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segunda-feira, agosto 10, 2009

Opinião Socialista: Quando outros escrevem aquilo que nós pensamos

Publicada por Elísio Estanque no blogue Boa Sociedade

Ver o original aqui: http://boasociedade.blogspot.com/2009/08/branquear-o-passado-e-hipotecar-o.html

Mário Soares e a Memória

Branquear o passado é hipotecar o futuro

"O Dr. Mário Soares resolveu, no seu artigo de opinião no DN (4/08/09), dar uma ajuda ao PS nas campanhas eleitorais que se avizinham. De resto, como fundador e principal figura do Partido Socialista pode dizer-se que esse gesto só lhe fica bem, pois, ele é condizente com o seu estatuto no imaginário socialista. Todavia, com todo o respeito que devamos creditar a Mário Soares (MS), a forma como tenta defender neste texto o programa do seu partido para as legislativas não deixa de se revelar como um mero exercício retórico que – acredito eu – em vez de ajudar, só prejudica.
Diz MS que o programa do PS está “voltado para o futuro”! Compreendendo que o partido se defenda dos ataques (muitos deles injustos...) da oposição e de (alguns...) sindicatos invocando o seu “esforço imenso” no equilibrio das contas, na modernização do país, nas energias renováveis, na defesa da Segurança Social, etc., alerta para que esse é um debate centrado no passado, o que considera um erro. O eleitorado exije que se discuta o seu futuro próximo.
Podemos até concordar com a justeza de muitas destas afirmações. Mas, eu entendo que o eleitorado aspira, antes do mais, a que os políticos falem verdade. E pressupor que o que está em causa do ponto de vista do eleitorado são as opções e propostas (ou melhor as promessas) para o futuro é tomar o povo por tolo. O que está em causa, o que já esteve em causa, mesmo nas europeias, é, e foi, a governação do PS nesta legislatura.
Ainda que se conceda que nem tudo foi errado, é por demais sabido que uma das principais razões por que os eleitores querem punir o Governo Sócrates foram as suas políticas inconsistentes, inconsequentes e erradas em diversas áreas (Exs: na educação – quer nos objectivos, quer nos procedimentos, atacando a eito os professores e a autonomia das escolas, estimulando o facilitismo e o “sucesso” sem exigencia; no trabalho – fragilizando a parte mais fraca e esquecendo as responsabilidades patronais e das lideranças; na saúde – desmantelando serviços, alienando recursos e privatizando; na cultura – por ausência de uma verdadeira política para a cultura e a língua portuguesa) e, por outro lado, a postura prepotente e autista perante as muitas e repetidas críticas (de fora e de dentro do partido, da rua e das instâncias de diálogo) que tentaram vezes sem conta chamar à razão a equipa governativa e a direcção do PS, mas que estas nunca quiseram ouvir. Ao invés mostraram reiteradamente o seu défice de cultura democrática e o seu desprezo pelo socialismo e pelos valores do próprio partido. Isto tudo, somado às sucessivas trapalhadas e “casos” em que o Primeiro-Ministro se deixou enredar, e que ajudaram a esbanjar a larga margem de simpatia de que dispunha inicialmente. Sócrates e o seu governo não se revelaram dignos da maioria absoluta que os portugueses lhe deram.
O Dr. MS sabe muito bem disso! Sabe que esta direcção do PS tem desbaratado o património do partido e que o seu actual líder tem imensas dificuldades em compreender o legado do socialismo democratico. E também sabe que nenhuma sociedade (ou partido) terá futuro se não souber preservar a memória. Muito embora na actual sociedade mediática os “acontecimentos” sejam facilmente revertidos em fait divers, ou seja, em espectáculos de entretenimento cuja fruição tende a apagar o passado recente, o eleitorado sabe julgar o poder com base na sua prática governativa e não se deixa enganar duas vezes (sobretudo se forem seguidas). Apesar de tudo, o povo tem memória (felizmente!).
Importa falar do futuro, sim. Mas que futuro poderemos nós augurar quando os agentes políticos que o prometem são os mesmos que nos acabaram de defraudar, falhando no cumprimento do seu programa em aspectos decisivos?! Ocorreu ao longo dos últimos 3 anos um corte afectivo entre o governo e o eleitorado PS (por culpas próprias do governo e dos dirigentes do partido maioritário), e foi isso que provocou os resultados das europeias.
No próximo dia 27 de setembro vão ser julgadas as políticas seguidas (e as promessas por cumprir) pelo governo Sócrates na última legislatura. É certo que ninguém pode ter a certeza quanto aos resultados das eleições (parlamentares ou autárquicas). É certo que nenhum socialista ou cidadão de esquerda acredita que o PSD e a Dra Manuela Ferreira Leite façam melhor do que fez o actual governo. Inclusive porque, como temos memória, ainda não esquecemos a anterior governaçao PSD (onde pontificaram Durão Barroso, Santana Lopes, Paulo Portas, Manuela Ferreira Leite e muitos dos nomes que ela tenta agora trazer de volta)! Mas não é demais sublinhar que o PS está a pagar pelos seus próprios erros. Ter memória e ter consciência são requisitos fundamentais para uma cidadania efectiva e exigente. Por isso não se pode querer ter cidadãos informados e exigentes e ao mesmo tempo pretender que eles ignorem “o passado” e acreditem de repente nas “boas intenções” de quem os enganou. "


Elísio Estanque é Professor da Universidade de Coimbra.

3 comentários:

  1. Excelente artigo este, do professor Elísio Estanque! Saliento a sua frase " Ter memória e ter consciência são requisitos fundamentais para uma cidadania efectiva e exigente."

    Abraço amigo

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  2. "É certo que nenhum socialista ou cidadão de esquerda acredita que o PSD e a Dra Manuela Ferreira Leite façam melhor do que fez o actual governo. Inclusive porque, como temos memória, ainda não esquecemos a anterior governação PSD (onde pontificaram Durão Barroso, Santana Lopes, Paulo Portas, Manuela Ferreira Leite e muitos dos nomes que ela tenta agora trazer de volta)!". Elucidativo...porque pode levar ao voto útil!!! E iremos ter mais do mesmo!!! Dilema!!!

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  3. Olá Jorge. Benvindo como sempre. Esse é o nosso triste dilema!

    Um grande abraço.
    Joâo

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