Fragmento 1: A passagem do intelectual Papa Bento XVI, pelo Portugal à beira da bancarrota começou bem. Quando se assinalam os cem anos da República portuguesa, nada melhor do que citar o Cardeal Cerejeira como figura de referência nacional. Na semana em que o Benfica foi campeão nacional, com Eusébio ainda presente no estádio do glorioso, a visita do Papa Ratzinger a Fátima, não podia deixar de nos despertar as saudades de Amália.
Fragmento 2: O respeito que tenho por Manuel Alegre, impede-me de intitular um post começado por qualquer coisa que desconsidere Alegre. Por ser uma figura impar da cultura portuguesa, e esse motivo já me bastava, o título do post teria que ir parar a qualquer outra coisa como "Uma alegre cavaqueira". Alegre diz-se de "fora" quando está "dentro" e quer estar "dentro" dizendo-se de "fora". Não fazendo nem uma coisa nem outra, Alegre desperdiça o maior capital que poderia ostentar perante um possível seu eleitorado: O capital de convicção, que o mesmo é dizer, o capital de confiança. Acontece que depois de anos e anos a bater em Sócrates e nas suas políticas, ao aparecer depois, em véspera de eleições legislativas, em campanha por essas mesmas políticas, a Alegre resta-lhe o romantismo utópico de Dom Quixote de La Mancha.
Fragmento 3: Para o provinciano Cavaco de Boliqueime, estas eleições presidenciais vão ser, agora em sentido literal, uma alegre cavaqueira, se não mesmo, um autêntico, passeio dos alegres. Cavaco é um verdadeiro mistério da vida política nacional. Não dizendo nada sobre coisa nenhuma e pondo em risco a sua carreira política quando diz alguma coisa que saia fora da esfera do mundo da economia e das finanças, Cavaco vai estar no poder no pós 25 de Abril quase metade dos anos dos que estiveram destinados a António de Oliveira Salazar. Uma verdadeira proeza.
Fragmento 4: Ao reflectir sobre os anos de Cavaco no Poder não consigo deixar de pensar em Santana Lopes. A efemeridade no poder de Santana Lopes, ao contrário do que muita gente pensa, não teve que ver com política ou minimamente ideologia. Santana quis dessacralizar as instituições do poder. Em vez de vestir o fato "à medida" que lhe ofereceu o poder institucional, quis que o poder institucional criasse um facto à sua medida. Querendo fazer do cargo de primeiro ministro a casa da Joana, Santana não percebeu que se o homem pode fazer o fato, nas coisas do poder, o fato faz o homem. Isso explica a sobrevivência política longínqua de Cavaco. Cavaco limita-se a vestir o fato que as instituições políticas lhe servem. Ao vestir o fato institucional, Cavaco perpetua-se. O seu ajuste às instituições não precisa sequer de povo. Cavaco é um caso singular que mostra que se poderia governar sem povo. Um dia o país entrará em bancarrota e Cavaco vai continuar a apelar à estabilidade das instituições.
Fragmento 5: Com uma boa parte do mundo a passar por uma das maiores crises da história do último século, a direita conservadora, vem aí para comandar os destinos do mundo europeu. Depois de uns largos anos de socialismo de faz de conta, o socialismo tem os dias contados. Os neoliberais são tramados. Fazem a festa, atiram os foguetes e apanham as canas. Nada de bom se avizinha no futuro.
Fragmento 2: O respeito que tenho por Manuel Alegre, impede-me de intitular um post começado por qualquer coisa que desconsidere Alegre. Por ser uma figura impar da cultura portuguesa, e esse motivo já me bastava, o título do post teria que ir parar a qualquer outra coisa como "Uma alegre cavaqueira". Alegre diz-se de "fora" quando está "dentro" e quer estar "dentro" dizendo-se de "fora". Não fazendo nem uma coisa nem outra, Alegre desperdiça o maior capital que poderia ostentar perante um possível seu eleitorado: O capital de convicção, que o mesmo é dizer, o capital de confiança. Acontece que depois de anos e anos a bater em Sócrates e nas suas políticas, ao aparecer depois, em véspera de eleições legislativas, em campanha por essas mesmas políticas, a Alegre resta-lhe o romantismo utópico de Dom Quixote de La Mancha.
Fragmento 3: Para o provinciano Cavaco de Boliqueime, estas eleições presidenciais vão ser, agora em sentido literal, uma alegre cavaqueira, se não mesmo, um autêntico, passeio dos alegres. Cavaco é um verdadeiro mistério da vida política nacional. Não dizendo nada sobre coisa nenhuma e pondo em risco a sua carreira política quando diz alguma coisa que saia fora da esfera do mundo da economia e das finanças, Cavaco vai estar no poder no pós 25 de Abril quase metade dos anos dos que estiveram destinados a António de Oliveira Salazar. Uma verdadeira proeza.
Fragmento 4: Ao reflectir sobre os anos de Cavaco no Poder não consigo deixar de pensar em Santana Lopes. A efemeridade no poder de Santana Lopes, ao contrário do que muita gente pensa, não teve que ver com política ou minimamente ideologia. Santana quis dessacralizar as instituições do poder. Em vez de vestir o fato "à medida" que lhe ofereceu o poder institucional, quis que o poder institucional criasse um facto à sua medida. Querendo fazer do cargo de primeiro ministro a casa da Joana, Santana não percebeu que se o homem pode fazer o fato, nas coisas do poder, o fato faz o homem. Isso explica a sobrevivência política longínqua de Cavaco. Cavaco limita-se a vestir o fato que as instituições políticas lhe servem. Ao vestir o fato institucional, Cavaco perpetua-se. O seu ajuste às instituições não precisa sequer de povo. Cavaco é um caso singular que mostra que se poderia governar sem povo. Um dia o país entrará em bancarrota e Cavaco vai continuar a apelar à estabilidade das instituições.
Fragmento 5: Com uma boa parte do mundo a passar por uma das maiores crises da história do último século, a direita conservadora, vem aí para comandar os destinos do mundo europeu. Depois de uns largos anos de socialismo de faz de conta, o socialismo tem os dias contados. Os neoliberais são tramados. Fazem a festa, atiram os foguetes e apanham as canas. Nada de bom se avizinha no futuro.
Soberbo meu caro João!
ResponderEliminarEscrevi hoje algo sobre o tema... nada que se compare com a requintada prosa que aqui apresentas.
A substância, e é essa que interessa, coloca-nos em concordância. Em verdade, face à crise que alguns querem só nossa, há que encontrar modos novos de a superar que sejam anti-fatalistas, anti-liberais; anti-cavaquistas; anti-apalhetistas; etc...
Também acho que Alegre foi infeliz ao trazer, agora, à discussão, apenas, o seu passado militar!?!!!
Estúpido não entende que só é possível afirmar inteligência hoje, com soluções para as questões de agora, para isso pouco vale a história passada individual... Vai dar "armas" à direita mais caduca, militarista, colonialista?
É burro mesmo, além de caçador, amante de touradas e monárquico!!!
Vou em busca de "outro"!
Amigo Almeida,
ResponderEliminarBom feriado!
João Martins