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quinta-feira, setembro 18, 2008

Do socialismo de rosto pragmático

As Novas Fronteiras não foram uma táctica eleitoral...



José Sócrates, provavelmente cansado das acusações de autoritarismo e de grande promotor da "claustrofobia democrática", recuperou o "debate" interno no interior do partido que se diz socialista e procura também o apoio dos "independentes" numa clara demonstração de "indole democrática" e de abertura do partido à sociedade. As eleições aproximam-se. É preciso abrir Novas Fronteiras e diminuir as fronteiras do agravamento das desigualdades sociais, presumo eu.

Vai daí e juntou as tropas nas suas diversas facções do interior do partido, para ilustrar a pluralidade de ideias e causas que abundam no mesmo. A Fundação Res Pública junta assim a «esquerda democrática, o trabalhismo e a democracia liberal», «a esquerda moderna, o socialismo e a social-democracia» e o «centro-esquerda», representados por Augusto Santos Silva, António Vitorino e José Sócrates. Num exercício tão doloroso quanto estenuante para descobrir as diferenças destas três facções do partido só descobri semelhanças. Crença no neoliberalismo económico, actualmente em riscos de falência como ideologia hegemónica à escala global, excesso de pragmatismo, elevada dose de tecnocracia e adesão incondicional à ideologia do fim das ideologias. De uma verdadeira cultura de debate democrático só uns ligeiros restos de ADN. Imagino que Manuel Alegre e Helena Roseta ficarão para aí situados à esquerda da extrema esquerda.

Na abertura do Forum Da Grande Discussão Democrática, Sócrates, fez questão de mostrar ao que vinha e as suas nobres afirmações democráticas logo indiciaram o que toda a gente já sabia. Disse o grande Líder da Nação: "Quem acha que pode fazer política de forma negativa, apenas dizendo mal e entregando-se à maledicência, verdadeiramente não está com vontade de servir a política, nem de servir o seu País".
Ora aqui está a essência do verdadeiro democrata. Sem maledicência, que é assim que se deve estar na política. Desde que todos concordem com as ideias do Grande Líder, claro está.

Em dia próximo a este grande acontecimento para a nação do socialismo de rosto pragmático, saiu a lei que regula os despedimentos na função pública. Um dos muitos motivos que pode levar ao despedimento de um funcionário é a "prática de actos ofensivos das instituições e a princípios constitucionais". Alguém me pode dizer onde começam os actos ofensivos das instituições e se a crítica política entrará neste mundo? Esta frágil e perigosa fronteira para a democracia terá sido alvo de discussão nas Velhas Novas Fronteiras? Se algum dia um funcionário público lhe ocorrer dizer que os sistemas de Saúde ou de Justiça, só para dar um exemplo, são socialmente injustos, ou por acaso, algum professor do secundário voltar a gritar que "está na hora, está na hora, da ministra ir embora" isso caberá no domínio das ofensas e da maledicência que o poderão levar ao despedimento? Era importante que isto fosse esclarecido...

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