer copy past. Mas são assim que muitas licenciaturas são hoje tiradas na universidade. Sei bem do que falo.
    Cumprimentos
    João Martins

    PS. Deposite sempre aqui os comentários que quiser. O blogue é livre desde que ninguém seja ofendido. O que o autor deste blogue não é, é, acéfalo.

    ResponderEliminar
  3. Snr. João espero bem que não pense o mesmo de mim. Acéfalo só porque não tenho a habilidade e a cultura de gente que escreve bem como por exemplo o Daniel Oliveira no Expresso ?
    Não concorda com ele ? Está no seu direito e eu no meu. Mas acéfalo não por favor.
    ((( O que tantos queriam e outros temiam aconteceu. Um semanário divulga informações sobre o conteúdo de escutas incriminatórias para José Sócrates. Chama-lhe, vá-se lá saber porquê, investigação. Prepare-se para o maravilhoso mundo novo: tudo o que diga, mesmo que não seja julgado pela lei por isso, pode ser publicado. Está satisfeito? Chegará a sua vez.)))
    Daniel Oliveira (www.expresso.pt)

    ResponderEliminar
  4. Concordo totalmente com o Daniel Oliveira. Discordo completamente com o conteúdo das escutas que revelam um polvo controleiro da democracia, que não foi desmentido pelo senhor primeiro ministro. Para mal dos nossos pecados, a públicação das escutas que acho deplorável que saiam para o domínio público, estão aí, com os seus factos. Por muito que lhe custe meu amigo citador. E perante os factos lá relatados só uma sociedade dormente não se indigna. Contibue no seu anonimato que faz muito bem. Revela um certo medo, que não deixa de ser significativo do actual contexto. Não se preocupe, não é caso isolado.

    Cumprimentos
    João Martins

    ResponderEliminar
  5. Caro João:

    Passei para lhe dizer que lhe roubei uma foto para meter no meu mais recente post. Deu jeito.

    Como dá jeito a muita gente interpretar o que lê à sua maneira.

    A propósito do texto do D.Oliveira, que o Lourenço tb seleccionou, também por cá assistimos às mais dispares (ou convenientes) interpretações.

    Provavelmente ( e inesperadamente?) eu sou o mais severo: nem as escutas deveriam ter vindo ao conhecimento dos jornais... e muito menos deveriam ter ssaído da boca do PM (se sairam, claro).

    Mas este país já não tem solução. Deu o tal passo em frente quando estava à beira do precipício. E, o pior, é que nenhuma das agremiações políticas se pode desresponsabilizar porque todos, sem excepção, tiveram culpas no cartório.

    Concorda?

    Ah, e ia-me esquecendo - para um toque de humor: Tocqueville
    também tinha um calcanhar de Aquiles: aquela obcessão pela Câmara dos Deputados.

    Um abraço.

    J.C.S.

    ResponderEliminar
  6. Olá José Carlos,

    Já tinha visto a foto no Calçadão e saudo-o pelo post com o qual estou totalmente de acordo. Quarteira não precisa de menos árvores. Precisa de mais.

    Um abraço
    João Martins

    ResponderEliminar
  7. Belíssima tese em bem construído texto! Esta "doce tirania", a provarem-se as acusações feitas ao "tirano do costume", pela oposição intriguista e laranja, que apenas deseja ocupar a investigação criminal com os casos que agita e alguma esquerda folclórica a quem tudo serve para se mostrar... Fazem o jogo presente e enterram os crimes passados.
    Sociedades democráticas escrutinadas e depuradas, por quem de direito e autoridade reconhecida pelos bons e independentes veredictos, que exponha os pecadilhose arbitrariedades cometidas, com dolo público ou mesmo individual, antes e após Socrates, em respeito pela transparência de quem, enquanto Governo,teima em governar!
    Custa-me João; ver-te neste papel de "julgador" surgido aparentemente do nada querendo julgar o "Sócas" ignorando o Cavaco e o PSD! Pergunto se a Adesão Europeia aconteceu agora? Ou ainda: Se a Justiça Orçamental e Processual nasceu agora? Defendo a Liberdade, remate dourado do teu texto, mas questiono-te em defesa do Jornalismo Independente, se também tu não estarás a escrever Opiniões do Momento, branqueando aquilo que ficou para trás: o Cavaquistão!?
    Pois, amigo se não exigires que a mesma Liberdade se cumpra nunca obterá a Pureza e a Límpida Justiça e darás contigo sendo um mero servidor do silêncio sobre o Compadrio dos Vice-Reis do PSD!
    O Homem pode ser mau; ter tido uma juventude de meteórica súbida, terá sido um "fura-vidas", forjado um canudo... mas aguenta-se e coloca-nos desafios que nunca vivemos. Sabes aquela máxima nacional: "- Quanto mais me atacam mais me temem!" Por mim, até admito que o Gajo possa ser enxertado em ditador mas desta forma não lhe arrancamos o viço!
    Teremos que nos revoltar, estou certo que o faremos, mas com algo novo... Não nasci na década passada, nunca me senti governado a contento dos meus anseios, sendo idealista, sei também que não podemos voltar costas ao passado e, do real construir a pureza primordial. Se tal fosse possível muitos seriam os candidatos a tudo prometer, cumprindo.
    Quando te leio, e gosto, sinto que nasceste ontem, ou pior, que utilizas um "filtro selectivo", que a provar-se, te compromete irremediavelmente!

    ResponderEliminar
  8. Caro amigo Almeida,

    Isto não é um problema de esquerda ou de direita, é um problema de liberdade e de democracia. E lamento muito a sua conivência e contribuição tolerante para o branqueamento deste tipo de situações. Não se fez o 25 de Abril para isto. De toda a forma a história dirá quem tem razão. Lamento que os seus "filtros" só consigam olhar para estes graves atentados à democracia, através da política partidária. mas eu percebo-o perfeitamente. Quando se está dentro é difícil olhar de fora.

    Abraços
    João Martins

    ResponderEliminar
  9. Caro Almeida,

    Completando o comentário anterior, desafio-o a refutar cada um dos factos que relato no meu post.

    Cunprimentos
    João Martins

    ResponderEliminar
  10. Esquece essa lenga-lenga do Almeida. Tás farto de saber a cor das lentes dele. Para ele o mundo é sempre rosa.
    João, és um democrata dos verdadeiros e como somos poucos, associa-te e assina já aqui:

    www.tertuliados30.blogspot.com

    ResponderEliminar
  11. Caro tertuliante,

    Quem quer que seja vossa excelência, dos meus mais conhecidos, aos mais desconhecidos, da ponta mais extrema da direita ou da esquerda, agradeço desde já o convite a que acedi prontamente. É uma questão de respiração assistida que transcende questões partidárias.

    Abraço
    João Martins

    ResponderEliminar