1. O ingresso do Pedro no 1º Ciclo do Ensino Básico foi digno da nossa senhora da bagunça e deixa o pai e a mãe à beira de um ataque de nervos. A informação na internet da noite anterior marcava reunião com os pais para as 11 horas da manhã do dia seguinte. Chegados à escola nº4, edifício 2, em Loulé, às 10h55mn, a reunião tinha decorrido na sala do outro edifício. Pai e mãe, empenhados em exercer a sua função nobre de educadores perderam ambos uma manhã de trabalho. O que não dirá a Troika disto?
2. Recebeu-nos uma senhora professora, muito simpática, que nos disse que a reunião afinal já tinha sido e que ela apenas estava para receber os pais e passar algumas informações, que a turma ainda não tinha professora. No ano em que se bate o recorde histórico no desemprego dos professores não deixa de ser fantástico que o ano escolar do Pedro dê início sem professor (a). Mais tarde apareceu o senhor Director do Agrupamento (por minha solicitação) a garantir que já havia uma colocação e que a nova professora tem três dias para se apresentar. Como hoje é Terça-Feira, imagino que o Pedro na primeira semana vá fazendo "uns exercícios" com uma professora substituta que por ali vai estar para "desenrascar". O início de um ciclo de estudos essencial à consolidação das aprendizagens básicas do meu filho Pedro é assim digno de um processo Kafkiano. É a burocracia do "Ministério", é a "regra" das colocações, é outra professora que pediu a reforma, é aquela que era desta sala no ano anterior e voou (literalmente) para a outra da turma do lado. É tudo somado, a sala do Pedro que no primeiro dia está orfã da educadora e o primeiro dia afinal não aconteceu.
3. Ainda no final do ano lectivo passado andava eu com uma certa inquietação com a constituição das turmas e a forma como a escola o iria fazer. Tendo alguns bons anos de investigação e ensino sobre os mecanismos escolares de produção de desigualdades sociais sabia que entre os vários e poderosos factores que produzem efeitos na aprendizagem dos alunos está o que a sociologia da educação consagrou como "efeito turma". E o "efeito turma" resulta em boa parte das vezes da forma como os professores agrupam os alunos no interior da escola. É conhecido de alguns anos o facto dos professores mais experientes quererem leccionar aquilo que perspectivam como "boas" turmas e deixarem para os que estão a chegar aquilo que consideram ser as "más" turmas. Não poucas vezes as turmas da "manhã" em muitas escolas são aquelas com que toda a gente quer trabalhar deixando as turmas da "tarde" para quem as quiser agarrar. Sabendo da existência destes mecanismos fui à secretaria da escola saber porque motivo o Pedro ficou na turma em que ficou e qual o critério de constituição das turmas. Se já não estava descansado sabendo o que poderia acontecer menos descansado vim com a resposta de uma senhora professora. O critério é a área de residência. Tudo bem. Dava uma longa história mas tudo bem, é um critério. Depois outro critério é a existência de alunos com necessidades educativas especiais. Tudo bem. E depois veio o critério de fazer turmas "equilibradas". E aqui tudo bem e tudo mal. Se o critério turmas equilibradas me parece um bom critério não se percebe como pessoas que não contactaram com os alunos no ano anterior fazem essas turmas equilibradas. Depois, para mal dos meus pecados e dos do Pedro, o critério área de residência por si só deixa uma margem de arbitrariedade nas escolhas que estas dão azo a todas as margens de desconfiança em grau elevado. Mesmo que quem constitua as turmas o faça de boa fé virá sempre à baila o problema da mulher de César. É que nestas coisas não basta parecê-lo, é preciso sê-lo. É que havendo filhos de professores da própria escola com interesse na boa educação dos seus filhos e havendo filhos de elementos das associações de pais com o mesmo nobre interesse, sabendo nós que hoje em dia os pais (sobretudo os fortemente escolarizados) fazem uma enorme pressão sobre as escolas, pois estão bem informados dos benefícios de um bom resultado no jogo escolar, estas coisas não podem ser deixadas à boa fé de cada um, protegida esta, pela Santa Mãe Soberana. O que é facto é que o Pedro ficou na turma que não tem professora e a professora que estava na sala da turma do Pedro o ano passado emigrou para a sala da turma onde o Pedro não está. E há lá filhos de professores da escola e de elementos das associações de pais todos eles nobremente interessados na boa educação dos seus filhos. Nestas coisas, de uma importância fulcral para a vida dos alunos e suas famílias à mulher de César não basta sê-lo. É preciso parecê-lo. E eu não digo que neste caso a mulher de César não foi. O que digo é que não tenho garantias que o foi. Para que os pais possam estar tranquilos teria que haver critérios objectivos para decisões objectivas. Assim se conseguia a transparência. Assim se gerava confiança. Se não fôr a escola a introduzir regras justas geradoras de equidade no interior do espaço escolar não há-de ser certamente a Troika que o irá fazer. Essa, a gente já sabe com o que conta.
