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sexta-feira, janeiro 27, 2012

Ponto da Situação



Os indicadores mais recentes sobre a evolução da economia portuguesa em 2011, em particular sobre o consumo das famílias, mostram que entrámos em 2012 já com uma recessão grave. Tendo em conta a quebra das receitas fiscais, seguramente muito além do previsto no Orçamento deste ano, estão à vista novas medidas de empobrecimento e de desmantelamento do nosso frágil Estado-providência. À semelhança do que aconteceu à Grécia, tudo se conjuga para que a espiral deflacionista devaste o país deixando-o mais endividado, mais pobre e desesperado.

Com taxas de 14% para obrigações a dez anos no mercado secundário, é evidente que o acesso do estado português ao financiamento privado a partir de 2013 é uma impossibilidade. E sem procura interna não é a liberalização do mercado do trabalho que fará crescer a economia e gerar excedentes orçamentais. O efeito bola de neve está lançado, tornando o peso da dívida pública insustentável e insuportável. Um dia, confrontados os credores com a evidência de que não podemos pagar, impor-se-á um corte substancial na dívida pública. Afinal, se não se pode pagar… não se paga. Como na Grécia, será o fim da linha.

Na Itália, Mario Monti bem sabe o que pode esperar da austeridade para que foi mandatado. Por isso pede à Sr.a Merkel medidas para o conjunto da zona euro, mas tem dificuldade em ser ouvido. Sabendo-se que o ordoliberalismo alemão apenas conhece a punição como via para a redenção, cabe perguntar: os 360 mil milhões de euros de obrigações italianas que se vencem em 2012 serão refinanciados nos mercados? E a que taxa? Ou a Itália também vai ficar ligada à máquina de oxigénio do FEEF?

Por muito que as autoridades tentem disfarçar a ansiedade, o facto é que a política europeia falhou rotundamente. Diplomaticamente, o próprio FMI já começou a distanciar-se dos seus parceiros da troika. Porém, a força dos interesses da finança, legitimados pelo fanatismo ordoliberal que tomou conta da União Europeia, impede uma solução de curto prazo da presente crise. Bem pelo contrário, a Alemanha subiu a parada e exige a aprovação de um pacto que retira o poder orçamental aos estados-membros. Um corpo de tecnocratas embebidos no ordoliberalismo, sem qualquer legitimidade política, ditará a partir de Bruxelas o essencial do orçamento que cada estado-membro terá de aprovar. Depois da germanização do BCE, temos agora a tutela alemã dos orçamentos. Acho estranho que em Portugal ninguém exija um referendo. Talvez porque se espera que o euro acabe entretanto.

Anestesiados pelo mantra da inevitabilidade do empobrecimento, aliás muito bem orquestrado pelos canais de televisão no horário nobre, os portugueses estão a viver estoicamente o seu papel de cobaias de uma política económica comprovadamente errada, no essencial inspirada pela teoria económica dominante no período anterior à Grande Depressão do século passado. Governados por uma elite política comprada por interesses privados de diferente natureza, ou representados por uma oposição incapaz de produzir uma alternativa mobilizadora, os portugueses parecem cordeiros a caminho do matadouro. É enorme a responsabilidade daqueles que percebem o que está em causa.

PS: A foto é minha, tirada na última manifestação dos indignados, o cartaz de protesto é feito por mim também, o texto é do economista Jorge Bateira publicado ontem no Jornal i.

Aqui:
http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2012/01/ponto-da-situacao.html

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