1. Após seis anos de vida e de observação curiosa das crianças, outras, que brincam na rua, à porta de casa, o Pedro, um dia destes pediu-me para o deixar brincar na rua com os outros meninos. Um dilema na vida dos pais das cidades modernas. Como o espaço da cidade não é pensado na sua função social de espaço público, a zona onde moro, é marcada pela privatização do espaço, sem um único espaço público digno desse nome convidativo à produção de mixofilias. Prédios com muitos apartamentos, cercados de prédios, com muitos apartamentos. Um parque para os carros de residentes e outros transeuntes e passeios pedonais com a mera função de lugares fugazes de passagem. Muitos carros a circularem diariamente onde as crianças brincam e o dilema para os pais reside na permissão da brincadeira fundamental numa zona de elevado risco acidental.
2. Espaço verdadeiramente público com função produtora de convívio e aproximação social, nem vê-lo. Cada vizinho mora no seu buraco apartamental e a categoria de vizinhança é quase que imposta pela mera obrigação do bom dia ou boa tarde dos encontros furtivos de cada situação social. Se não há a construção política de um espaço público fazedor de mixofilias, há pelo contrário uma segmentação apartamental do espaço residencial produtor de mixofobias. Em cada vizinho habita um potencial estranho e em cada estranho um desconhecido habitual.
3. Desde que decidi irresponsavelmente permitir a brincadeira colectiva fundamental satisfazendo o apetite insaciável de mixofilia da criançada habitual, o Sacha (em português Alexandre) todos os dias vem bater à minha porta a perguntar se o Pedro pode ir brincar. O Sacha é, disse-me o Pedro, da Moldávia e com o Sacha o Pedro adora brincar. Estava a ler este fim de semana Zygmunt Bauman e a sua obra "Confiança e Medo na Cidade" e não pude deixar de reparar que para as crianças é muito mais "natural" a prática da mixofilia. É espantosa a facilidade das crianças fazerem conhecidos, ignorarem barreiras culturais e "étnicas" e partirem à aventura da brincadeira mesmo com desconhecidos que rapidamente se tornam "amigos".
4. Um dia o Sacha tocou à campainha da porta, abri e perguntei-lhe se queria entrar para fazer companhia ao Pedro. Respondeu-me o Pedro que não. Os pais do Sacha não queriam o Sacha na casa dos amigos. Compreendo os receios dos pais, mas não deixa de ser interessante como os adultos partem mais facilmente para relações mixofóbicas, de evitamento e de receio dos outros e do desconhecido. A mesma globalização que há porta de casa engrandece o Pedro e o Sacha é a mesma globalização que produz em cada vizinho, lado a lado, por vezes no mesmo prédio, estranhos desconhecidos de quem não hesitamos em nos proteger. A globalização à porta de casa. Tempos novos de um mundo por reinventar. E a reinvenção, política, deveria acontecer, sem hesitações, em direcção a mais mixofilia. É essa é a reinvenção que vale a pena inventar. Essa e só essa pode atenuar a tendência citadina crescente da mixofobia.
2. Espaço verdadeiramente público com função produtora de convívio e aproximação social, nem vê-lo. Cada vizinho mora no seu buraco apartamental e a categoria de vizinhança é quase que imposta pela mera obrigação do bom dia ou boa tarde dos encontros furtivos de cada situação social. Se não há a construção política de um espaço público fazedor de mixofilias, há pelo contrário uma segmentação apartamental do espaço residencial produtor de mixofobias. Em cada vizinho habita um potencial estranho e em cada estranho um desconhecido habitual.
3. Desde que decidi irresponsavelmente permitir a brincadeira colectiva fundamental satisfazendo o apetite insaciável de mixofilia da criançada habitual, o Sacha (em português Alexandre) todos os dias vem bater à minha porta a perguntar se o Pedro pode ir brincar. O Sacha é, disse-me o Pedro, da Moldávia e com o Sacha o Pedro adora brincar. Estava a ler este fim de semana Zygmunt Bauman e a sua obra "Confiança e Medo na Cidade" e não pude deixar de reparar que para as crianças é muito mais "natural" a prática da mixofilia. É espantosa a facilidade das crianças fazerem conhecidos, ignorarem barreiras culturais e "étnicas" e partirem à aventura da brincadeira mesmo com desconhecidos que rapidamente se tornam "amigos".
4. Um dia o Sacha tocou à campainha da porta, abri e perguntei-lhe se queria entrar para fazer companhia ao Pedro. Respondeu-me o Pedro que não. Os pais do Sacha não queriam o Sacha na casa dos amigos. Compreendo os receios dos pais, mas não deixa de ser interessante como os adultos partem mais facilmente para relações mixofóbicas, de evitamento e de receio dos outros e do desconhecido. A mesma globalização que há porta de casa engrandece o Pedro e o Sacha é a mesma globalização que produz em cada vizinho, lado a lado, por vezes no mesmo prédio, estranhos desconhecidos de quem não hesitamos em nos proteger. A globalização à porta de casa. Tempos novos de um mundo por reinventar. E a reinvenção, política, deveria acontecer, sem hesitações, em direcção a mais mixofilia. É essa é a reinvenção que vale a pena inventar. Essa e só essa pode atenuar a tendência citadina crescente da mixofobia.
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