4. Como não bastava a situação descrita, levantou-se a questão da continuidade da nova educadora ao longo do percurso do Pedro no 1º ciclo. Segundo o senhor Director é mais que provável que para o ano tenha que haver mudança de professora. Isso a não acontecer é na sua expressão "como sair o euromilhões". E não sabemos o que vai ocorrer no terceiro ano e muito menos no quarto. É caso para dizer, assim esmurece a minha crença na escola pública.
5. Fiquei também a saber através do diz que disse que este ano "ainda vai" haver actividades extra-curriculares, o Inglês, a Educação Física e a Educação Musical mas para o ano "não se sabe se haverá". O Ministro Crato parece ter conseguido o feito mágico de conduzir de novo o ensino ao ler, escrever e contar. A partir de agora a aprendizagem inicial do Inglês, a Educação Musical e a Educação Física são luxos para os ricos. Quem pode paga, quem não pode que se queixe à troika. E assim chegamos a um brutal retrocesso social. Em nome da Troika que nos governa. Do fascismo que aí está a nascer. Dos sacrifícios que somos santificados a fazer. Peço imensa desculpa por não pôr a resignação dentro do armário. Tenho a ligeira impressão que este trajecto do Pedro vai dar que falar. E se eu resignasse eu não me ia perdoar. Quem sabe, ele também não. É que como devem imaginar, eu não andei a gerir o BPN e o Pedro certamente também não. E a pobre criança nem sequer foi ainda ao Arquipélago da Madeira.
2. Recebeu-nos uma senhora professora, muito simpática, que nos disse que a reunião afinal já tinha sido e que ela apenas estava para receber os pais e passar algumas informações, que a turma ainda não tinha professora. No ano em que se bate o recorde histórico no desemprego dos professores não deixa de ser fantástico que o ano escolar do Pedro dê início sem professor (a). Mais tarde apareceu o senhor Director do Agrupamento (por minha solicitação) a garantir que já havia uma colocação e que a nova professora tem três dias para se apresentar. Como hoje é Terça-Feira, imagino que o Pedro na primeira semana vá fazendo "uns exercícios" com uma professora substituta que por ali vai estar para "desenrascar". O início de um ciclo de estudos essencial à consolidação das aprendizagens básicas do meu filho Pedro é assim digno de um processo Kafkiano. É a burocracia do "Ministério", é a "regra" das colocações, é outra professora que pediu a reforma, é aquela que era desta sala no ano anterior e voou (literalmente) para a outra da turma do lado. É tudo somado, a sala do Pedro que no primeiro dia está orfã da educadora e o primeiro dia afinal não aconteceu.
3. Ainda no final do ano lectivo passado andava eu com uma certa inquietação com a constituição das turmas e a forma como a escola o iria fazer. Tendo alguns bons anos de investigação e ensino sobre os mecanismos escolares de produção de desigualdades sociais sabia que entre os vários e poderosos factores que produzem efeitos na aprendizagem dos alunos está o que a sociologia da educação consagrou como "efeito turma". E o "efeito turma" resulta em boa parte das vezes da forma como os professores agrupam os alunos no interior da escola. É conhecido de alguns anos o facto dos professores mais experientes quererem leccionar aquilo que perspectivam como "boas" turmas e deixarem para os que estão a chegar aquilo que consideram ser as "más" turmas. Não poucas vezes as turmas da "manhã" em muitas escolas são aquelas com que toda a gente quer trabalhar deixando as turmas da "tarde" para quem as quiser agarrar. Sabendo da existência destes mecanismos fui à secretaria da escola saber porque motivo o Pedro ficou na turma em que ficou e qual o critério de constituição das turmas. Se já não estava descansado sabendo o que poderia acontecer menos descansado vim com a resposta de uma senhora professora. O critério é a área de residência. Tudo bem. Dava uma longa história mas tudo bem, é um critério. Depois outro critério é a existência de alunos com necessidades educativas especiais. Tudo bem. E depois veio o critério de fazer turmas "equilibradas". E aqui tudo bem e tudo mal. Se o critério turmas equilibradas me parece um bom critério não se percebe como pessoas que não contactaram com os alunos no ano anterior fazem essas turmas equilibradas. Depois, para mal dos meus pecados e dos do Pedro, o critério área de residência por si só deixa uma margem de arbitrariedade nas escolhas que estas dão azo a todas as margens de desconfiança em grau elevado. Mesmo que quem constitua as turmas o faça de boa fé virá sempre à baila o problema da mulher de César. É que nestas coisas não basta parecê-lo, é preciso sê-lo. É que havendo filhos de professores da própria escola com interesse na boa educação dos seus filhos e havendo filhos de elementos das associações de pais com o mesmo nobre interesse, sabendo nós que hoje em dia os pais (sobretudo os fortemente escolarizados) fazem uma enorme pressão sobre as escolas, pois estão bem informados dos benefícios de um bom resultado no jogo escolar, estas coisas não podem ser deixadas à boa fé de cada um, protegida esta, pela Santa Mãe Soberana. O que é facto é que o Pedro ficou na turma que não tem professora e a professora que estava na sala da turma do Pedro o ano passado emigrou para a sala da turma onde o Pedro não está. E há lá filhos de professores da escola e de elementos das associações de pais todos eles nobremente interessados na boa educação dos seus filhos. Nestas coisas, de uma importância fulcral para a vida dos alunos e suas famílias à mulher de César não basta sê-lo. É preciso parecê-lo. E eu não digo que neste caso a mulher de César não foi. O que digo é que não tenho garantias que o foi. Para que os pais possam estar tranquilos teria que haver critérios objectivos para decisões objectivas. Assim se conseguia a transparência. Assim se gerava confiança. Se não fôr a escola a introduzir regras justas geradoras de equidade no interior do espaço escolar não há-de ser certamente a Troika que o irá fazer. Essa, a gente já sabe com o que conta.
