A minha Lista de blogues

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Para a compreensão da futura toponímia da cidade de Loule. Raúl Pinto: Um acérrimo defensor do regime de Salazar

Numa altura em que foi aprovada por unanimidade, a toponímia futura para algumas das zonas territoriais da cidade de Loulé, pretendemos contribuir para o esclarecimento de algumas das figuras escolhidas pelo poder local para servirem de exemplo às futuras gerações.

Sobre Raúl Pinto deixo-vos algumas passagens encontradas no Arquivo Histórico de Loulé que ajudam a perceber quem era esta personagem histórica.

Peço desculpa, mas fico indignado pela escolha. Embora esta escolha diga muito sobre as concepções de democracia que por cá circulam. E não serve o argumento de que era um homem do seu tempo...não serve.

"PARA A HISTÓRIA DA COMISSÃO PORTUGUESA PARA AS RELAÇÕES CULTURAIS EUROPEIAS José Pacheco Pereira - UM INÉDITO DE CUNHAL

PROPAGANDA ANTICOMUNISTA EM LOULÉ (1947)

Nas minhas pesquisas no Arquivo Histórico de Loulé, nas inúmeras pastas confidenciais que por aqui existem, encontrei um Relatório sobre a situação política « nos meios provincianos e rurais” em 1947, com uma análise sobre as diversas classes sociais e a sua adesão aos princípios nacionalistas do regime, sugestões para atrair os descontentes e alvitres de propaganda anti-comunista.

Este Relatório de 6 páginas, foi elaborado por Raul Pinto, Chefe da Secretaria da Câmara Municipal de Loulé e Vogal da Comissão Concelhia da U.N., homem influente nos meios políticos de então, ao ponto de constar que foi graças às suas diligências e conhecimentos que Salazar veio a Loulé em 1953 (penso que foi a única visita oficial que fez ao Algarve) inaugurar o Monumento a Eng. Duarte Pacheco. Este documento foi enviado na altura para o Secretário Geral da Comissão Central da U.N. , Governo, PIDE, etc."

O documento pode ser lido no site http://estudossobrecomunismo2.wordpress.com/2005/06/22/propaganda-anticomunista-em-loule-1947/

Aconselha-se a leitura na integra para percebermos como o poder político local perdeu a coluna vertical.

Deixo-vos a leitura de AlGUMAS DAS SUGESTÕES E ALVITRES QUE PARECEM ACONSELHÁVEIS para defender a situação enviado por Raúl Pinto ao Governo de Salazar:

"Propaganda. Precisamos de fazer intensa propaganda anti-comunista, através da rádio, do cinema, da imprensa, do manifesto e da palavra. Os sindicatos e as casas do Povo, devem receber visitas amiudadas dos senhores Delegados de Trabalho e estes devem exercer uma violenta e persistente doutrinação daqueles meios. Propaganda sobretudo para as classes humildes. Atravez dos manifestos, bem redigidos, claros, intuitivos, de leitura fácil a gente rude. O manifesto para o lavrador seria, por exemplo, concebido em termos parecidos com os seguintes: “Certamente tens ouvido falar do comunismo. Sabes o que é? Já te disseram o que eles querem? Pois vamos nós dizer-to. O comunismo é uma doutrina dos que nada têm e querem que tu lhe dês parte do que tens, porque herdaste dos teus pais ou o ganhaste com o suor do rosto. Queixas-te contra o Grémio, porque este te obriga a entregar aquilo que te sobra das tuas necessidades. Mas não te disseram que, se viesse o comunismo, tinhas de entregar tudo o que a tua terra produz. Etc.Etc.”
O manifesto para o operário versaria assunto que ao mesmo ininteressasse e assim, através das autoridades administrativas, dos grémios, das casas do povo e dos pescadores e dos sindicatos, existiria uma propaganda acessível, clara, contundente e persistente, com muito maior mérito e proveito da que se faz através do Jornal do Povo, que o povo não entende e nem por ela se deixa impressionar.

BIBLIOTECAS AMBULANTES, que percorrendo o País com frequência, apresentassem livros de propaganda anti-comunista e de acentuado sabor histórico ou nacionalista.

