1. Viagem de autocarro na EVA. Carro de pequeno burguês da província algarvia de origem popular não permite uma viagem segura a Sevilha, logo aqui ao lado. De avião sai caro. TGV só com o governo PSD (não há vergonha na política). De comboio só há linha até Vila Real de Santo António (ainda há?), de maneiras que a melhor solução foi mesmo os velhinhos autocarros da rodoviária.
2. Para Sevilha o autocarro parte de Faro. Com a pressão e a pressa de deixar o carro em lugar não pago (uma cruz das cidades modernas) a carteira com documentos ficou no carro. Na fronteira de Portugal com Espanha um carro da polícia faz controlo fronteiriço. O Espaço Shengen de livre circulação tem nos últimos tempos o adjectivo livre bem apertado. Os Espanhóis proibiram há muito pouco tempo a emigração romena no território Espanhol. Se isto não é racismo institucional não sei o que será. Porquê os romenos?
3. Autocarro pára e um elemento português do SEF e polícia espanhola entram no autocarro a pedir a identificação aos passageiros. Informo o português que me esqueci do BI no carro. Faz-me perceber que cometi um crime de esquecimento. O Espanhol é que decide. O Espanhol fica na dúvida sobre o que fazer. Olha para uma fotografia do Pedro e olha para o Miguel no colo da mãe. Este nino não é o da foto, diz. Digo-lhe que não é. É o outro que tem mais quatro anos e vai sentado no banco ao lado. Olha para mim novamente. Falo-lhe da livre circulação na União Europeia. Diz-me que livre circulação não implica que circule sem identificação. Digo-lhe que tem razão. Olha de novo para mim. Digo-lhe que sou professor. Deixa-me seguir viagem.
4. Sevilha é uma cidade maravilhosa. Para mim não é novidade. Para o Pedro e o Miguel uma experiência nova. A Catedral e a Geralda marcam o centro da cidade. Em seu redor o comércio é alimentado pelos turistas. O jardim do palácio real é a sétima maravilha da natureza. A Isla Mágica é para as crianças, isso mesmo, mágica. O calor, nesta altura do ano, em nada difere de qualquer cidade do interior alentejano, torra. Os autocarros utilizam e publicitam o uso de energias limpas. O Parque Maria Luísa refresca a cidade. Ciclovias, muitas. Passeios pedonais, em todo o lado. Depois o flamenco, a tourada, as sevilhanas, a paelha, as tapas e outras coisas mais marcam e reforçam a identidade cultural do ser Andaluz. Os sevilhanos anatomicamente não se distanciam grande coisa dos traços anatómicos lusos. A língua é cantada com gosto. O Pedro já diz muchas gracias.
5. O desemprego graça. Os taxistas são maioritariamente jovens. Um deles disse-me ter abandonado a construção civil numa empresa portuguesa que entrou em falência devido à crise e iniciou o seu novo trabalho pelas calles de Sevilha. A Miséria nas ruas é muita. Um homem de meia idade passa todo o dia de cabeça baixa a pedir moedas. Outros são mais agressivos e utilizam estratégias de marketing mais personalizadas. Um Senegalês vende-me uma pulseira. Diz que tem também dois filhos. Provavelmente é imigrante ilegal. Outros fazem venda ambulante na rua com um trapo estendido no chão com a mercadoria em cima. Tudo preparado para retirada rápida em caso do aparecimento de la polícia. As cajas e os bancos estão à beira da bancarrota. Ao mesmo tempo, em Madrid, a polícia laica carrega sobre manifestantes laicos que protestam o financiamento laico da visita de um Papa Católico. Os contribuintes espanhóis pagam impostos para que a polícia espanhola lhes possa dar umas boas bastonadas divinas.
6. Mini-férias em época de bancarrota. Talvez um luxo para a pequena burguesia citadina. Neste mesmo fim de semana, Cristiano Ronaldo, Messi, Xavi, Iniesta e tantos outros multimilionários da Liga Espanhola faziam greve nos retângulos futebolisticos. Segundo me explicou um taxista (experimentem meter conversa com os taxistas e vão ver) em solidariedade com os atletas dos clubes pequenos que não recebem os seus salários atempadamente. Uma reinvindicação de classe, talvez dissesse Dom Policarpo, se a coisa fosse em Portugal. Regresso ao trabalho, enquanto o fascismo financeiro neoliberal o permitir. Dentro das possibilidades, sempre dentro das possibilidades...
