Terminou hoje o Congresso do PS que consagra António José Seguro na liderança do partido. Começemos pelas coisas positivas. A recusa da inscrição de um limite à dívida na Constituição da República num partido que se diz socialista é de elementar bom senso. A mudança na disciplina de voto de maneira a dar asas a uma maior pluralidade de ideias e opiniões é uma coisa salutar. A mudança de estilo no sentido de uma maior abertura ao diálogo é um claro sinal de progresso. Mas depois tudo o resto aparentou um misto de plasticidade e incoerência. Falar de combate às desigualdades sociais, de apoio aos mais desfavorecidos e da salvação do Estado Social e ao mesmo tempo "honrar os compromissos" com a Troika não bate a bota com a perdigota. Ou António José Seguro não leu o memorando que o PS de Sócrates assinou com a Troika, ou se leu, e percebeu, anda a enganar os portugueses. Se leu, e não percebeu, o caso ainda é mais grave. De toda a forma o que deu para perceber neste congresso é que o PS passou uma esponja por cima dos seis anos de governação desastrosa de José Sócrates. Por detrás daquela encenação de um partido dividido em torno de Seguro e Assis há um consenso douradouro de fundo. As caras que nas televisões iam desfilando não deixam margens para dúvidas. Pedro Silva Pereira, Vera Jardim, Ricardo Mãos de Tesoura, Vitalino Canas, Manuel Alegre (quem o ouve só pode concordar com o que diz), Mário Soares (Soares é fixe gritaram os jotinhas do PSD), Augusto Santos Silva, Maria de Belém, Edite Estrela, Alberto Martins e todos aqueles outros, não deixam o mínimo espaço para qualquer renovação. Para além da impossibilidade de meter o Rossio na Betesga, o mesmo é dizer, conseguir qualquer avanço na diminuição das desigualdades e da construção de uma sociedade mais justa entre o espaço impossível do "acordado" com a Troika e o Troika +, com aquelas pessoas que por ali desfilaram teremos que pensar que ou arrumaram o socratismo a um canto de um dia para o outro e então assistimos a um milagre religioso de conversão na sua visão do mundo, ou então somos obrigados a pensar que o exercício de cosmética a que assistimos não passa disso mesmo, de um exemplar exercício de cosmética. O que dirá o novo líder do PS quando se chegar à conclusão que o austeritarismo da Troika (e não é do Troika + que falo) arruinou por décadas a capacidade do país construir o seu futuro? Nessa altura não vale a pena fazer de conta que não se "honraram os seus compromissos". É que a história não perdoa.
Sem comentários:
Enviar um comentário