1. Na noite em que Sócrates perdeu a maioria absoluta, o novo (?) governo deu o mote através do seu ministro Maquiavel, Augusto Santos Silva. Ainda os votos não estavam contados na sua totalidade e já Santos Silva apelava à "responsabilidade" da oposição. A partir de agora, tudo o que fizer ou não fizer e decidir ou não decidir, o governo, cabe à oposição o ser responsável por tal coisa. O governo de Sócrates, é especialista, em colocar as coisas, de cabeça para baixo.
2. Depois apareceu o grande líder em cena e decretou: Meus senhores, a partir de agora, decreto, que temos que passar a "negociar". E mais vos digo, negociar significa, os senhores fazerem, precisamente, aquilo que eu quero, que os senhores façam. O conceito de negociação, que tradicionalmente significou que as partes discutem e decidem a partir dos pontos de vista que cada um defende, ganhou uma nova significação semântica. Negociar, agora, significa, adaptação ao ponto de vista do mais bem colocado nas assimétricas relações de poder. Um pouco à maneira do conceito antropológico de assimilação.
3. Novo governo. Novos actores. Continuação das mesmas políticas. A arrogância governativa da maioria absoluta tem dificuldade em se adaptar às novas circunstâncias. Os tempos que aí estão são tempos difíceis. Coitados dos portugueses. Da nova equipa governativa há uma facto fundamental. Os ministérios dos negócios e do poder são controlados pelos políticos. Coisas de menor importância como o Ambiente, o Trabalho e Solidariedade Social, e de novo, a Cultura, são entregues a ministros de pouco peso. A leitura faça-a quem a quiser fazer. Há os que concentram o poder e os que executarão, em função, do poder, que os outros lhes concederem.
4. Em termos ideológicos a matriz dominante neoliberal continua de corpo e alma. Na apresentação do programa de governo Luís Amado já deixou claro. O PCP e o BE são partidos "geneticamente contrapoder" (qualquer coisa como se até em regimes comunistas o PCP optasse por fazer oposição a si próprio). O PSD é o partido da instabilidade. O CDS é aquele com quem o PS se pode governar. E aproveitou para "decretar" onde pode o CDS "negociar". O PS para agir em coerência (palavra estranha para este partido) deveria ser aconselhado a mudar de nome. É o que ainda resta, ao partido, que se diz socialista.
5. Nem tudo é mau no reino da macacada. Estou convicto que o parlamento sai dignificado e disso mesmo deu sinal a elevação da discussão do programa governamental. Desde logo porque a qualidade dos seus actores melhorou. Manuela Ferreira Leite esteve ao seu melhor nível. José Manuel Pureza tem condições para vir a ser um líder parlamentar de excelência. Pacheco Pereira é indiscutivelmente uma mais valia nacional. Miguel Vale de Almeida vai ser uma personagem de quem muita gente vai ouvir falar. Não tenho dúvidas que estes e muitos outros que agora chegaram podem melhorar a qualidade da democracia parlamentar (excluía aqui a deputada do PCP, licenciada em relações internacionais, que considera que o Goulag deve ter sido uma "experiência" interessante). Sócrates não gosta. Mas Portugal precisa. Para que a face oculta da nação se torne cada vez mais transparente.
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