"É curioso que num mundo em que a política deveria ser cada vez mais aberta, partilhada e participada, tem a paradoxal tendência de tornar-se no seu contrário. Isto é, os aparelhos partidários fecham-se sobre si próprios, os líderes políticos parecem agir como reféns de grupos restritos de apaniguados e a experiência democrática, em geral, tenta sobreviver ao autismo desta velha política.
O sinal que este desempenho político dá aos cidadãos é francamente débil e reforça a convicção dos que crêem que a democracia representativa entrou em lento processo de autoliquidação. Os media, aliás, já tinham dado um primeiro sinal dessa obsolescência, sobretudo através dos usos que os protagonistas do sistema partidário fazem da televisão: à crise de legitimação do político, o sistema político-partidário responde com o reforço, por vezes panfletário, da presença na televisão.
Mas na era dos novos media, a tentativa de relegitimação pela televisão é também algo já em crise. Obama percebeu-o claramente. Entender as redes sociais, afinal, não é mais do que entender os cidadãos. E o exercício da política terá de ser o exercício da cidadania e da absoluta transparência. Quando o não é - e não o é vezes a mais - vem como alternativa aquilo a que se chama hoje os "media participativos" - das redes sociais ao microblogging. Onde qualquer voz pode ter, no imediato, não o direito (à velha) política, mas o direito à palavra. Que é o direito a uma nova política."
Francisco Rui Cádima - professor da Universidade Nova de Lisboa - in Diário de Notícias de 06/08/2009
Via Ricardo Tomás do blogue Opinion Shakers: http://opinionshakers.blogspot.com/
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