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domingo, junho 08, 2008

Memórias da cidade: Uma espanhola que gosta de árvores


Fazer orelhas moucas nunca fez bem à saúde de ninguém. Mesmo aqueles que como eu têm a mania de que não fazem orelhas moucas, têm muitas vezes os tímpanos entupidos.

Diz o ditado popular que água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Foi com muita satisfação que vi este Sábado o mercardinho passar para um mini-mercado. Se juntarmos todos os intervenientes dos mercadinhos, a coisa começa a dar um ar da sua graça e as pessoas ainda que poucas, até começam a sair à rua no Sábado à tarde, pois de manhã, a enchente é já garantida.

Como não há bela sem senão, o mercadinho, já maiorzinho, às três da tarde na Avenida José da Costa Mealha, torrava num calor insustentável. Faltavam as árvores, pois claro, e de sombra nem vê-la, a não ser debaixo dos "sombreros" dos expositores.

Qual o meu espanto quando após um ligeiro desabafo do género "não se aguenta este calor", mesmo com muita vontade de ver algumas das interessantes exposições de artesanato local, oiço um linguajar da pátria de Nuestros Hermanos que dizia o seguinte:
- Não se aguenta este calor, cortaram as árvores, acabaram com as sombras e fizeram a mesma coisa no Largo de São Francisco, esta Câmara não sabe o que anda a fazer.

Parei estupefacto... a olhar para a senhora de olhos castanhos e cabelo loiro, e pensei, espantado, com os meus botões... isto das loiras é mesmo estereotipo.

Não deixei a senhora acabar o que dizia, tal era o meu estado de felicidade e precipitei-me a dar-lhe os parabéns. - Felicito-a minha senhora, pois é um prazer ouvi-la falar dessa maneira. Saiba que é a primeira pessoa nesta Avenida que não me diz que as árvores são velhas, que sujam os carros, que deitam resina, e que a vegetação verde, que foi selvaticamente destruída, não faz falta nenhuma a este mundo nem àquele que há-de vir.

A senhora dos seus quarenta e poucos anos, quase cinquenta, bem informada e bem formada, já agora, olhou para mim, espantada e continuou o seu caminho.

Dois extraterrestres encontraram-se na Avenida José da Costa Mealha.

Ao menos não estou louco sózinho...e não sou o único idiota de orelhas moucas que gosta da sombra das árvores...O calor, esse, fazia quase 40º à sombra, como nas belas planícies Alentejanas, debaixo dos chaparros...

Só temos o que merecemos. Ou não será assim?

Bom Domingo!

3 comentários:

  1. Bela reportagem João!
    Até concordo com a tua opinião sobre o Mercadinho... e desta vez nem lá fui porque estou doente e o calor me faria mal.
    O Mercadinho teve aí a sua "última edição anual" se excluirmos o do Natal. Parece pouco porque, como tu referes, existe um pequeno mas bom grupo de pessoas que nele se encontram e se esforçam por viabilizar esta ideia pouco apoiada pela autarquia. Ressalta ainda do teu relato um facto óbvio: a CML deu um tiro no pé! Pois ao colocar ali esta edição do Mercadinho deixou evidente aquilo que temos vindo a denúnciar: retirou a Vida à Avenida porque tornou impossível a seu uso nos dias de calor... resta a sombra dos edifícios. Uma decisão errada!

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  2. João Martins se gostar da sombra das árvores é ser louco e idiota então eu junto-me a você...
    Apetece na verdade dizer que temos o que merecemos. Como é possível tanta passividade por parte dos louletanos? E mesmo por parte da oposição? Onde pára ela?

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  3. Já foi feita alguma manifestação pública a esse repeito?
    Falo nas próprias vias públicas, com faixas e cartazes.
    Talvez isso motivasse mais gente a tomar posição.

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