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domingo, junho 29, 2008

Ordenamento da Orla Costeira no LC: Dunas que doiram

Dunas Douradas

Loulé, Allgarve, Portugal

Praia das Marias

Nota: Clique em cima da foto para ampliação da imagem.

"(...) E isto é apenas a crista da onda. Os milhares de frequentadores do Algarve, de ano para ano, de década para década, vêm perdendo a paciência com a mentira contínua com que são burlados. Sempre à espera de que se cumpra a promessa de acabar com o caos; e sempre a verificar que ele nunca parou de crescer.
Quem pode, paga o luxo de alguma largueza de espaço num "resort" protegido por vários hectares de "greens". Outros vão recuando cada vez mais para as abas da serra. A extensa massa do turismo nacional, que é hoje quem aguenta o negócio algarvio, essa sujeita-se à permanente hora de ponta do infernal Algarve - seja Armação de Pera, Albufeira, Praia da Rocha ou Quarteira...Fazem bicha de manhã para o pão, para o leite, para o peixe, por entre um caos automobilístico e urbanístico.
No meio disto, uma trupe de estrangeiros recrutada nos preços mais baixos dos saldos turísticos, vai chinelando de peúgas e canecas de cerveja na mão pelos hotéis de luxo.
Anos sucessivos de desordenamento territorial conseguiram já destruir, afectar ou pôr em cheque todos - mas literalmente, todos - os recantos do Algarve litoral. Nada naquela região está a salvo. O que ainda ontem era um lugar lindo, pode ser amanhã um estaleiro de obras, e no dia a seguir uma urbanização medonha; o que ontem era ainda uma magnífica e produtiva extensão agrícola, pode ser amanhã mais um golfe. Até os imponentes cabeços de serra, podem ser amanhã uma lixeira intermunicipal, uma pedreira infernal, uma escombreira chanfrada por uma via rápida ao serviço de todas as pressas. As mais deslumbrantes arribas ocres podem de um dia para o outro aparecer ao mesmo tempo ocupadas por vivendas e piscinas, e esbarroncadas pela ruína que essas próprias construções lhes provocam.
Não há lugar mais eloquente de irracionalidade de ocupação do território do que o litoral algarvio. Pelo menos nisto, o país em peso está de acordo.
E todavia, as obras não param de crescer, e as ocupações não param de galgar tudo. Não há lei, não há Estado, não há senso comum, não há sequer a noção inevitável do colapso que todo este processo acabará por trazer ao próprio negócio que o moveu. Mesmo sabendo que o litoral algarvio está hoje em zona de alto risco de erosão e que as alterações climáticas aí farão sentir os seus efeitos de forma intensa."

In Luísa Schmidt, País (In) Sustentável. Ambiente e Qualidade de Vida em Portugal, 2007, pp. 171-172, editora Esfera do Caos.

Leitura a não perder.

1 comentário:

  1. Meu caro João Martins. Há animais selvagens que abandonam as suas crias, e há outros animais que estão-se nas tintas para com as gerações vindouras, por mais avisos que os cientistas façam. Quando a catástrofe acontecer, (já cá não estaremos) os animais vão desculpar-se com os "desastres naturais". Cumprimentos.

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