4. Como não bastava a situação descrita, levantou-se a questão da continuidade da nova educadora ao longo do percurso do Pedro no 1º ciclo. Segundo o senhor Director é mais que provável que para o ano tenha que haver mudança de professora. Isso a não acontecer é na sua expressão "como sair o euromilhões". E não sabemos o que vai ocorrer no terceiro ano e muito menos no quarto. É caso para dizer, assim esmurece a minha crença na escola pública.
5. Fiquei também a saber através do diz que disse que este ano "ainda vai" haver actividades extra-curriculares, o Inglês, a Educação Física e a Educação Musical mas para o ano "não se sabe se haverá". O Ministro Crato parece ter conseguido o feito mágico de conduzir de novo o ensino ao ler, escrever e contar. A partir de agora a aprendizagem inicial do Inglês, a Educação Musical e a Educação Física são luxos para os ricos. Quem pode paga, quem não pode que se queixe à troika. E assim chegamos a um brutal retrocesso social. Em nome da Troika que nos governa. Do fascismo que aí está a nascer. Dos sacrifícios que somos santificados a fazer. Peço imensa desculpa por não pôr a resignação dentro do armário. Tenho a ligeira impressão que este trajecto do Pedro vai dar que falar. E se eu resignasse eu não me ia perdoar. Quem sabe, ele também não. É que como devem imaginar, eu não andei a gerir o BPN e o Pedro certamente também não. E a pobre criança nem sequer foi ainda ao Arquipélago da Madeira.
Pois é João, o Pedro ainda não foi à Madeira mas já pode ir brincar para o Parque Municipal a partir dos primeiros dias do próximo mês, Outubro 2011. Pelo menos é o que se diz por aí.
ResponderEliminarOlá Pedro. Boas notícias então.
ResponderEliminarAbraço
João Martins
Não quero de modo algum parecer insensível ao problema do Pedro, no entanto, antes de mais, parece-me que os pais do Pedro deveriam ter inscrito o seu filho num daqueles colégios privados onde os pais podem escolher os colegas dos filhos, assim como os professores, quiça até os horários, porque esta não é a realidade das escolas públicas e penso que cego é quem não quer ver... porque a realidade está espelhada nos nossos noticiários todos os dias...quanto ao facto dos horários da tarde serem para os "desesperados",parece-me que mais uma vez tem uma ideia muito errada da realidade... é pena que não conheça o modo como esses professores foram parar aos "horários da tarde"... quanto aos filhos dos professores estarem colocados nas turmas especiais... a minha filha, como filha de professora deste agrupamento, há alguns anos nunca teve, nem tem qualquer privilégios, muito pelo contrário, sempre esteve em desvantagem porque enquanto os pais dos colegas estavam presentes nos eventos e nas reuniões, a mãe da minha filha estava a receber os encarregados de educação da sua turma!
ResponderEliminarCara Senhora professora,
ResponderEliminarFaça-me um favor. Leia o
último relatório nacional de avaliação externa das escolas e verifique os resultados sobre o efeito da constituição das turmas nas desigualdades escolares (que as próprias escolas produzem), procure também a investigação científica sobre essa questão. Depois estamos em condições de conversar sobre isso. Depois de se apresentar claro. Sabe como é injusto conversar na blogosfera com anónimos.Não são os pais do Pedro que têm que inscrever o Pedro nos colégios privados, pois isso já fizeram com a creche do Miguel pois não há lugar no sistema público, o que de resto já aconteceu com o Pedro pois a escola onde a senhora lecciona não tinha vagas. A senhora professora está a pôr o problema ao contrário. A sua escola é que tem que assegurar as condições necessárias à igualdade de concorrência da educação das crianças. E eu não sei se isso aconteceu. Essa é a questão.
Cumprimentos
João Martins
Os melhores cumprimentos
João Martins