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quinta-feira, novembro 05, 2009

Ciganos: Nomadas?

Há uns tempos atrás, o Helder Raimundo, do blogue Contrasenso, colocava esta questão, remetendo para um interessante estudo do Antropólogo André Correia e fez-me regressar a meados dos anos noventa e a revisitar o meu relatório de investigação de final de licenciatura. Intítulava-se "O conflito social no bairro da Casinha: Etnicização e auto-etnicização de uma população minoritária". E nas páginas 26 e 27 escrevia eu assim: "Quanto à localização espacial onde se situam os ciganos, estes habitam clandestinamente um terreno paralelo ao parque de campismo, situado no lado oposto à habitação do bairro, cujo proprietário é a Câmara Municipal de Évora; constatando-se uma visível segregação entre a zona habitacional de população não cigana e dos ciganos ali instalados. Constata-se também a existência de duas situações distintas; em que por um lado, habitam ali permanentemente os ciganos sedentários e por outro lado, existem os nómadas, que se instalam temporariamente, em vésperas de feiras e mercados, nos arredores de Évora, ou quando estão de passagem para outras localidades do Alentejo em que se realizam também mercados e feiras. Quanto aos sedentários denota-se por parte destes uma forma de apropriação do espaço através da construção de barracas existindo naquele local um número total de nove. Quanto aos nómadas, a sua apropriação do espaço, faz-se através de tendas, dependendo o número destas, ali naquele terreno, do número de nómadas que ali estão acampados. As tendas são constituidas de lona, de plástico, e ainda de papelão, suspensas pela colocação de paus no interior das mesmas. Constatámos também a inexistência de infra-estruturas tais como água, luz eléctrica e condições higiénico-sanitárias. Quanto aos sedentários são quarenta e nove, segundo dados da Câmara Municipal de Évora, portanto estando estes ali a viver permanentemente, constituindo sete familias. Quanto ao número de nómadas, depende sobretudo dos mercados e feiras ocorrentes, mas segundo o nosso informante-chave da Câmara Municipal, chegam a estar nos dias de maior afluência, tantos como os sedentários. Os ciganos sedentários situam-se naquele terreno há catorze anos e o seu aparecimento naquele bairro deve-se ao uso daquele terreno para feiras de gado em que eles vinham participar, transacionando gado, permanecendo posteriormente naquele local, em definitivo, optando pela sedentarização. Anteriormente à vida sedentária, também nomadizavam, como nos relata o nosso informante cigano: "a gente nunca viviamos certo, tá a ver, era hoje aqui e depois iamos para outro lado está a ver, andávamos sempre assim, quando andávamos com carroças, agora já não, como já temos carros e coisas; quando viemos para aqui, ainda andemos com carroças, de carro e besta tá a ver, hoje estávamos aqui, amanhã podiamos estar em Montemor, depois em Arraiolos, andávamos assim e há catorze anos para cá vivemos aqui, nunca mais abalámos daqui, prontos"."

O problema na época, há quase quinze anos já era, o da intolerância racial. Querendo fixar-se, numa boa parte das vezes, o que acontece, é que são obrigados a nomadizar. Os ciganos continuam a ser na sociedade portuguesa, "os outros", aqueles com quem nunca casariamos os nossos filhos e filhas. Aqueles que só "aceitamos" se tiverem bem longe, de "nós".

Este é o post do Helder do Contrasensos:


Ciganos: Nómadas?

A ideia de que os ciganos são eternamente nómadas está posta de parte há muito tempo. Surgida da diáspora desta etnia, fugida de genocídios por toda a Europa - e em particular ao holocausto nazi - a ideia ganhou foros de romantismo nos nossos tempos, habituados a vê-los escorraçados de terras e barracas, dos campos e das periferias das cidades. O antropólogo André Correia desfaz esta ideia, num estudo apresentado em Beja.
Ler mais aqui: http://reapnimprensa.blogspot.com/2009/10/ciganos-entre-tolerancia-e-expulsao-no.html


Ver aqui: http://contrasensus.blogspot.com/2009/10/ciganos-nomadas.html

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