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domingo, fevereiro 24, 2008

Estudar compensa! O desemprego de licenciados e a ideia falaciosa de que somos um país de doutores

A divulgação das estatísticas de desempregados licenciados, em Portugal, esta semana, vem contribuir para o reforço de uma falsa ideia em circulação entre o comum dos mortais, que defende sermos nós um país de doutores.

Com tanto psicólogo, advogado, professor, gestor, economista e enfermeiro, inscrito nos centros de emprego, dizem as boas almas que o que toda a gente quer é ser doutor e que só se corre atrás dos canudos na busca da distinção social, mas que afinal aquilo que os espera são profissões sem futuro.

O passo seguinte da argumentação lógica é sobejamente conhecido. Com tanta falta de canalizadores, carpinteiros, ladrilheiros ou bons sapateiros, não se percebe o que vai fazer esta boa gente para as universidades portuguesas.

O problema é que estamos perante um efeito de ilusão de óptica e a realidade mais uma vez desmente cabalmente estes discursos de senso comum e muitas vezes eivados de bom senso, a quem a análise científica destas questões arruína o raciocinio.

Vejamos então os factos:

1. Quanto maior a qualificação escolar de um trabalhador, em média, maior são os rendimentos auferidos ao longo da sua vida. A correlação é clara e conhecida.

2. Um trabalhador com o ensino superior ganha mais 80% do rendimento de um trabalhador com o ensino secundário.

3. Quanto maior o nível de escolaridade de um indíviduo, maior o estatuto social e profissional alcançado ao longo da sua trajectória de vida.

4. Ser licenciado protege mais do desemprego, uma vez que a probabilidade de cair no desemprego é maior para os trabalhadores fracamente qualificados e quando em situação de desemprego o tempo de espera é menor para os trabalhadores com maiores qualificações.

5. Para além dos licenciados terem melhores níveis de empregabilidade que o resto da população com menores níveis de qualificação, as oportunidades de acesso a formações profissionais qualificantes, também lhes está mais facilitada, pois quanto mais elevada a qualificação escolar, maiores as oportunidades sociais de acesso a este tipo de formações facilitadoras da mobilidade social e profissional.

6. A falácia da ideia de sermos um país de doutores, esquece também, que em 1960 apenas menos de 2% da população tinha um diploma de ensino superior, o que permitia uma entrada directa em postos de trabalho de elevado estatuto social.

7. Hoje apesar dos enormes progressos na produção de licenciados pelo ensino superior ainda só conseguimos ter metade dos licenciados da média da União Europeia.

8. Temos portanto, licenciados a menos e não a mais como se quer fazer crer.

9.O problema situa-se claramente do lado do mundo económico.
Com a economia a crescer lentamente e com tendências de estagnação, não há criação de lugares qualificados na estrutura ocupacional que absorvam o acréscimo de licenciados dos últimos anos com a rapidez necessária. Com uma estrutura produtiva assente em mão de obra intensiva e pouco qualificada, assente em baixos salários, e com a maioria dos empresários com uma escolaridade modal ao nível do sexto ano de escolaridade, a inserção dos licenciados revela maior dificuldade em se realizar.

10. O "êxito" do controlo do défice público, também tem contribuido para o entrave ao recrutamento de quadros qualificados para a administração pública portuguesa, sendo este factor um claro entrave à mobilidade social dos recém licenciados.

11. Para terminar, fica a denúncia da falácia e a importante mensagem:

Estudar compensa, por favor incentive os seus filhos a continuar os estudos.

Se a licenciatura já não dá acesso directo a cargos de topo como acontecia nos anos de 60, 70, do século passado, hoje é fundamental para construir uma carreira.

Com muito mais dificuldade para todos os indivíduos em geral e com menor dificuldade para os filhos da classes médias e superiores.

O ministro Gago desta vez tem razão e não é pouca! Estudar compensa...aceite este bom conselho!

1 comentário:

  1. Não vale a pena. É melhor aprender um oficio qualquer e emigrar. As empresas só precisam ed mão ed obra barata.

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