A globalização neoliberal entranha-se nos corpos como o fundamentalismo religioso se entranha nas mentes.
A doutrina ideológica que defende, menos Estado, melhor Estado, e o livre funcionamento do mercado com o minímo residual de entraves políticos à economia, como forma da busca do "interesse geral", tem permitido a uns poucos interesses poderosos apoderar-se de uma boa parte da riqueza mundial.
A aprovação de mais uma empresa transnacional no concelho de Loulé vem contribuir para o agravamento da crise do já moribundo comércio local.
Noites Brancas, mercadinhos, música em alto e bom som, inclusivé aos Domingos, palhaços, marabilistas, acordeonistas, passadeiras vermelhas, tornam-se ridículos, quando de seguida se aprova mais um Hipermercado de grandes dimensões, neste caso, o Carrefour Continente.
É claro que todos os munícipios devem procurar atrair investimento externo. Mas podemos questionar. Será todo e qualquer tipo de investimento é benéfico para o concelho de Loulé?
Houve um estudo de impactos sociais antes da aprovação deste novo hipermercado? Os novos empregos criados vão compensar o emprego destruído?
O pequeno comércio é ou não considerado vital ao tecido social da cidade de Loulé? O interesse geral não é por vezes uma operação de nomeação que esconde verdadeiros benefícios só para alguns?
Não dúvido das boas intenções e da bondade religiosa de quem decide destas questões. Mas a realidade social não será tão complexa e algumas das medidas tomadas não estarão eivadas de interesses altamente contraditórios e isso não levará a termos que escolher de que lado nos situamos, sabendo que se optarmos em favor de determinados interesses económicos e sociais prejudicamos outras categorias socio-económicas da população?
Serão os interesses das grandes multinacionais os mesmos que os dos pequenos comerciantes das pequenas cidades da província?
E que sentido fazem os mercadinhos, festivais e arraiais para atrair gente para o pequeno comércio quando depois se opta claramente a favor dos grandes interesses económicos?
Parabéns à cidade pelo prémio do Mercado Local, é pena que se esqueça a vida de quem lá trabalha quando se tomam depois decisões que penalizam fortemente as famílias populares que vivem dos pequenos negócios.
Abraços alternativos
Olá João.
ResponderEliminarO comércio, grande cartaz da cidade durante décadas e décadas, há muito que está moribundo sobretudo devido à mentalidade de muitos dos seus agentes.
Um comércio que não se adequou aos novos desafios e o pouco que o fez, foi em grande parte à custa de subsídios.
Um ou outro comerciante mais afoito arriscou e venceu.
A Câmara lá vai tentando com as suas técnicas de marketing mas sem grandes resultados.
Sou consumidora e frequento algumas das lojas do dito comércio tradicional e verifico com pena que o atendimento continua como há trinta anos atrás, salvo a simpatia e o relacionamento por conhecimento pessoal.
Neste último Natal como no do ano passado, assisti a lojas com a iluminação das montras desligadas às 22 horas.
Continuam impávidos e serenos, depois queixem-se.
Desculpe discordar um pouco dessa visão contestatária às inovações das grandes superfícies mas como estou escaldada com o que tem sido o "costume", aqui fica este meu desabafo.
Cumprimentos.
Concordo com a análise do João Martins. A proliferação de grandes superfícies tem sido um exagero. A cidade de Loulé vai ficar descarecterizada. Vamos assistir a romarias, especialmente ao Domingo, de famílias inteiras até ao "Continente". Não seria mais útil e mais saudável um passeio até ao abandonado "Parque Municipal"?
ResponderEliminarÉ fácil dizer que os comerciantes tradicionais não souberam adaptar-se às exigências dos consumidores. Alguns, efectivamente, pararam no tempo. Mas tem havido muitos outros que têm lutado para mudar o rumo aos acontecimentos só que com armas desiguais em relação às grandes superfícies. Aponto dois exemplos: Os horários e a falta de estacionamento.
Ainda que possa acreditar-se que por exemplo nos hipermercados sitos nas grandes superfícies os produtos são mais baratos não podemos esquecer que devido a técnicas utilizadas os consumidores compram produtos por impulso.
ResponderEliminarUma dessas técnicas é organizar e dispor os produtos nas prateleiras, especialmente aqueles que oferecem maior margem de lucro ou os que têm maior volume de vendas, colocando-os ao nível do olhos ou das mãos. Especialmente as crinças são muito influenciadas por essa técnica. Portanto os consumidores acabam por gastar mais do que aquilo que inicilamente pensavam.
Uma boa maneira de evitar o consumo desnecessário é fazer uma lista daquilo que precisamos e segui-la rigorasamente.
Um abraço ao Jorge. Palpitei que vinha encontrar aqui um comentário dele.
Penso que o Carrefour de Portugal foi adquirido na totalidade pela Sonae (Continente).
ResponderEliminarAgradeço ao João Martins que indique em que parte de Loulé ficará situada esse Centro Comercial.
Obrigado.
Adorável Camila,
ResponderEliminarDa discussão por vezes nasce a luz. Desta vez discordo de sua excelência, o que como sabe não é problema algum, pois o verdadeiro problema seria estarmos sempre de acordo. Seria um tédio. Ora ao contrário do que diz a Camila, não faço qualquer "contestação" aos hipermercados, pois acho que devem ter o seu espaço nas sociedades locais. O que discordo profundamente é da elevada concentração de grandes espaços comerciais na região o que em minha opinião é altamente denoso para a economia local.
A opinião da Camila sobre este assunto parece-me enviesada pois aquilo que faz é tratar as "vítimas" como "culpados".
