A minha Lista de blogues

terça-feira, setembro 30, 2008

O capitalismo ao contrário: Pode o dinheiro do povo salvar a banca?

Congresso não aprova a salvação da banca pelo povo



O capital financeiro anda a circular pelo mundo completamente tresloucado. Ao gesto de um simples clique de um rato de computador, levantar enormes quantidades de dinheiro de uma instituição bancária, no Japão, na Grécia, ou em França e depositar grandes quantidades de dinheiro, segundos depois, no Panamá, na Suiça, ou nos off-shores da Madeira, tornou-se o acto mais vulgar e banal no mundo dos grandes investidores.

A economia financeira, anda completamente desgovernada (como opção política clara à escala internacional, há que dizê-lo) e sem qualquer ligação com a economia "real". Anunciam-se falências e as acções sobem na bolsa, despede-se em massa e as acções sobem na bolsa, inventam-se negócios fictícios e as acções sobem na bolsa, anucia-se a crise alimentar à escala mundial e as acções sobem na bolsa, anuncia-se o hiperendividamento das populações e as acções sobem na bolsa, contratam-se gestores das grandes empresas, com salários inimaginários e as acções sobem na bolsa. O mundo "virtual" fez esquecer o mundo "real" e descobrimos agora, estupefactos, com a crise do subprime nos EUA, que o mundo "real" não deixou de existir.

Nos últimos trinta anos o receituário neoliberal foi claro. Organização Mundial de Comércio, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, o FED dos EUA, o Banco Central Europeu e os Bancos Centrais nacionais do Ocidente, todos, mas todos mesmo, foram beber à mesma cartilha, qual livro único de um país ditatorial. Desmantelamento do Estado e livre iniciativa dos mercados. Crença exarcebada, qual dogma religioso, de que os mercados tendem para o "ajustamento perfeito", entregues a si próprios, sem qualquer tipo de regulação. Sansões e avisos para os governos que tenham o "atrevimento" de travar os negócios do capital à escala global. Redução abrupta nas "despesas" com a saúde, com a educação e nos apoios sociais, na generalidade dos países, com raríssimas excepções. Privatização do oxigénio e da água. Recusa de qualquer regulação dos mercados por parte do poder político. Crença no primado da economia e das finanças sobre a política. O dinheiro e os mercados como senhores do mundo.

O dogma da redução do défice, para níveis arbitrários, sem qualquer base científica credível, levou ao aumento da pobreza, da exclusão social e das desigualdades sociais à escala global e a um recuo claro nos direitos sociais, tão arduamente "conquistados" (sim conquistados e não adquiridos como enunciam hipocritamente os neoconservadores) pelas populações ao longo da história da humanidade, com muito sangue, suor e lágrimas. Regredimos socialmente por toda a Europa, na Saúde, na Educação, na Segurança Social, nos Direitos do Trabalho e do Emprego, na prática da Democracia e na Sustentabilidade Ambiental. O planeta e uma boa parte da sua biodiversidade está em risco.

Margaret Teacher, a conhecida "dama de ferro" e uma das profetas contemporâneas do neoliberalismo, chegou ao poder nos anos 80 do século passado e afirmou taxativamente que só existiam "indivíduos" e não existia isso da "sociedade". Ronald Reagan defendeu que os governos não se deviam meter "nisso" a que todos hoje chamamos "economia" (como se existisse economia separada da sociedade). O Deus Mercado ganhou, portanto, o estatuto de Zeus no Olimpo e a Intervenção Estatal o rótulo do Demónio.

A injecção massiva de capital por parte do Estado, nos EUA e na Europa, na banca e nos seguros, a nacionalização de algumas grandes instituições financeiras, a nacionalização do "prejuízo", como alguém lhe chamou, cá pelas nossas paragens, é uma das maiores ironias do nosso tempo.

Não deixa de ser irónico que não exista dinheiro para manter unidades de saúde no interior do país abertas. Não deixa de ser irónico que não exista dinheiro para investir no ensino superior e na educação em geral. Não deixa de ser irónico que não exista dinheiro para dar dignidade às miseras pensões de reforma que a nossa população usufrue. Não deixa de ser irónico que não exista dinheiro para "descongelar" os salários da função pública e para elevar o mísero salário minímo nacional. Não deixa de ser irónico, os milhares de milhões que rapidamente aparecem para salvar o grande capital das grandes asneiradas que por aí andou a fazer e que rebentou com as instituições. Não deixa de ser irónico...apesar de, se calhar, ter mesmo que ser necessário, sob pena de corrermos o risco de batermos no fundo.

Regulação política precisa-se...e novos agentes políticos também. O endeusamento do mercado já mostrou no que dá...e de certeza que não dá razão aos Pedros Passos Coelhos que por aí abundam. O ministro Pinho parece que descobriu hoje isso.



1 comentário:

  1. Quando o sector bancário dá lucros fabulosos o dinheiro reverte a favor dos capitalistas; quando há falência o sector é salvo pelo dinheiro dos contribuintes...incluindo aqueles que nunca tiveram possibilidades de poupar um centavo...
    Onde está a moralidade?

    ResponderEliminar