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sábado, setembro 24, 2011

Notas De Mais Uma Semana Em Contexto de Austeristarismo Recessivo


1. Fui designado pelos pais da turma do Pedro para representar os encarregados de educação e os interesses das crianças. Nas escolas, mais concretamente nos orgãos de gestão mais diversos, abunda a incorporação de disposições austeritárias. O racíocinio dominante em vez de se orientar por valores pedagógicos de defesa incondicional de uma educação pública de qualidade orienta-se agora pela racionalidade do "é preciso cortar". A educação passa a estar legitimada por valores sacrificiais. Vai ser uma luta.

2. A imagem em cima foi divulgada esta semana pelo jornal Público. O artigo que fazia referência à imagem falava de mais austeridade a juntar à já brutal austeridade recessiva em que tem estado engrilhoada a Grécia e falava dos protestos da população Grega que não se conforma com o sangue retirado pelas sanguessugas. Nem uma única referência ao homem da foto que se imolava à maneira do tunisíno que provocou a explosão social que deu início às revoluções do mundo árabe. A pressão, vinda de todos os lados, para a inculcação do consenso austeritário, é brutal. O discurso dominante em Portugal, que nos diz insistentemente que Portugal não é a Grécia é um perfeito disparate. Em vez de se atribuir uma essência imutável aos povos, o que não passa de uma falácia, dever-se-ia procurar reconhecer as dinâmicas intrínsecas do capitalismo austeritário e lembrar de uma vez por todas que a Grécia é o berço da democracia e da civilização ocidental. Se querem a prova de que os gregos podem ser mais organizados, trabalhadores e eficazes do que os portugueses, revejam por favor, a final do campeonato da europa de futebol de 2004, em Portugal.

3. Esta semana o governo avançou com a facilitação dos despedimentos, pasme-se agora, por "incumprimento dos objectivos" no trabalho. A partir de agora, a relação de trabalho que sempre foi desiquilibrada em favor do patronato e em desfavor do trabalhador, passa a ser regulada pelo medo. A regressão no mundo laboral é brutal. Hoje soube-se que a remuneração do trabalho em horas extras e aos feriados vai ser paga a 50%. O avassalador ataque dos conservadores neoliberais aos direitos sociais conquistados com muito sangue, suor e lágrimas nas sociedades ocidentais está muito perto da instituição de um regime fascista.

4. Como escreveu esta semana Boaventura Sousa Santos na revista Visão, trata-se de um ataque feroz com o objectivo de desorganizar a democracia. Num país com uma democracia de baixa intensidade, deixamos de caminhar em direcção à necessária democratização da democracia e caminha-se agora a largos passos para a desmocratização da democracia. Irá o austeritarismo recessivo vencer a democracia? Em Portugal, configuram-se alguns cenários que vale a pena colocar em cima da mesa do espaço dos possíveis. O primeiro, a dolorosa saída do euro e o regresso a uma outra moeda que permita a sua desvalorização e uma efectiva política cambial que permita estimular as exportações. O segundo, de probabilidade quase impossível, a manutenção no euro e uma inversão de 180 graus nas políticas europeia e nacional orientadas actualmente pela lógica destrutiva do austeritarismo recessivo. O terceiro, a instauração de uma ditadura militar, à maneira do que já aconteceu noutros países em que as receitas do FMI fracassaram e os credores não quiseram ficar a perder. O quarto, não menos desastroso, uma revolução que não se sabe como pode acabar e que seria talvez um cenário tão desastroso como o anterior. Um outro cenário, que talvez valha a pena não deixar de lado como hipótese, é aprender o mais possível com o que se passou na Islândia.

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