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segunda-feira, junho 23, 2008

Da não notícia da tragédia da Birmânia

Maio de 2008

Mais de 100 mil mortos provocou o ciclone de Myanmar

E a ajuda da comunidade internacional em que ponto está?



Atenção: Imagens que podem ferir a susceptibilidade dos visitantes

Deixo-vos com um texto de Vitor Malheiros do jornal Público de 17 de Junho de 2008 intitulado:

Hoje não há nenhuma notícia na Birmânia

"Quase sem darmos por isso, a Birmânia desapareceu das primeiras páginas dos jornais e da homepage dos sites. Às vezes, nas páginas interiores, aparece discreta uma notícia, um membro de uma organização humanitária denúncia o abandono das populações, um repórter mostra as filas de gente que esperam ajuda. Mas a Birmânia saiu da ribalta. Para mais, houve o tremor de terra na China. É difícil os media falarem de dois desastres do mesmo tipo ao mesmo tempo. Confunde os leitores.
E a recusa da junta birmanesa em deixar entrar os elementos das associações humanitárias não é notícia? Não. Não é notícia porque já foi. Já se disse e os jornais não podem repetir as mesmas notícias todos os dias. É a lógica perversa da notícia. O que há para dizer hoje sobre a Birmânia que seja diferente do que se disse há três semanas? Do que também não se disse mas se poderia ter dito ontem e anteontem? Nada. Hoje não há nenhuma notícia da Birmânia.
Os militares continuam a expulsar os refugiados dos campos onde estes esperaram, em vão, ajuda alimentar durante as últimas semanas. Dizem-lhes que regressem às suas terras e que refaçam a sua vida. De mãos vazias, de estômago vazio e de coração vazio também. Os birmaneses perderam a esperança, a energia e o interesse na vida, diz um voluntário. Acontece quando toda a nossa família desaparece numa noite. A junta prefere que morram pelos campos, que se afoguem discretamente nas aldeias quando começarem as monções, que deslizem de inacção para o fundo do lodo, que se desfaçam em disenteria. Mortos aos milhares nos campos de refugiados, dariam demasiado nas vistas. Dispersos, passarão mais despercebidos. Mesmo que os números atinjam os 1,5 a 2,4 milhões que estão agora sem abrigo, sem meios de subsistência, sem arroz, sem água potável, sem ajuda médica. Mesmo que essa ajuda se acumule nas fronteiras, nos barcos estrangeiros ao largo.
Os militares continuam a dispersar à coronhada as filas de gente faminta e desesperada que se acumula à beira das estradas. E continuam a prender os populares que, com os seus parcos meios, distribuem alimentos nas zonas atingidas. E a prender quem distribui DVD com imagens da catástrofe. Imagens "trucadas", dizem, para deixar mal o país. A palavra de ordem oficial é que a situação de emergência acabou - por isso não precisam de "chocolates" da comunidade internacional. Agora a hora é de reconstrução - por isso precisam de dinheiro. Onze mil milhões de dólares. Que irão cair nas contas secretas dos militares, enquanto uma parte dos 1,5 a 2,4 milhões sofrerão a sorte dos 134000 que já morreram até agora.
Hoje não há nenhuma notícia da Birmânia. Aung San Suu Kyi continua em prisão domiciliária. Os soldados ameaçam quem se esconda nos mosteiros e os monges que os acolham. As ONG continuam sem poder trabalhar. A ajuda pode entrar, mas tem que ser entregue aos soldados. Já era assim há dias. Nenhuma notícia. É como no Darfur. Também não há notícias do Darfur.
A comunidade internacional tem boas intenções mas não sabe o que fazer na Birmânia. A ONU tem as mãos atadas pelo respeito que a China tem pela soberania nacional de todos os países e principalmente dos que lhe são próximos. Os EUA têm as mãos atadas. A UE também tem as mãos atadas. Se se tratasse de lançar umas bombas, arrasar uma aldeias, matar uns milhares de pessoas, mutilar crianças, seria fácil, porque se percebe a necessidade. Mas lançar ajuda alimentar implica uma grande responsabilidade, não se pode fazer de ânimo leve. A Birmânia ia ficar irritada, a China podia ficar irritada e (neste caso) há o direito internacional a considerar. Nenhuma notícia."

In jornal Público, de 17 de Junho de 2008

Isto é jornalismo de qualidade...pena que o artigo esteja nas tais páginas escondidas do jornal.

1 comentário:

  1. Pode-se mesmo dizer que é artigo de qualidade. Mas o que vende em Portugal não são artigos de qualidade. São as facadas, as chapadas dos namorados nas namoradas ou a fuga do tipo que roubou o pneu a um gajo que lhe devia 50 euros e mais ainda a vizinha que queria ter uma alfa-romeu igual ao da da frente e por causa disso atirou-se do rés do chão para a cave!!!!!!!! Onde é que fica a Birmânia vizinho ????!!!!!!!
    Palma

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