O cu com as calças
"Espalhafatosamente, como quem enrola uma bola de penas de avestruz ao pescoço, Cavaco Silva promolgou o casamento Gay. Feito drama queen de primeira, anunciou que não queria, mas fazia, por causa da "situação dramática" do país. Porque não queria que os políticos se "desviassem". Cavaco não poderia ter sido mais gay, no bom sentido. Mais bottom do que top. É uma passividade que lhe fica bem. Aceita o que lhe é apresentado, mesmo a contragosto. Despacha o que tem a despachar e segue em frente. Foi rápido. O Papa deve ter levado as mãos à cabeça: "São incorrigíveis, estes portugueses. Pois se eu ainda agora lá estive..."
É uma questão de cores. Cavaco Silva acha que a coisa está preta de mais para perder tempo com coisas cor-de rosa. Veste a gravata cor de rosa porque é a que está mais à mão e está com pressa. Se fosse à procura da verde, de que gosta, chegaria atrasado à reunião para salvar o país.
O editorial do Público de ontem elogiava, com justiça, a sabedoria de Cavaco. Mesmo assim, ficou uma dúvida: se a economia portuguesa estivesse melhorzinha, poderíamos dar-nos ao luxo de continuar a proibir os casamentos gays? É que assim fica-se com a impressão que o descalabro financeiro acabou por ser bom para as pessoas gays. Para não dizer que se aproveitaram dele.
A verdade é que ser gay não tem nada a ver com estar pobre. Talvez seja mais dramático. Mas os casamentos gays são tão caros como os outros. E quem é que tem dinheiro para se casar?"Artigo de opinião de Miguel Esteves Cardoso. Público, 19 de Maio de 2010.
Nota: A foto foi copiada do blogue Calçadão de Quarteira.
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