FESTAS DE CARÁCTER OPERÁRIO OU CAMPONÊS: subsidiar e fomentar a realização nas casas do povo e sindicatos de festas de glorificação do trabalho, com comissões constituidas pelos próprios artistas, orientadas pelos Delegados do Trabalho e com a informação da União Nacional.
Assim teria lugar a festa dos carpinteiros, dos sapateiros, dos caldeireiros, com exposição de obra de artesanato peculiar e prémios aos expositores. Por outro lado, desenvolvimento e protecção de grupos folclóricos e regionais porque tudo isto impressiona o povo e o aproxima dos governantes. Cursos nocturnos nas escolas, para adultos e adolescentes, com regentes indicados pela U. N. local.

ACÇÃO DO CLERO: Promover a criação, junto de cada diocese, de um pequeno grupo de sacerdotes, com cultura social e qualidades oratórias, a quem seria cometido o encargo de pregações alternadas, mas frequentes nas freguesias mais contaminadas. "

Há por aí algum professor de História de Portugal que ajude na interpretação histórica deste documento?

4 comentários:

  1. Fui ler na integra o texto que vc transcreve parte. Interessante. Até vejo algumas semelhanças com o presente...PROPAGANDA!!!
    Tinha 7 anos quando Salazar visitou Loulé para inaugurar o Monumento Duarte Pacheco. Lá fomos, obrigatoriamente, todos os meninos e meninas da escola primária, com os bibes brancos que se usava então à recepção de Salazar. Lembro-me da figura dele e de ter ficado ligeiramente assustado com os aviões a jacto que sobrevoaram o local por várias vezes...
    Voltando ao Raúl Pinto... a história das despesas com o médico, da derrocada, do projecto... da maneira de fazer justiça para os pequenos delitos... uma primeira leitura pode pensar-se que ele tinha preocupações sociais...mas o que ele lamenta é perder essas perrogativas para servir de propaganda para o regime. Em determinado momento até diz...Isto era um rosário de benções e de boas vontades que se encontravam quando lhe batíamos à porta em véspera de eleições...Esta frase diz tudo...Qualquer semelhança com políticos actual é pura coincidência...

    ResponderEliminar
  2. Por lapso não indiquei o meu nome no comentário...

    ResponderEliminar
  3. Boas Jorge. Agradeço a sua opinião. Pena que mais de que 30 anos depois da revolução de Abril tenhamos como exemplos a seguir alguém que foi um fervoroso defensor de um regime que pelos vistos as pessoas acham que não foi tão mau quanto isso. A leitura do documento não deixa margem para dúvidas. Estamos perante alguém que foi um bom instrumento de reprodução da ideologia dominante em vigor e pela clara manutenção de um satus quo gravemente injusto para a maioria da população portuguesa.

    Abraços aí para o Brasil. Terra de boa gente.
    João Martins

    ResponderEliminar
  4. Estava convicto de haver comentado este teu tópico, mas como nada aqui encontro: devo, apenas, ter pensado fazê-lo!
    Esta homenagem muito me custa, até porque desejei, e muito, que as pessoas que sofreram as atrocidades deste fascista tivessem comparecido no "Laboratório da Memória" e testemunhado aquilo que sofreram... nada, ou muito pouco ficou gravado como depoimento, e, na rua continuo a ouvir histórias!!!
    33 anos passados, continua o medo, melhor dizendo, regressou o medo. Este atinge as classes C e D, que continuam a ser controladas e confundidas pelas classes A e B... era assim que Raúl Pinto via o tecido social louletano e para cada uma desenhava estratégia de propaganda e de acção diária (aquilo que eu sinto que o PSD ainda hoje usa), que consistia em dizer apenas aquilo que cada um devia ouvir para fazer o que ele desejava!
    O Corporativismo encheu as instituições de figuras de respeito, mas colocou sempre um "cabeçilha" que as comandava, que no nosso caso era o Raúl Pinto!
    Prova disso. foi um texto da União Nacional assinado por Bernardo Lopes onde se reconhecia limpidamente a escrita do cabeçilha (o que não deixou de ser referido pelo público presente no "Laboratório da Memória")!
    Decididamente, nunca residirei na Rua que irá ter o seu nome e tudo farei por lá não ir!

    ResponderEliminar