É claro que muitos dos pequenos comerciantes têm "resistências" à modernização do comércio, mas também é verdade que mesmo os mais inovadores são autênticos heróis que lutam pela sobrevivência numa luta extraordináriamente desigual.
Concordo com o Jorge e agradeço as dicas o Marcelo.
A localização do Continente adquirido recentemente pela SONAE é junto à circular de Loulé e rotunda do Alto do Relógio, na freguesia de São Clemente.
Área de implantação: 6160 m²
Área de vendas: 4500 m²
Estacionamento: 298 lugares
Cais de descarga: 2578 m² com capacidade para 8 viaturas tipo camião TIR.
Abraços alternativos
Lá volto eu a incomodar o meu amigo João.
ResponderEliminarUma cidade comercial que vive aos sábados em função do mercado dos ciganos e se revolta com a instalação de uma nova superfície comercial devidamente legalizada, faz-me um pouco de confusão mas isto se calhar é por ser loira.
Muitos odeiam o mercado semanal mas todos o querem por perto e aí as autarquias sempre dão uma ajuda escolhendo os locais estratégicos, sejam eles ao nível do estacionamento, como definindo o circuito dos turistas.
Espaços abertos onde se praticam as maiores ilegalidades e onde a concorrência é dos mais desleal que existe neste País.
Pois...tenho mesmo que mudar a coloração da cabelo...
;)
Cara Camila, não incomoda nada. Está apenas confundir o pequeno comércio com o "mercado dos ciganos", expressão aliás infeliz porque de contornos algo xenófobos.
ResponderEliminarEstas pessoas têm estatuto de cidadãos ou de "quase cidadãos"?
Olhe, fazem parte dos vinte milhões de pobres que envergonham Portugal na Europa e que deixam o presidente Cavaco "indignado".
Votos de bom fim de semana e boas arrumações domésticas!
Deve ser lapso do João Martins quando se refere a vinte milhões de pobres que envergonham Portugal na Europa. Portugal tem um pouco mais de dez milhões de pobres.
ResponderEliminarO mercado dos ciganos indirectamente acaba por ajudar o comércio tradicional local, a restauração da cidade e tornar a cidade de Loulé mais conhecida dos turistas estrangeiros que nos visitam. E não por um mau motivo... Nem tudo o que lá se encontra é ilegal. E, a existir produtos ilegais, cabe às autoridades pôr fim a essa situação.
Eu próprio cometi uma gaffe: queria dizer que Portugal tem pouco mais de dez milhões de habitantes...
ResponderEliminarCorrijo Jorge: perto de 20% da população em situação de pobreza (18% para ser mais preciso)o que signifiva perto de milhões de pobres. Agradeço a dica. Os blogues prestam-se a estas imprecisões pela imediatez das opiniões.
ResponderEliminarAproximadamente 2 milhões de pobres
ResponderEliminarObrigado ao Jorge
Bem... dois milhões de pobres não é nada hehehe. Afinal não são assim tantos quanto isso.
ResponderEliminarBom fim de semana!
...Apenas para esclarecer que não existe qualquer propósito xenófobo na designação por mim adoptada relativamente ao mercado de levante ou a céu aberto porque é assim mesmo que tradicionalmente é conhecido.
ResponderEliminarTambém não pretendo confundir aquele tipo de comércio com as actividades estabelecidas.
Cumprimentos.
Camila: é um facto que o mercado é conhecido como o mercado dos ciganos. Mesmo internacionalmente...Mas a forma como escreveu podia levar a crer que vc tinha preconceitos "xenófobas". Felizmente vc veio nos esclarecer...A lingua portuguesa é muito traiçoeira...
ResponderEliminarOlá,
ResponderEliminarConfrontei-me com estas opiniões sobre a abertura do novo espaço comercial na nossa cidade e partilho da opinião que estas grandes superfícies, de certa forma, sufocam o comércio tradicional. No entanto, este comércio tradicional também já nos sufocou, a nós consumidores, ao longo dos anos em que não existiam as grandes superfícies. Sou de Loulé e recordo-me perfeitamente que, em muitas das lojas que ainda hoje existem, eu simplesmente não entrava porque não tinha recursos económicos para aceder ao que lá se vendia. Se realmente alguém vai perder, serão aquelas pequenas lojas que abriram num passado recente e que não são assim tantas.
Os senhores do comércio tradicional de Loulé, vão continuar a sobreviver porque certamente conseguiram fazer umas poupanças.
Mais grave e espero não ser considerada xenófoba, é abertura indiscriminada das chamadas lojas de chineses, que para além de disvirtualizarem a nossa avenida com aqueles balões pendurados, vendem produtos de má qualidade mas que todos nós compramos, não aceitam reclamações quando o produto não presta e têm funcionários aos quais nem fazem contratos e exploram.
Estes espaços, na minha opinião, não deveriam ter autorização para abrir nas condições em que abrem. Não tenho nada contra pessoas chinesas mas tenho contra a forma como se estabelecem e trabalham. A abertura do Continente, não me choca e tal como as lojas de chineses, só lá vai quem quer. E o facto de irem famílias inteiras passear ao Domingo ao Continente e não irem ao parque, passa por uma nova forma de estar da qual também só partilha quem quer. Ir ao parque até é aborrecido e ninguém nos vê, eu sei do que falo, porque sou frequentadora assídua e apenas lá andamos "uns quantos" a correr ou a marchar à volta.
Se calhar também deveria ir para as lides domésticas em vez de estar aqui a escrever estas linhas.
M