2. Para Sevilha o autocarro parte de Faro. Com a pressão e a pressa de deixar o carro em lugar não pago (uma cruz das cidades modernas) a carteira com documentos ficou no carro. Na fronteira de Portugal com Espanha um carro da polícia faz controlo fronteiriço. O Espaço Shengen de livre circulação tem nos últimos tempos o adjectivo livre bem apertado. Os Espanhóis proibiram há muito pouco tempo a emigração romena no território Espanhol. Se isto não é racismo institucional não sei o que será. Porquê os romenos?
3. Autocarro pára e um elemento português do SEF e polícia espanhola entram no autocarro a pedir a identificação aos passageiros. Informo o português que me esqueci do BI no carro. Faz-me perceber que cometi um crime de esquecimento. O Espanhol é que decide. O Espanhol fica na dúvida sobre o que fazer. Olha para uma fotografia do Pedro e olha para o Miguel no colo da mãe. Este nino não é o da foto, diz. Digo-lhe que não é. É o outro que tem mais quatro anos e vai sentado no banco ao lado. Olha para mim novamente. Falo-lhe da livre circulação na União Europeia. Diz-me que livre circulação não implica que circule sem identificação. Digo-lhe que tem razão. Olha de novo para mim. Digo-lhe que sou professor. Deixa-me seguir viagem.
4. Sevilha é uma cidade maravilhosa. Para mim não é novidade. Para o Pedro e o Miguel uma experiência nova. A Catedral e a Geralda marcam o centro da cidade. Em seu redor o comércio é alimentado pelos turistas. O jardim do palácio real é a sétima maravilha da natureza. A Isla Mágica é para as crianças, isso mesmo, mágica. O calor, nesta altura do ano, em nada difere de qualquer cidade do interior alentejano, torra. Os autocarros utilizam e publicitam o uso de energias limpas. O Parque Maria Luísa refresca a cidade. Ciclovias, muitas. Passeios pedonais, em todo o lado. Depois o flamenco, a tourada, as sevilhanas, a paelha, as tapas e outras coisas mais marcam e reforçam a identidade cultural do ser Andaluz. Os sevilhanos anatomicamente não se distanciam grande coisa dos traços anatómicos lusos. A língua é cantada com gosto. O Pedro já diz muchas gracias.
5. O desemprego graça. Os taxistas são maioritariamente jovens. Um deles disse-me ter abandonado a construção civil numa empresa portuguesa que entrou em falência devido à crise e iniciou o seu novo trabalho pelas calles de Sevilha. A Miséria nas ruas é muita. Um homem de meia idade passa todo o dia de cabeça baixa a pedir moedas. Outros são mais agressivos e utilizam estratégias de marketing mais personalizadas. Um Senegalês vende-me uma pulseira. Diz que tem também dois filhos. Provavelmente é imigrante ilegal. Outros fazem venda ambulante na rua com um trapo estendido no chão com a mercadoria em cima. Tudo preparado para retirada rápida em caso do aparecimento de la polícia. As cajas e os bancos estão à beira da bancarrota. Ao mesmo tempo, em Madrid, a polícia laica carrega sobre manifestantes laicos que protestam o financiamento laico da visita de um Papa Católico. Os contribuintes espanhóis pagam impostos para que a polícia espanhola lhes possa dar umas boas bastonadas divinas.
6. Mini-férias em época de bancarrota. Talvez um luxo para a pequena burguesia citadina. Neste mesmo fim de semana, Cristiano Ronaldo, Messi, Xavi, Iniesta e tantos outros multimilionários da Liga Espanhola faziam greve nos retângulos futebolisticos. Segundo me explicou um taxista (experimentem meter conversa com os taxistas e vão ver) em solidariedade com os atletas dos clubes pequenos que não recebem os seus salários atempadamente. Uma reinvindicação de classe, talvez dissesse Dom Policarpo, se a coisa fosse em Portugal. Regresso ao trabalho, enquanto o fascismo financeiro neoliberal o permitir. Dentro das possibilidades, sempre dentro das possibilidades...
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