Gonçalo Ribeiro Telles é daqueles homens que a história sempre recordará.
Corria o ano de 1967 e perante as inundações destrutivas da cidade de Lisboa, Telles veio à televisão explicar que as causas de tal fenómeno eram humanas e que nada tinham que ver com os deuses estarem zangados.
O desordenamento do território, a construção em leitos de cheia, a destruição dos terrenos agricolas e das plantas e árvores, tão necessárias à retenção das águas, eram afinal os grandes responsáveis, afirmava o senhor arquitecto.
De lá para cá, os erros continuam e este homem, qual Santo António, continua a pregar aos peixes.
O Ministro do Ambiente, que tem estado de férias até às cheias desta semana, saiu apressadamente a culpar os autarcas e a dizer absurdamente que já não temos problemas de ordenamento do território.
Os autarcas que se pronunciaram, apressaram-se a responder ao ministro que pelo que lhes toca estão de consciência tranquila.
Afinal não há responsáveis e nem há problemas de ordenamento do território e de impermibialização dos solos.
Razão tinha o ex-ministro do Ambiente, José Sócrates, quando dizia que as autarquias dependerem das receitas dos licenciamentos da construção não podia ser boa coisa.
As chuvas vão voltar, as inundações vão continuar e para nossa desgraça os deuses é que vão continuar a pagar.
Porque prega Ribeiro Telles há mais de 40 anos aos peixes?
Deixo-vos mais uma intervenção de Telles sobre este problema em Lisboa, pela escrita dos jornalistas do DN online que data de 2007:
"Se hoje chovesse tanto como na noite de 25 de Novembro de 1967, as cheias provocariam ainda mais estragos na região de Lisboa. Gonçalo Ribeiro Telles, o arquitecto paisagista que há 40 anos escapou à censura e foi à televisão explicar porque é que as inundações provocaram danos tão elevados, está convencido de que os poderes local e central têm "repetido e acumulado" os mesmos erros cometidos no passado. "A única diferença é que, entretanto, foram criados planos municipais para salvaguardar a circulação das águas das chuvas."
Mas isso de pouco vale porque boa parte destes projectos ainda "não saiu da gaveta". "Loures, Sintra ou Seixal são alguns dos municípios que ainda não aplicaram os seus planos de arquitectura de paisagem", denuncia o arquitecto, esclarecendo que há outros concelhos como Oeiras que nem sequer criaram os projectos. A autarquia de Lisboa também não escapa às críticas de Ribeiro Telles, uma vez que existe, desde 2005, um projecto para a construção de bacias de retenção de águas ao longo do vale de Alcântara que não foi aplicado.
Tudo isso tem consequências, avisa o especialista e, enquanto não se aplicarem estes planos, será possível continuar a construir nos leitos das cheias, reduzir a reserva agrícola - que graças aos seus solos orgânicos retêm mais água em caso de inundações - ou edificar junto ao litoral onde o terreno seria mais permeável às chuvas. Segundo o arquitecto, o problema não está nas chuvas fortes que serão cada vez mais frequentes e inevitáveis num clima mediterrânico: "A questão central passa por garantir a circulação das águas tanto nos meios rurais como urbanos."
http://dn.sapo.pt/2007/11/25/tema/regiao_lisboa_continua_a_merce_inund.html
Gonçalo Ribeiro Telles tem 82 anos e é considerado o primeiro ecologista português. Monárquico liberal, ex-ministro de Estado e da Qualidade de Vida, fundador do Movimento Partido da Terra, teve ao longo da sua carreira, uma vasta intervenção política e cívica.
Vale a pena ir à procura do que o homem já dizia em 1967.
Boa semana
Nessa época morava eu em Queluz, nas margens da Ribeira do Jamor,nunca mais esquecerei aquilo que vi acontecer e os amigos que perdi naquela terrível noie de águas em fúria. Na verdade, o urbanizador é o único culpado, por deslocar linhas de águas e edificar sobre elas e ainda por, sabendo disso, não cuidar as zonas críticas de forma a prevenir estes acidentes... As cartas hídricas deveriam ser parte obrigatória dos processos das edificações e todos delas deveriam ter conhecimento!
ResponderEliminarDesde há muito que acompanho as opiniões de Ribeiro Telles. E como diz o João Martins o que leva este homem a pregar aos peixes há mais de 40 anos? A honestidade. O acreditar em utopias...E, quem acredita, não desiste!!!
ResponderEliminarO ministro do ambiente comportou-se como uma criança...mamãe...não fui eu...foi o vizinho. E o vizinho...retribuiu da mesma maneira...enfim...e cá vamos nós no nosso habitual deixa andar e a especulação imobiliária há-de continuar, as cheias hão-de repetir-se e as desculpas vão ser as mesmas de sempre...
A Somague foi condenada a pagar uma coima de seiscentos mil euros, depois de ser acusada pelo Tribunal Constitucional de financiamento ilegal. Parece que pagou uma factura ao PSD.
ResponderEliminarNão há problema. Seiscentos mil euros são facilmente recuperáveis num qualquer negócio imobiliário entre a construtora e o Estado. E se a Somague foi esperta, também pagou facturas ao PS.
Por isso, não se apoquentem. Vai tudo correr bem.
Fonte: Blog LOBI
Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Francisco Nunes Correia, essa figura cinzenta que nunca ninguém vê porque nada parece fazer, hoje lá teve de falar das cheias. Como está na moda, fez como Pilatos e lavou as mãos das responsabilidades e atirou-as para as câmaras municipais. Por seu lado o Vice-presidente da Câmara de Lisboa resolveu fazer o mesmo, lavar as mãos das culpas e atirou-as para os anteriores Presidentes da autarquia. Como cada vez mais acontece em Portugal, a culpa é de todos e a culpa não é de ninguém. É só consequência do nosso fado de sermos portugueses.
ResponderEliminarhttp://wehavekaosinthegarden.blogspot.com/
Olá Jorge! O que não se percebe na decisão jurídica do caso SOMAGUE é que o corruptor tenha uma pena muito superior ao corrompido. Haverá diferenças morais?
ResponderEliminarE o Senhor Presidente da Comissão Europeia não passa nada?
Abraços Jorge! Agradeço as preciosas intervenções.